Saiba como Tite superou "inferno santista" e arrancou vitória

14 jun 2012 - 11h39
(atualizado às 13h33)
Diego Garcia
Klaus Richmond
Direto de Santos

"Jogar aqui é como jogar no inferno". A frase de Caneta, do Cúcuta, virou símbolo da Vila Belmiro. E foi isso que o torcedor do Santos preparou para o time do Corinthians ao longo desta semana: um inferno. De ovos, rojões, bombas e pichações terroríficas a capacetes de policiais atirados em campo, os santistas mais do que nunca armaram seu "alçapão" para receber o inimigo. Não contavam, porém, com um destemido homem do outro lado: Tite.

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Foi ele que, em decisão contestada, quis viajar a Santos um dia antes do clássico. E o que parecia uma insensata atitude do treinador mostrou-se genial a partir do apito do árbitro na noite desta quarta-feira. Ao ouvir o pontapé inicial, o time visitante já havia passado por todos os apuros possíveis em solo inimigo. Diante das mais variadas tentativas de amedrontá-los, os corintianos não sucumbiram e deixaram a Baixada com uma grandiosa vitória por 1 a 0.

A loucura de Tite

A confirmação da Vila Belmiro como palco do duelo de ida da semifinal da Copa Libertadores mobilizou a torcida do Santos desde o primeiro minuto. Para intimidar o arquirrival Corinthians e conseguir uma vitória elástica, os santistas armaram todos os tipos de tramoias possíveis e imagináveis. A saga corintiana em ambiente totalmente hostil começou mais precisamente na segunda-feira.

Tite, o homem sem medo, avisou que o Corinthians viajaria a Santos já na terça, treinaria na Vila Belmiro e dormiria na cidade. Parecia até loucura, o prenúncio de uma derrota incontestável. Todos sabiam qual seria o clima preparado pelos santistas para recepcionar seus rivais, motivados também pelo desejo de eliminar no ano de seu centenário seu maior adversário e deixá-lo mais um tempo sem ir à final da Libertadores. Todos sabiam. Tite também.

Momentos de terror

As horas inospitaleiras corintianas começaram já em seus primeiros minutos na Baixada. Em treino de reconhecimento na Vila, uma chuva de ovos deu o cartão de boas-vindas aos "intrusos", seguida de rojões atirados ao gramado por meio de uma fresta vinda do lado de fora. O pânico continuou durante a madrugada, quando dezenas de santistas rondavam o hotel corintiano com morteiros, fogos de artifício e motoqueiros com bombas. Parecia até guerra.

Com poucas horas de sono, os jogadores se dirigiram ao estádio escoltados por dezenas de viaturas da PM, além de motos - aos montes - e soldados a cavalo. Na chegada, as ruas que os recepcionavam tinham pichações de todos os tipos, com letras garrafais que os atemorizavam com ofensas, ameaças e até lembranças de pancadaria ocorrida em hipermercado da cidade em 2009, quando centenas de torcedores visitantes saíram feridos. Terror...

Aquecimento, apitos e alçapão

Eram exatas 21h08 quando o Corinthians subiu ao gramado da Vila Belmiro para aquecer. Ali, debaixo de apitos, vaias, mais rojões e foguetório, sentiram mais um pouco do que os aguardava. Era o "inferno" definido por Caneta em sua mais pura essência. Eles permaneceram ali por mais de 20 minutos, tocando a bola, correndo, percebendo o que teriam que enfrentar antes de retornar aos vestiários e, posteriormente, de voltar ao campo para jogar.

No retorno, ainda foram recepcionados por dezenas de sinalizadores e um mosaico gigante com a palavra "Alçapão", iniciativa da torcida local para mostrar quem é que mandava por ali. Entretanto, o desenho não saiu do jeito esperado, e um amontoado de cartazes brancos eram balançados sem contexto na arquibancada santista. O mosaico desconexo, por ironia do destino, dava um presságio do que viria em seguida.

Time maduro, capacete e vitória

Graças à vinda precoce de Tite, o time do Corinthians entrou em campo já acostumado ao clima de guerra criado pelos rivais. Não sentiu a pressão, tocou a bola com maturidade e fez o gol. A Vila Belmiro se calou. Surpreendido pelo comportamento rival, o Santos não se impôs e foi dominado. A equipe visitante não se acovardou no recinto inóspito simplesmente porque não havia mais com o que se acovardar.

A batalha ainda teve briga na arquibancada santista, pancadaria do lado de fora, dezenas de garrafas arremessadas contra os corintianos no campo e até capacete de um PM tomado por torcedores e atirado em cima do goleiro Cássio. Houve até blecaute, ocorrido fatalmente em um perigosíssimo contra-ataque do Corinthians que poderia definir os rumos da semifinal. É... Nada adiantaria. Jamais um invasor havia deixado o inferno de forma tão heroica.

Pressão da torcida santista na Vila Belmiro não surtiu efeito no time do Corinthians
Pressão da torcida santista na Vila Belmiro não surtiu efeito no time do Corinthians
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
Fonte: Terra
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