Operação da PF Rosa Parks talvez não aconteceria em um governo de extrema direita

Entre Lula e o bolsonarismo há um abismo por mais que muitos da esquerda critiquem pontualmente o atual presidente

26 set 2025 - 16h51
(atualizado às 16h54)
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Foto: (Reprodução/X) / (Reprodução/X)

Nessa semana o estudante de medicina da UFRR Fábio Felipe dos Santos Nogueira, de 24 anos, foi alvo de um mandado de busca e apreensão da Polícia Federal, acusado de comportamentos racistas e homofóbicos correntes na internet. Segunda a PF pelo menos 45 mensagens atacando diversas minorias. Ao ser questionada a mãe de Fábio falou que tinha o direito à privacidade e pontuou que o filho é autista. Ele foi afastado do curso no quinto ano da graduação e seus próprios colegas já tinham denunciado Fábio por falas criminosas e discurso de ódio durante as aulas. No antigo Twitter o rapaz tem diversos posts preconceituosos onde também insulta religiões de matriz africana e mulheres. Quando foi afastado do curso ele salientou que está no espectro autista, que está tratando e que isso tem o ajudado a lidar com seus impulsos e com a forma de se expressar.

Lula tem sido alvo de várias críticas da esquerda, muitas delas com total razão, sobretudo do ponto de vista técnico. Contudo é sabido que a política brasileira não é tão simples. Não é chegar lá e impor o que acha correto. Tem todo um congresso, os poderes têm autonomia e nada é decidido de maneira arbitrária por simples desejo do presidente da república. Dá sim para chamar o governo do PT de centro, dá para questionar algumas decisões na economia, mas dá também para entender que dentro de uma democracia burguesa, onde as regras da política são pensadas para que nada fuja muito do enriquecimento dos grandes empresários, um governo que se apresenta como de esquerda pode influenciar decisões que beneficiam minorias e reduzir alguns abismos sociais. Lula é muito habilidoso nesse sentido, e por mais que muitas decisões do seu governo não sejam determinadas por ele, sua presença faz com que alguns órgãos alheios ao seu comando direto, ajam de forma congruente ao que pensa o presidente.

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Partindo do ponto de que o presidente interfere direta, ou indiretamente, em órgãos federais fica ainda mais nítida a atuação da polícia federal nesse caso. Para muitas pessoas crimes de ódio são coisas menores ou meras brincadeiras que não deveriam ser levadas a sério. Difícil imaginar uma operação dessa magnitude com foco em um homem de 24 anos que era abertamente racista nas redes sociais. Uma operação como essa seria lida como gasto de tempo e de dinheiro desnecessário. Com isso não estou dizendo que Lula e, sobretudo, o governo do PT são altruístas, é claro que eles sabem que tem um eleitorado que irá repercutir essas ações e que esse tipo de operação afaga uma parte dos eleitores de maneira direta. Assim como teriam formas melhores e eficazes de fazer operações nesse sentido, como por exemplo o crescimento de núcleos neo nazi nos últimos anos, mas com isso mexeria com uma quantidade maior de pessoas e isso poderia ser menos lucrativo politicamente.

A gente não pode romantizar a política brasileira. Achar que ao colocar um presidente revolucionário tudo irá mudar, tudo será expropriado e o Brasil será pensando em prol do povo. Fato é que o jogo político é complexo e nem sempre um estudioso, intelectual dará conta das complexidades que o jogo impõe. Lula é a melhor figura para deslizar entre todos esses interesses e por mais críticas que possam recair sobre ele, ninguém fez pelas minorias como ele. Houve pressão dos movimento negro? Com toda certeza, mas sem alguém minimamente empático para assinar os projetos sociais que interferem diretamente na população negra como as cotas sociais/raciais e indiretamente como bolsa família, prouni e fies, estaríamos em um Brasil ainda mais desigual e falando sobre a criação de projetos e não sobre ampliá-los.

Fonte: Luã Andrade As opiniões do colunista não representam a visão do Terra.
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