Gravação vazada revela conversas internas e expõe crise nos bastidores do São Paulo

Um áudio divulgado pelo ge expõe suspeitas de comercialização irregular de um camarote do Morumbis em dias de shows, envolvendo dirigentes do São Paulo, que pediram licença dos cargos enquanto o clube promete apurar os fatos.

15 dez 2025 - 10h24
(atualizado às 10h24)
Foto: Esporte News Mundo

Um áudio revelado pelo ge trouxe à tona indícios de um esquema de comercialização irregular de camarotes do Morumbis durante shows realizados no estádio. A gravação envolve Douglas Eleutério Schwartzmann, diretor-adjunto de futebol de base do São Paulo, e Mara Suely Soares de Melo Casares, conselheira e diretora feminina, cultural e de eventos do clube, além de citar o superintendente geral Marcio Carlomagno. No diálogo, Schwartzmann admite que houve ganho financeiro com a prática e afirma que "todo mundo ganhou".

A informação foi revelada inicialmente pelo ge, que teve acesso ao áudio e a documentos do processo judicial relacionados ao caso, além de ouvir os envolvidos e reunir as versões oficiais apresentadas até o momento.

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Diante da repercussão, Douglas Schwartzmann e Mara Casares solicitaram licença de seus cargos na manhã desta segunda-feira. Em nota, o São Paulo informou que irá apurar os fatos e que, a partir dessa análise, adotará as medidas cabíveis.

A conversa gira em torno do camarote 3A, localizado no setor leste do Morumbis, espaço que, em documentos internos do clube, aparece identificado como "sala presidência". O local fica em frente ao escritório do presidente Julio Casares e costuma ser utilizado para reuniões e entrevistas. Segundo o áudio, o camarote teria sido utilizado de forma não regular durante o show da cantora Shakira, realizado em fevereiro deste ano.

Funcionamento do esquema e origem do conflito

De acordo com a gravação, o direito de exploração do camarote foi repassado a Rita de Cassia Adriana Prado, intermediária mencionada como responsável por negociar o espaço com empresas interessadas. Os ingressos do camarote 3A chegaram a ser vendidos por valores de até R$ 2,1 mil, e o faturamento estimado apenas com esse espaço teria alcançado R$ 132 mil.

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O problema surgiu quando Adriana, por meio de sua empresa The Guardians Entretenimento Ltda., ingressou com uma ação judicial na 3ª Vara Cível de São Paulo contra Carolina Lima Cassemiro, da Cassemiro Eventos Ltda. No processo, Adriana afirma que Carolina teria retirado, sem autorização, um envelope contendo 60 ingressos do camarote, no dia do show.

Segundo a ação, os ingressos teriam sido negociados por R$ 132 mil, mas apenas R$ 100 mil teriam sido pagos. Adriana também registrou um boletim de ocorrência na 34ª Delegacia de Polícia de São Paulo. Com o caso chegando à Justiça, Douglas Schwartzmann e Mara Casares passaram a pressionar Adriana para que desistisse da ação, temendo que a origem do camarote e a forma de exploração fossem reveladas.

Trechos do áudio e citações diretas

Na gravação, Schwartzmann questiona Adriana sobre a consciência da irregularidade do negócio:

"Você nunca soube que aquilo era feito de forma clandestina? A palavra é essa. Ou você não sabia?"

Em outro momento, o dirigente afirma que a prática não era regular e reforça o risco para os envolvidos:

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"Nós três sabemos como foi feito. Isso foi feito de forma indevida. Foi feito um favor. E você está queimando as pessoas que te ajudaram."

Schwartzmann também cita diretamente Marcio Carlomagno, demonstrando preocupação com as consequências internas:

"O Marcio vai ser mandado embora, porque foi ele quem concedeu o camarote para ela."

Mais adiante, o diretor-adjunto admite que houve ganho financeiro:

"Teve negócio que você ganhou dinheiro, eu ganhei, todo mundo ganhou."

Mara Casares, por sua vez, manifesta preocupação com sua imagem no clube e com seus planos futuros:

"Eu estou percorrendo dentro do São Paulo um caminho profissional de futuro para assumir coisas grandes. E eu vou ser prejudicada."

Ela também pede diretamente que Adriana retire o processo:

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"Retire esse processo, por favor. A única prejudicada serei eu."

O que dizem os citados

Em nota, o São Paulo confirmou que o camarote 3A é de responsabilidade do clube e que, no dia do show da Shakira, o espaço havia sido destinado à diretoria feminina, cultural e de eventos, sob responsabilidade de Mara Casares. O clube afirmou desconhecer o teor do áudio e negou a existência de esquema ilegal de venda de ingressos, reforçando que os bilhetes foram adquiridos diretamente junto à produtora do evento.

Posteriormente, o clube enviou nova nota reiterando que desconhecia qualquer áudio e refutando a existência de uso clandestino do camarote.

Mara Casares confirmou que o camarote foi cedido a Adriana Prado, mas negou qualquer benefício financeiro pessoal. Segundo a dirigente, a cessão ocorreu em razão de uma relação de confiança e da proximidade do evento, e os ingressos teriam sido comprados formalmente junto à produtora. Ela afirma que Adriana, sem autorização, repassou o camarote a terceiros, gerando o conflito judicial.

Marcio Carlomagno declarou que tomou conhecimento do áudio apenas por meio da reportagem e negou que o camarote tenha sido utilizado de forma clandestina, afirmando que o espaço foi cedido pontualmente ao departamento feminino, cultural e de eventos.

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Carolina Lima Cassemiro, alvo da ação judicial, afirmou que não sabia que o camarote não poderia ser comercializado e disse ter sido enganada. Ela também sustenta que efetuou os pagamentos conforme combinado e que Adriana não teria cumprido integralmente o acordo.

Douglas Schwartzmann e Rita de Cassia Adriana Prado foram procurados pelo ge, mas não responderam até o fechamento da reportagem.

Possíveis consequências estatutárias e penais

O Estatuto Social do São Paulo prevê punições que vão de advertência à perda de mandato e inelegibilidade, a depender da gravidade da infração. O Regimento Interno também estabelece suspensão para associados que causem dano à imagem do clube.

Advogados consultados pelo ge avaliam que o caso pode se enquadrar no crime de estelionato, previsto no Artigo 171 do Código Penal, com pena de reclusão de um a cinco anos, além de multa.

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Quem são os envolvidos:

Mara Suely Soares de Melo Casares

Conselheira e diretora feminina, cultural e de eventos do São Paulo. Ex-diretora do futebol feminino, recordista de votos para o Conselho Deliberativo em 2023 e ex-esposa do presidente Julio Casares.

Mara Casares —
Foto: Reprodução/Instagram  / Esporte News Mundo

Douglas Eleutério Schwartzmann

Conselheiro e diretor-adjunto de futebol de base do clube. Já ocupou cargos de diretor de comunicação, vice-presidente de marketing e secretário-geral. Foi absolvido em 2022 em investigação relacionada à gestão anterior.

Marcio Carlomagno

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Superintendente geral do São Paulo. Com passagem por diferentes funções administrativas, ganhou protagonismo recente no clube e participa do planejamento da próxima temporada.

Márcio Carlomagn —
Foto: Divulgação / Esporte News Mundo

Rita de Cassia Adriana Prado

Intermediária citada na gravação como responsável por negociar a exploração de camarotes. É autora da ação judicial que deu origem à gravação do áudio.

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