25 anos de Total War: Creative Assembly fala sobre ética, IA e o futuro da franquia

Maya Georgieva, Diretora de Design de Franquia na Creative Assembly, comenta desafios éticos e o papel da comunidade brasileira em Total War

2 dez 2025 - 18h12
Total War comemora 25 anos
Total War comemora 25 anos
Foto: Divulgação

Há 25 anos, Total War vem ensinando jogadores do mundo inteiro que dominar o mundo exige mais do que tropas numerosas: pede estratégia, contexto histórico e decisões difíceis. Para marcar esse quarto de século de batalhas épicas, impérios erguidos (e derrubados) e uma comunidade incrivelmente fiel, conversamos com Maya Georgieva, Diretora de Design de Franquia na Creative Assembly.

Na entrevista a seguir, ela fala sobre os desafios éticos de adaptar guerras reais sem glorificar a violência, explica como IA e machine learning estão sendo usados nos bastidores, comenta como o estúdio escolhe o próximo período histórico a explorar e destaca o papel essencial da comunidade e dos modders — incluindo os fãs brasileiros, que seguem apoiando a série mesmo sem ver o país diretamente nos mapas principais.

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É um mergulho nos bastidores de uma das franquias de estratégia mais importantes da história dos games.

Game On - Total War sempre foi reconhecida por equilibrar história e jogabilidade. Quais são os principais desafios criativos e éticos em adaptar eventos reais como batalhas e líderes históricos sem comprometer a diversão?

Maya Georgieva - Excelente pergunta, muito perspicaz! Ao adaptarmos eventos e figuras do mundo real, sempre temos em mente que estamos criando jogos para um público moderno com sensibilidades modernas. Buscamos criar experiências imersivas, mas nunca à custa da ética ou da sensibilidade às complexidades do passado. Por isso, buscamos a diversão da jogabilidade dentro do âmbito da liberdade do jogador e de escolhas interessantes, em vez de glorificar a guerra ou a violência. Nosso objetivo é apresentar a história de uma forma que permita aos jogadores explorar esses períodos de maneira ponderada, apreciando os desafios e as nuances das decisões dentro do contexto histórico, mas priorizando, acima de tudo, a estratégia e a tomada de decisões.

Total War comemora 25 anos
Foto: Divulgação

Game On - Ao longo dos 25 anos da franquia, vimos grandes avanços tecnológicos em IA e simulação de batalha. Como as novas ferramentas de machine learning estão sendo aplicadas na série hoje, especialmente no comportamento de exércitos e diplomacia?

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Maya Georgieva - O desenvolvimento da IA ao longo da série sempre foi um ponto de foco tanto para nós, desenvolvedores, quanto para os jogadores, que buscam interações cada vez mais realistas nos mundos que criamos. Utilizamos machine learning como ferramenta de teste automatizado, auxiliando nossas equipes de desenvolvimento a coletar grandes conjuntos de dados para balanceamento ou para identificar problemas potenciais em campanhas complexas. No entanto, tudo precisa ser avaliado por especialistas humanos, pois criar experiências é uma forma de comunicação humana que exige criatividade e tato, sendo mais arte do que ciência.

Game On - Cada título de Total War tem uma identidade cultural muito marcada tipo Roma, Japão, Idade Média, Revolução Francesa. Como a equipe decide qual período histórico explorar em seguida?

Maya Georgieva - Não existe uma única maneira específica – por um lado, buscamos variedade que possa oferecer novas perspectivas ou complementar a cobertura da série sobre a linha do tempo histórica; por outro, estamos atentos aos jogadores e à nossa comunidade, e buscamos oferecer algo que seja muito solicitado, sempre que possível.

Franquia Total War comemora 25 anos
Foto: Divulgação

Game On - A franquia sempre soube se reinventar, do clássico Shogun: Total War aos títulos mais recentes. Quais lições mais valiosas a equipe aprendeu nesse processo de 25 anos e como isso molda o futuro da série?

