Poucas franquias de tiro marcaram tanto o início dos anos 2000 quanto Painkiller. Conhecida pelos combates acelerados, armas insanas e hordas de demônios, a série volta agora em um reboot que tenta equilibrar a nostalgia com a nova geração de jogadores.
Desenvolvido pela Anshar Studios, o novo Painkiller busca reviver o espírito caótico do original, com uma campanha reformulada e foco no modo cooperativo online. O resultado entrega um espetáculo visual e uma jogabilidade sólida, mas nem tudo consegue atingir o mesmo impacto do passado.
Reboot da série
Em Painkiller, a história gira em torno de um grupo de guerreiros escolhidos para enfrentar o caos que ameaça o equilíbrio entre o Céu e o Inferno. O papel principal dessa missão pode ser entre Ink, Void, Sol ou Roch, cada um com sua própria forma de lutar e encarar o destino. Presos no Purgatório após desafiar o Paraíso, nossos protagonistas recebem uma segunda chance da própria Voz do Criador. Nossa missão é bem clara: impedir a todo custo que o anjo caído Azazel liberte seus exércitos demoníacos sobre a Terra, incluindo seus três filhos monstruosos, os Nefilim.
No papel, a trama é bem diferente dos outros Painkiller e pode até parecer que tem um enredo interessante, mas acaba ficando só nisso mesmo. Por não conseguir encontrar ninguém para jogar no modo online, acabei optando por jogar offline, o que felizmente é possível. Jogando solo, deu para perceber o quão fraca é a campanha, com missões rasas e poucas fases, o que afeta bastante o fator replay em um jogo que possui modo cooperativo online. É uma pena que as missões não façam jus aos cenários e ao combate, que são muito bons e lembram bastante Doom Eternal e outros boomer shooters do gênero.
Pode parecer que estou exagerando ao falar das missões, mas imagine aquele tipo de jogo no qual a única forma de entender a história é ouvindo a narração de Metatron ou lendo um códice no saguão antes das fases. Durante o jogo, os personagens quase não comentam o que está acontecendo, soltando apenas piadas que passam do ponto. Isso pesa ainda mais com o tempo, já que, por mais que tenham visuais interessantes, com destaque para Void, são rasos e facilmente esquecíveis. Suas histórias para estarem no Purgatório não convencem e acabam soando genéricas.
Se as missões e a trama deixam a desejar, a jogabilidade é o ponto mais alto. Dizer que ele parece um filho perdido dos últimos DOOM lançados é um elogio maior do que parece. Cada campeão tem um propósito próprio, o que deixa as incursões mais dinâmicas, principalmente no cooperativo. Os confrontos com lacaios, demônios e os Nefilim são frenéticos, com sangue jorrando para todo lado e partículas explodindo na tela — tudo embalado por uma trilha de heavy metal que, em alguns momentos, parece até sincronizar com o som dos tiros.
Falando da jogabilidade fora do tiroteio, o personagem é ágil e cheio de recursos. Pode deslizar, dar dash e usar golpes que atordoam inimigos mais fracos. Dentro das fases também há pontos em que usamos uma arma que leva o nome do jogo, servindo como um impulso que nos lança para o outro lado do mapa.
E é impossível não destacar como as armas são criativas, principalmente a Estacadora, que parece saída de Van Helsing, já que em vez de flechas ela dispara estacas de madeira nos inimigos. Outra que se mantém útil até os créditos é a Eletroimpulsora, que lança várias shurikens que ricocheteiam nas superfícies e cortam tudo pela frente. Essas armas também contam com habilidades únicas, desbloqueadas na árvore de upgrades com os pontos ganhos em cada incursão. A Eletroimpulsora, por exemplo, pode transformar seu choque básico em uma bola de energia que derruba tudo no caminho.
Antes das incursões, é possível equipar e desbloquear cartas de tarô, que concedem vantagens durante as fases. Essa mecânica combina bem com a temática de Painkiller e está bem equilibrada, sem quebrar o jogo. A maioria das vantagens serve para aumentar a velocidade de recuperação de energia, obter mais ouro ou reduzir dano, coisas esperadas em um cooperativo.
Graficamente, o jogo surpreende de forma positiva. Os biomas são bonitos, mesmo sendo apenas três até o momento. O título faz um ótimo uso de sombras e da ausência do Sol, reforçando o clima de Purgatório. É sempre interessante olhar para cima e ver o céu carregado, com nuvens pesadas prestes a desabar, e o tom avermelhado em alguns momentos ajuda a destacar o cenário.
O desempenho também não decepciona em nenhum momento. Mesmo com a tela cheia de inimigos e efeitos, o jogo roda de forma estável, e nem ao usar a Painkiller para destruir tudo pela frente senti quedas perceptíveis. Para completar, o título conta com legendas em português do Brasil, e a adaptação está muito boa. Em várias partes, o Metatron usa um tom mais sofisticado, e isso foi traduzido de forma fiel e natural.
Considerações
O novo Painkiller é um retorno competente, mas que ainda parece preso entre duas épocas. Ele brilha nos tiroteios, nas armas criativas e na intensidade das batalhas, provando que a fórmula clássica de ação ainda funciona. No entanto, a campanha sem profundidade e o ritmo irregular impedem que o reboot alcance todo o potencial que promete. Mesmo assim, é uma reestreia que mostra fôlego e prepara o terreno para um futuro promissor da franquia.
Painkiller está disponível para PC, PlayStation 5 e Xbox Series.
Esta análise foi feita no PlayStation 5, com uma cópia do jogo gentilmente cedida pela 3D Realms.