No dia 10 de agosto de 2025, o Brasil celebra o Dia dos Pais, uma data que muitas vezes é polêmica por conta da quantidade de homens que se ausentam de suas responsabilidades paternas. Não que a maioria dos homens não seja pai, mas sim porque a maior parte dos abandonos parentais é protagonizada por figuras masculinas, sobretudo quando essas são cisgêneras. Gosto de salientar isso para também reconhecer os homens que abraçaram os desafios da paternidade com hombridade, fazendo por seus filhos o que deveria ser regra.
Acredito que a paternidade é uma construção múltipla. Não existe uma fórmula mágica, até porque existem formas diferentes de amar, traumas diversos e construções de identidade completamente distintas. Dentro dessas nuances, jamais poderemos presumir que os atravessamentos de um homem branco, hétero, cis e rico serão iguais aos de um homem negro e periférico. Ambos podem ser ótimos pais, mas suas visões sobre a paternidade podem diferir, especialmente em função dos desafios que enfrentam enquanto indivíduos.
Indo para a primeira pessoa, para mim, a paternidade é uma jornada de cura. Sendo um bom pai presente, trato os meus traumas de abandono paterno. Para uma pessoa que foi vítima de violência do pai, ser um bom pai pode significar não bater. Para outra pessoa, cujo pai trabalhava muito, ser um bom pai pode significar dedicar tempo de qualidade. Já para alguém cujo pai era um dependente financeiro, ser um bom pai pode significar prover o que não foi possível fornecer aos seus próprios filhos.
Todo pai terá seus acertos e erros. A perfeição não existe, e persegui-la é uma utopia que faz mal à mente. Todos os pais deixarão marcas ou traumas nos filhos. Provavelmente, onde um pai errou com seu filho, esse filho, ao se tornar pai, tentará acertar com sua cria. Por outro lado, nos acertos, poderá haver falhas futuras. E tudo bem. As pessoas erram, muitas vezes com as melhores intenções. O que realmente importa é a presença, a participação, o afeto e o companheirismo. Cada um cria e exerce a paternidade no seu jeito, mas é imprescindível que seja uma paternidade ativa.
Ninguém é obrigado a prestigiar um homem apenas porque ele foi genitor. Digo isso porque a lógica cristã que molda nossa sociedade frequentemente impõe o perdão a todo custo, além de "divinizar" a figura do pai — possivelmente pela identificação com a figura de Deus na tradição cristã. Assim, se um pai some durante 10 anos, você "precisa" aceitá-lo de braços abertos, porque ele lhe deu a vida. Mas que vida? A vida não se resume ao biológico. A existência de um bebê demanda cuidado, alimentação e higiene. Engravidar e abandonar não é dar vida. Assim como ser pai não é apenas fecundar um óvulo. Ser pai é comprometer-se com o bem-estar da criança, ser responsável pelo desenvolvimento do ser humano, cuidar de suas emoções e prover na medida do possível — e, às vezes, até do impossível.
Deixando as romantizações de lado, genitores ausentes devem, sim, ser cobrados. Entendo quem substitui essa figura e presenteia a mãe, o avô, o tio ou qualquer outra pessoa que tenha ocupado emocionalmente o lugar do pai. Eu mesmo já desejei muitos "Feliz Dia dos Pais, mãe". Também acredito que o Dia dos Pais e o Dia das Mães têm diferenças marcantes. Enquanto o Dia das Mães frequentemente carrega os pesos da maternidade solo, da sobrecarga e do machismo, o Dia dos Pais é muitas vezes associado a pais ausentes, relapsos e negligentes. É como se o Dia dos Pais fosse uma data tanto para celebrar quanto para cobrar e conscientizar aqueles que negligenciam o papel de pai.
Por fim, fazer filhos é fácil, prazeroso e, na maioria das vezes, rápido. Mas cuidar de uma criança é difícil, exige compromisso e é uma missão duradoura. A compreensão de pai e paternidade não está atrelada ao "fazer", mas ao "criar". É no cuidado que reside o verdadeiro valor desse título. Se você tem um filho e não sabe se é genitor ou pai, tenho uma péssima notícia para você.