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Maya Georgieva - Existem algumas lições que destilamos como pilares da franquia, que nos ajudam a manter a essência do jogo e a formar seu DNA: Autenticidade, Estratégia, Escala e Espetáculo. Esses são os aspectos clássicos dos jogos Total War que brilham nos títulos de maior sucesso. A eles, eu adicionaria a Comunidade, algo que reconhecemos como extremamente importante para nossos jogos atuais e futuros.

Game On - Com o avanço dos consoles e portáteis como o Steam Deck, podemos esperar ver a experiência Total War expandindo para novas plataformas?

Maya Georgieva - Os jogos de estratégia evoluíram muito em consoles e dispositivos portáteis, e seria ótimo receber uma nova geração de comandantes. Jamais diremos nunca, mas não temos nada para compartilhar no momento.

Game On - Os jogos de estratégia geralmente são vistos como de nicho, mas Total War ultrapassou essa barreira. Qual é o segredo para manter a franquia relevante por tanto tempo, mesmo em meio a gerações inteiras de novos jogadores?

Maya Georgieva - Acho que o maior segredo aberto é a nossa fusão única de grande estratégia e batalhas em tempo real – isso dá ao jogador a variedade necessária para aproveitar cada turno extra.

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Existe também uma motivação mais profunda: a imersão. O desejo por experiências autênticas, liberdade de escolha e expressão criativa é profundamente humano e pode ser encontrado em todos – desde a criança que constrói castelos de areia até o jogador veterano que domina exércitos e economia para construir um império no mapa de campanha.

Franquia Total War comemora 25 anos
Foto: Divulgação

Game On - Se pudessem descrever a franquia Total War em uma única frase curta, qual seria?

Maya Georgieva - “Todo mundo quer dominar o mundo” (everybody wants to rule the world), talvez.

Game On - O Brasil tem uma base fiel de fãs da série, mesmo sem ter sido cenário direto nos jogos. Já houve discussões internas sobre incluir campanhas ambientadas em momentos históricos da América do Sul, como o período colonial ou a Guerra do Paraguai, que poderiam ressoar com esse público?

Maya Georgieva - Discutimos constantemente ideias para períodos e cenários – o mundo é rico em possibilidades! Já abordamos alguns temas sul-americanos antes, como na expansão Total War: MEDIEVAL II – Kingdoms, que incluiu culturas icônicas como o Império Asteca e os Maias. Nunca descartamos possibilidades para o futuro.

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Game On - A comunidade brasileira de modders é bastante ativa. Como a Creative Assembly enxerga esse tipo de contribuição dos fãs?

Maya Georgieva - Que ótimo saber disso! Criar mods é uma excelente maneira de servir a comunidade, explorando temas, mecânicas ou períodos históricos que não podemos abordar nos jogos originais. Temos apoiado nossa comunidade de modding o máximo possível e continuaremos a fazê-lo, buscando sempre aprimorar esse suporte.

Game On - Por fim, algum recado específico pra comunidade brasileira?

Maya Georgieva - Continue jogando Total War, Brasil! :)

Seu entusiasmo e dedicação são inspiradores e nos deixam muito felizes! Nada nos motiva mais como desenvolvedores do que ver que o que fazemos traz alegria aos nossos jogadores.

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Conclusão

Ao fim da conversa com Maya Georgieva, fica claro que Total War nunca foi só sobre conquistar territórios no mapa: é sobre entender contextos, respeitar a história e, ao mesmo tempo, oferecer liberdade para o jogador experimentar caminhos diferentes do que aconteceu na vida real.

Entre pilares como autenticidade, estratégia, escala, espetáculo e comunidade, a Creative Assembly parece determinada a manter a franquia relevante por muitos anos.

Para os fãs brasileiros, a mensagem é direta: o estúdio sabe que o Brasil joga, acompanha, cria mods e vibra com cada novo lançamento. E, mesmo sem promessas específicas sobre campanhas na América do Sul, fica a sensação de que o “mundo rico em possibilidades” citado por Maya ainda tem muito espaço para novas histórias. Até lá, seguimos no que ela mesma resumiu em uma frase que combina perfeitamente com Total War, e com boa parte de quem abre o jogo pela milésima vez: “todo mundo quer dominar o mundo.”

Fonte: Game On
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