BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro reafirmou, nesta sexta-feira, 20, que não existem problemas na relação entre o governo brasileiro e o chinês. A declaração, dada em uma videoconferência com empresários, vem na esteira de uma crise diplomática causada por uma postagem do deputado federal e filho do presidente, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
"Não existe uma palavra contra a China desde que assumi o governo. Nosso relacionamento com Xi Jinping está excepcional, talvez até ligue para ele", afirmou o presidente.
Pela manhã, o presidente já havia negado problemas com a China e disse que poderia ligar para o presidente chinês, Xi Jinping, para colher experiências de combate ao novo coronavírus.
"Eu cometi algum crime? Fiz alguma acusação? Me responda. Por que você não pede desculpa então? O governo brasileiro está muito bem com a China", afirmou o presidente a jornalistas na saída do Palácio da Alvorada.
Eduardo publicou, na quarta-feira, 18, um tuíte em que acusou a China de ter escondido informações sobre o início da pandemia do coronavírus. "A culpa é da China e liberdade seria a solução", escreveu o deputado.
Quem assistiu Chernobyl vai entender o q ocorreu.Substitua a usina nuclear pelo coronavírus e a ditadura soviética pela chinesa
+1 vez uma ditadura preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste,mas q salvaria inúmeras vidas
A culpa é da China e liberdade seria a solução https://t.co/h3jyGlPymv
— Eduardo Bolsonaro (@BolsonaroSP) March 18, 2020
A publicação começou a repercutir na noite de quarta-feira, quando o embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, respondeu as acusações de Eduardo. Wanming exigiu a retirada imediata das palavras do deputado e um pedido de desculpas ao povo chinês.
Minutos depois, foi a página da Embaixada da China no Brasil que passou a cobrar explicações de Eduardo. Um tuíte publicado afirmava que Eduardo, ao voltar dos Estados Unidos, contraiu um "vírus mental" que está "infectando a amizade" entre os povos.
@BolsonaroSP As suas palavras são extremamente irresponsáveis e nos soam familiares. Não deixam de ser uma imitação dos seus queridos amigos. Ao voltar de Miami, contraiu, infelizmente, vírus mental, que está infectando a amizades entre os nossos povos.
— Embaixada da China no Brasil (@EmbaixadaChina) March 19, 2020
A China é o principal parceiro comercial do Brasil. Só em 2019, o país asiático comprou US$ 65,4 bilhões em produtos brasileiros.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ainda na madrugada de quinta-feira, 19, publicou desculpas à China e ao embaixador Wanming em nome da Casa. Maia chamou as afirmações de Eduardo de "irrefletidas".
Em nome da Câmara dos Deputados, peço desculpas à China e ao embaixador @WanmingYang pelas palavras irrefletidas do Deputado Eduardo Bolsonaro.
— Rodrigo Maia (@RodrigoMaia) March 19, 2020
O vice-presidente do Senado, Antonio Anastasia (PSDB-MG), encaminhou um ofício ao governo chinês pedindo desculpas, sem mencionar diretamente o comentário de Eduardo.
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, saiu em defesa de Eduardo e afirmou que a posição do deputado não reflete a do governo brasileiro. Declarou também que a reação de Wanming foi "desproporcional" e feriu "a boa prática diplomática", e que aguardaria uma retratação do embaixador da China.
Sobre postagens recentes e a relação Brasil-China: pic.twitter.com/8jxfYoBaQy
— Ernesto Araújo (@ernestofaraujo) March 19, 2020
Diante das críticas, Eduardo Bolsonaro publicou uma nota em que disse que jamais ofendeu o povo chinês e que o Brasil não quer problemas com o país asiático.
"Jamais ofendi o povo chinês", escreveu Eduardo. "Esclareço que compartilhei postagem que critica a atuação do governo chinês na prevenção da pandemia, principalmente no compartilhamento de informações que teriam sido úteis na prevenção em escala mundial."
NOTA OFICIAL SOBRE AS CRÍTICAS DA EMB. CHINA AO MEU RETWITE
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Jamais ofendi o povo chinês, tal interpretação é totalmente descabida. Esclareço que compartilhei postagem que critica a atuação do governo chinês na prevenção da pandemia, ... pic.twitter.com/zAal6YIUWR
— Eduardo Bolsonaro (@BolsonaroSP) March 19, 2020