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Laor sugere que carta a pai de Neymar foi exigência do Barça

Neymar pai pediu carta a presidente do Santos em 2011. Após notícias de que o empresário teria recebido dinheiro na época, Laor deduz que carta era exigência para liberação do montante

24 fev 2015 - 20h20
(atualizado em 25/2/2015 às 11h40)
<p>Transferência de Neymar para o Barcelona causa polêmica</p>
Transferência de Neymar para o Barcelona causa polêmica
Foto: Albert Gea / Reuters

A polêmica transferência de Neymar para o Barcelona ainda atormenta o Santos e os envolvidos no polêmico negócio. O ex-presidente da equipe, Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro, disse ao Terra nesta terça-feira que, ao ver novamente uma carta entregue pela equipe ao pai do jogador em 2011 dando autorização para conversar com outras equipes, deduziu que o documento foi o suficiente para o empresário receber um dinheiro do Barcelona, sem o consentimento santista.

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Laor, como é popularmente chamado, relembrou o episódio com tristeza e disse se sentir “traído” pelo pai do jogador. Durante renovação de contrato em 2011, o ex-presidente relata que o pai de Neymar pediu um “favor extra”: uma carta dando poderes para conversar com outro clube. O documento foi submetido ao jurídico do clube, que não viu problemas. Mas agora, passados quase quatro anos, o ex-mandatário crê que tudo foi orquestrado para que o dinheiro fosse liberado sem problemas com a Fifa.

Laor revela bastidores da polêmica carta ao pai de Neymar
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Ainda em 2011, antes da disputa do Mundial de Clubes do Japão entre Santos e Barcelona, o pai de Neymar assinou um pré-acordo de intenções com o clube catalão por 10 milhões de euros (na cotação atual, R$ 32 milhões). A transferência é investigada pela justiça espanhola e já culminou na queda de um presidente do time espanhol.

“Ele (Neymar pai) queria que, para evitar enchimento de saco, que o Santos fizesse uma carta que desse autorização para o pai conversar com qualquer outro clube do mundo o tempo que quisesse. Eu não poderia proibir ele a conversar com quem quer que seja. Então fiz questão de colocar na carta uma cláusula que dizia que tinha que ser respeitado o contrato em vigor com o Santos. Deve ter sido exigência do Barcelona para dar o dinheiro. Era um resguardo para não tomar uma punição da Fifa depois. Eu tenho impressão”, alega Laor. Entenda mais do caso abaixo.

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Luís Alvaro é ex-presidente do Santos
Foto: Djalma Vassão / Gazeta Press

Entenda passo a passo, por declarações de Laor, como foi a renovação de Neymar que culminou na carta dando poderes ao pai do jogador:

A PRIMEIRA RENOVAÇÃO

“Quando nós assumimos o Santos o Neymar tinha um contrato em vigor e recebia um salário entre R$ 50 mil e 60 mil, muito parecido com o do Ganso. Ele virou titular no Santos e começou a brilhar com a ajuda do time que montamos e naturalmente pretendeu ganhar mais. Nós duplicamos o salário dele e fizemos uma primeira renovação de contrato. E aumentamos a multa que era de US$ 15 milhões para US$ 35 milhões. A carreira dele desabrochou, virou um ídolo nacional.”

PRESSÃO DO CHELSEA E DO NEYMAR PAI

Transferência de Neymar para o Barcelona causa polêmica
Foto: Gerard Julien / AFP

“Quando chegou agosto de 2011 e o Neymar foi convocado para a Seleção, o pai do Neymar ligou para mim de Nova York, eu estava em Nova Jersey chefiando a delegação da Seleção, e dizia que eu precisava ajudá-lo. Ele tinha uma reunião com um outro empresário internacional, que ficou famoso pro ser amigo do Kia, com um advogado e o presidente  do Chelsea, que estava fazendo pressão para Neymar ir para lá. Eu fui de boa vontade e de boa fé. A proposta deles era 30 milhões de euros e a multa do Neymar era de 35. Fui para reunião, por sorte levei uma testemunha comigo, e enfrentei um comitê de inquisição.

