Afro Esporte: racismo afasta patrocínio de atletas negros

Fundado por Mia Lopes, projeto faz gerenciamento e curadoria de carreira de atletas negros a fim de prepará-los para o mundo esportivo

15 jun 2022 - 10h10
(atualizado às 10h34)

Na live da semana do Papo de Mina, a entrevistada Mia Lopes, jornalista de Salvador-BA, mulher negra, lésbica e CEO do Afro Esporte, conta sobre o surgimento da plataforma, a primeira que realiza criação e curadoria de conteúdo e gerenciamento de carreira de atletas negros, negras e LGBTQIA+, a fim de resgatar sua história e valorizar jovens de periferias e projetos sociais.

Mia Lopes é fundadora e CEO do Afro Esporte Foto: Reprodução/Instagram
Mia Lopes é fundadora e CEO do Afro Esporte Foto: Reprodução/Instagram
Foto: Reprodução/Instagram

O Afro Esporte iniciou do sentimento de que as histórias dos atletas negros precisavam ser contadas. Mia decidiu criar um conteúdo dentro da página que já possuía, o Afro Esporte, e começou contando a carreira de atletas como Serena Williams, Justin Fashanu e outros atletas brasileiros. Assim, o Afro Esporte foi crescendo cada vez mais até se tornar uma iniciativa independente, sempre com o objetivo de ser um conteúdo independente que contasse histórias sem romantizar o sofrimento e trabalho que os esportistas negros precisavam realizar para conseguir se sustentar no esporte.

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Para Mia, a cor é o fator primordial para a falta de desenvolvimento na carreira, já que atualmente as marcas se preocupam com seguidores, influência nas redes sociais e perfeição nos conteúdos preparados para as mídias. Pensando nisso, o Afro Esporte também se preocupou com gerenciamento de carreira dos atletas, suporte de treinamento e formação voltado para produzir conteúdos voltados para o público que anseia ver seu desempenho, não a perfeição nas mídias.

“Só que quando você vai ver quem é o atleta que tem uma equipe, um iPhone 12, que tem um time gerenciando a carreira dele e o atleta que não tem, qual que é a diferença? A cor. Porque o atleta que tem uma equipe estampa bem a marca, já o negro tem uma internet ruim, não tem um celular bom, não tem conhecimento”, diz.

No cenário das mulheres então, Mia expõe que a situação só piora. As oportunidades são menores e carregadas de preconceito, machismo e traz um histórico de ver a imagem da mulher negra servindo e não alcançando pódios e outras situações de poder.

Por mais que o assunto principal do Afro Esporte sejam questões raciais, o movimento também passou a dar atenção diferenciada a pautas de gênero e do público LGBTQIA+, com respeito a valorização às mulheres, que desde o início tiveram a cobertura das Olimpíadas com uma equipe totalmente feminina, e não deixaram de se atentar a enfatizar o público LGBTQIA+ quando perceberam que muitas marcas falam de diversidade, mas não queriam estar associadas a isso.

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Um cuidado de Mia é conscientizar os atletas de se verem e serem como marcas. Ela observou que muitos voltavam de Olimpíadas e precisavam realizar outros trabalhos para se manterem financeiramente como vender rifas, trabalhar como motoristas de aplicativos, como faxineiras, cuidadoras de crianças e alguns até venderam suas medalhas para ter uma renda.

"Eu não posso deixar que esse atleta dependa exclusivamente de achar um patrocínio. Eu preciso mostrar para esse atleta que ele é uma marca e ele pode gerar rendas e oportunidades. O primeiro consumidor do atleta é sua comunidade. Então assim como ele está movimentando toda essa participação com patrocínios locais, ele também pode gerar renda e as pessoas vão pagar, porque se sentem representada”, explica.

O Afro Esporte também considera importante a formação política do atleta, orientando para que ele possa mostrar seus bons resultados no esporte e manter uma coerência nas mídias sociais, sem compartilhar conteúdos racistas, machistas, homofóbicos ou que reproduzem alguma violência. A organização traz treinamentos sobre conteúdos específicos, entrevistas, treinamento de oratória, formação financeira e empreendedorismo.

Mia também criou um recurso facilitador, o Mapeamento Afro Esporte, que reúne informações de grupos de pessoas pretas que praticam diversas modalidades e dá a oportunidade de que cada interessado possa escolher o grupo que mais tem afinidade e praticar um esporte onde se sinta pertencente. Atualmente são 14 coletivos que treinam surf, ciclismo, games, yoga, futebol, corrida e outras modalidades.

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Mapeamento traz informações de grupos de pessoas negras que praticam diversos esportes
Foto: Reprodução/site Afro Esporte

No futuro, Mia pretende expandir trazendo pessoas com deficiência e nordestinos para integrar os conteúdos, poder ter um equilíbrio e dar voz a todas as minorias, realizar uma parceria para oferecer bolsas de estudos de inglês para os atletas e ampliar o mapeamento, mostrando informações de grupos por cidade.

"Tem gente que ainda acredita que o racismo não existe, então se a gente não debater que o racismo existe, se esses episódios não motivarem alguma transformação, vai continuar acontecendo. E em um país que vem de um racismo tão velado, como o Brasil, conter a presença de pessoas pretas é uma estratégia", finaliza, pedindo mais debates, ações e campanhas dentro das torcidas para combater o racismo.

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