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Para incrível surpresa, o pai tinha se virado contra a mim e fez apelos de que eu também era pai de seis filhos, e que ele tinha que pegar o bonde andando. Fiquei sabendo que além da proposta ainda incluía escola para a irmã do Neymar, trabalho para a família, automóvel, uma quantidade de benefícios adicionais e que ele não poderia perder essa chance. E eu mantive minha posição. Eu resisti, falei que não estava à venda. Aí pedi 15 dias para apresentar uma renovação e um plano de carreira de Neymar. Só assim consegui me livrar dessa pressão desse empresário internacional. Comi um sanduíche e voltei de metrô para New Jersey. Liguei para o Brasil, falei da proposta do Chelsea e que o pai do jogador queria levar ele pelo pacote de vantagens e pedi para criar um plano de carreira pela primeira vez no Brasil”.

COMO CONVENCER NEYMAR A FICAR NO SANTOS

Transferência de Neymar para o Barcelona causa polêmica
Foto: Gonzalo Arroyo Moreno / Getty Images

"O Grupo Guia (que assessorava Laor no Santos) e o departamento de marketing fizeram em 15 dias um plano de carreira para o jogador, que seria depois feito para o Ganso. Voltei para o Brasil com uma espada na cabeça. Fizemos a reunião para apresentação do plano de carreira em uma sala suntuosa e fizemos uma estratégia brilhante. Fizemos a reunião em uma sala oval, que tinha uma poltrona vaga. Liguei para o Pelé e pedi um favor. Falei que 11h15 estaria na sala com o Neymar pai para apresentar o plano de carreira. Pedi para ligar para mim e falar com o pai do Neymar para explicar o que seria benéfico. Deixamos a cadeira vazia e lá pelas tantas o pai do Neymar perguntou: "e essa cadeira, vem mais alguém aqui?". Aí nosso diretor de marketing falou: “não, essa poltrona está vazia porque é do último ídolo brasileiro, que foi o Ayrton Senna. Ela está reservada para o próximo ídolo brasileiro, que pode ser seu filho". E na sequência o Pelé ligou e passei o telefone.

Tínhamos a informação de que os emissários do Chelsea iriam pegar o jogador no aeroporto depois de uma partida no Sul, mas mandamos um carro pegar o Neymar, levamos para casa de um dos membros do Guia e assinamos o contrato. A rescisão unilateral de qualquer uma das partes implicaria no pagamento de uma multa.”

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MAIS PRESSÃO DO PAI, E NEYMAR PEDE PARA SAIR

Transferência de Neymar para o Barcelona causa polêmica
Foto: Toni Albir / EFE

“O pai do Neymar ameaçava toda vez, falando que estava sendo assediado por presidente do Barcelona, do Real Madrid. O presidente do Barcelona me ligou uma vez tentando me seduzir e recusei. Fui procurado pelo presidente do Real Madrid e disse não. Até que fui procurado pelo pai do jogador, que disse que a situação estava insustentável porque aconteceram alguns episódios com o filho dele. O primeiro fato desencadeador foi a vaia que tomou no Morumbi quando foi substituído pelo técnico da Seleção a quatro minutos do fim. Foi a primeira vez que ele  tomou uma vaia e ficou abalado. A partir daí começou a jogar no Santos sem a mesma volúpia de antes. Mais do que isso: eu ia ao vestiário depois das partidas e ao contrário daquele Neymar que brincava com todo mundo, ele ficava sentado no chão com a cabeça entre os braços e tristes. Eu perguntei duas vezes para ele se tinha alguma coisa incomodando. Aí ele falava que não, que era cosia da vida.

Até que chegou o momento que o pai do Neymar disse que ele queria ir embora. Eu estava de licença. Disse que só aceitava se ouvisse da boca do jogador. Ai convidei o pai, o Neymar e o Odilio que sentaram na mesa de casa comigo doente. Aí falei para que o Neymar que se ele quisesse, ele saía porque não queria que ele jogasse obrigado. Aí ele falou tristonho, encabulado: 'presidente, agora quero sair. Antes aceitei seu conselho, fiquei feliz e ganhei meus títulos, mas agora queria sair'. Então disse que o Santos não colocaria objeção. Isso foi em maio de 2013. O pai dizia que se ele não saísse por bem, ele ficaria até o fim do ano e assinaria um pré-contrato sem o Santos ganhar nada. Mas o pai dizendo e ouvindo a manifestação dele, não tinha o que fazer. “

A NEGOCIAÇÃOCOM BARÇA E REAL

“Eu estava doente e não participei da negociação. O Odílio recebia emissário do Barcelona e Real Madrid e me contava tudo e ao comitê de gestão. E nós chegamos à conclusão de que não tinha mais o que chorar. Eram 18 milhões de euros pelos direitos federativos. O nosso jurídico me alertava que a multa pode ser por tempo de contrato, então não podíamos cobrar ela inteira. O pai do Neymar ajudou a proposta do Barcelona ser mais generosa e depois eu soube o motivo. O Odílio aceitou o negócio com a minha anuência e ele foi embora.

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O Odilio me disse que a proposta do Rela Madrid era melhor que o Barcelona tinha chegado e disse que tinha avisado o pai do Neymar. E o pai, segundo o Odílio, assumiu o compromisso de tentar melhorar a proposta do Barcelona. Ingenuamente acreditamos que era porque o menino queria ir para o Barcelona. Aqui na reunião, ele me disse que se chegassem duas propostas iguais de qualquer lugar do mundo, ele falou que queria ir para o Barcelona. Mal sabia eu que o pai já tinha recebido o dinheiro lá atrás.”

 A CARTA

Transferência de Neymar para o Barcelona causa polêmica
Foto: neymarjr/Instagram / Reprodução

“Aí surgiu o negócio da carta. No último contrato, em 2011, o Santos só levou ferro, tinha a vantagem do Neymar ficar e ganhar títulos, mas tivemos que diminuir o tempo de contrato, ele exigiu que os 70% que ele tinha dos direitos de imagem fossem para 90%. Fez o Santos pagar viagens de primeira classe quando o Brasil fosse jogar fora para o pai e o assessor. E nós tivemos que aceitar. Estavam presentes na reunião o Odílio, o então diretor jurídico Luciano Moita, o Neymar, o pai e o Wagner Ribeiro. No finalzinho, quando apertamos as mãos, o pai pediu um favor extra. Falei: ‘pô, já fizemos tanta coisa, o que quer agora?’. Ele queria que, para evitar enchimento de saco, que o Santos desse uma carta que desse autorização para o pai conversar com qualquer outro clube do mundo o tempo que quisesse. Eu não poderia proibir ele a conversar com quem quer que seja. Então fiz questão de colocar na carta uma cláusula que dizia que tinha que ser respeitado o contrato em vigor com o Santos, que estava amparado e não poderia assinar com ninguém mais. Conversar poderia com quem quisesse.

Eu ingenuamente acreditei porque sou um sujeito de boa fé. A carta foi assinada por conta disso. E, segundo o nosso jurídico, ela não tinha nenhum efeito formal ou legal, exceto o que eu deduzo, quando uma emissora de TV no ano passado divulgou que o Neymar pai já tinha assinado com o Barcelona por 10 milhões de euros antes da partida final do Mundial de 2011. Eu fiquei chocado. Aí eu descobri ontem (segunda), por acaso, vendo a carta de novo, por que ele pediu a carta minutada. Deve ter silfo exigência do Barcelona para dar o dinheiro. Era um resguardo para não tomar uma punição da Fifa depois. Eu tenho impressão, não posso afirmar porque ele não assinou, que por essa carta liberaram o dinheiro para ele. Ele já tinha assinado um contrato com o Barcelona.

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O Odílio diz que não lembrava da carta, mas estava presente. Eu lembrava que tinha assinado, sem lembrar dos termos. O Luciano Moita era do comitê de gestão e era o espelho do poder jurídico. tinha um gerente jurídico que não examinou o contrato do Neymar, não examinou a carta que repassei ara examinarem. Ele pegou a carta, a rubrica é dessa moça e dele. Não botou o nome do Odílio, o vice estava presente.“

TRAIÇÃO

“Me senti muito traído. A partir daí o futebol perdeu o interesse. Não vou ser candidato a nada mais na vida neste mundo do futebol. Achei por ingenuidade que poderíamos mudar a gestão do futebol, fazendo uma gestão transparente não fazendo tramoia nem falcatruas. Mas isso foi um sonho que durou pouco e o tempo mostrou que fui ingênuo.”

Fonte: Terra
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