Luan, ex-zagueiro do Palmeiras, vive boa fase no Toluca, onde rejeita o status de ídolo, considera a pressão no clube brasileiro um privilégio e sonha em ser técnico, já se preparando para isso.
Luan Garcia viveu os altos e baixos do futebol com a camisa do Palmeiras. De ser peça fundamental em dois títulos da Libertadores às críticas pelo pênalti cometido na final do Mundial contra o Chelsea, a relação foi intensa ao longo de oito temporadas no Allianz Parque. Agora, aos 32 anos, o zagueiro vive momento distinto da carreira e caminha para se tornar ídolo do Toluca, do México, embora rejeite a alcunha.
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Mesmo com uma nova história sendo escrita, o defensor não esquece os dias que viveu na equipe alviverde e vê até o lado bom em algumas das críticas que recebeu. Durante férias, por exemplo, foi aos Estados Unidos para assistir à estreia do ex-time contra o Porto, de Portugal, na Copa do Mundo de Clubes.
“A pressão, com o tempo, a gente vai entendendo que é um privilégio da grandeza do clube, da exigência do clube. Eu lidava muito bem. Entendi que o torcedor é paixão, eles estão ali todos os dias, fazem esforços, não medem esforços para apoiar o clube. A gente tem que dar o nosso melhor, entendendo que nem sempre a gente vai conseguir ganhar. Só que, para mim, depois de um tempo, a pressão passou a ser um privilégio”, conta o camisa 13 do Toluca, ao Terra.
Diante de tamanho carinho pelo Palmeiras, a decisão de deixar o clube não foi fácil. Há pouco mais de um ano, em junho de 2024, o desejo de viver fora do Brasil e aprender outras culturas falou mais alto.
“Os meus filhos aprenderem outra língua, sair um pouco da zona de conforto. Minha decisão foi muito baseada nisso. Eu era muito feliz no Palmeiras, muito feliz no Brasil, mas tinha essa vontade de viver fora. Tive proposta de outro clube mexicano também. Antes, tive outras propostas, mas a do Toluca foi a que se concretizou e, de verdade, era a melhor para mim”, explica ao recordar a saída do Verdão.
Essa curiosidade faz com que Luan tenha planos dentro do futebol para o futuro. Já pensando em um desses, ele tirou a Licença B da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) --voltada para categorias de base.
“Tenho vontade de ser treinador de futebol. Tenho estudado e vou estudar para isso. Quando eu pensar em parar, quero estar preparado para os novos desafios, mas, sim, com certeza vai ser algo atrelado ao futebol, porque é a minha paixão, é o que eu tenho de desejo dentro de mim”, conta o jogador.
Para seguir a carreira na área técnica, contudo, o defensor ainda vai conversar com a família: “Nós, jogadores de futebol, somos um pouco ausentes, muitas viagens. Eu quero passar mais tempo com eles e ver o desenvolvimento dos meus filhos.”
Em meio aos planos para o futuro, Luan se define feliz, realizado e adaptado com a escolha pelo Toluca, onde se sente em casa. Atuações históricas à parte, o zagueiro teve a oportunidade de conhecer outra cultura, como queria. Algumas vezes, porém, a diferença é sentida, principalmente no paladar.
“Eles gostam muito de comida picante. Você chega para comer no restaurante e pergunta: ‘Pica?’, e eles dizem que ‘pica pouco’. Mas, para nós, que não estávamos acostumados, pica muito. No início, algumas vezes passamos de chegar no restaurante, pedir comida, estar com muita pimenta e não conseguir comer. É cultural deles. Agora, até como um pouquinho de pimenta. Já estou me adaptando, sou quase mexicano”, brinca sobre os perrengues com alimentação.
Dentro de campo, o ápice de Luan no México foi com o gol que garantiu o título do Campeonato Mexicano ao time após 15 anos. Para os torcedores, não tem como ser diferente: o brasileiro já é ídolo. Ele, no entanto, não gosta do status.
“Falta muito para ser ídolo. O Toluca é um clube grandioso, com muitos títulos mexicanos e passaram muitos jogadores que são ídolos do clube. A gente ganhou o último torneio depois de 15 anos. Acho que por isso que o torcedor tem nos tratado com muito carinho. Mas me falta muito para ser ídolo. Tenho um ano aqui ainda e quero construir minha trajetória de uma maneira vitoriosa, mas também com muito respeito como ser humano. Meu papel aqui é ajudar os companheiros a crescer, evoluir, como sempre foi nos clubes que passei, e performar da melhor maneira possível para ajudar o clube a ganhar”, explica o defensor.
O reconhecimento também vai além dos torcedores dos Diablos Rojos. Nesta temporada, o zagueiro foi escolhido para representar o time do Campeonato Mexicano no duelo contra os melhores jogadores da MLS, no All Star Game.
“Quando saiu a lista fiquei muito feliz, acho que é um reconhecimento do seu trabalho, de tudo que você faz no dia a dia, do que eu fiz nos últimos torneios aqui. Estou muito feliz e ansioso já na próxima semana e espero que sejam dias para desfrutar com companheiros que, na verdade, são meus adversários e que a gente possa fazer o melhor pelo país”, comemora o ex-Palmeiras.
O gosto pelo formato foi tamanho que Luan vê com bons olhos uma edição brasileira, apesar dos desafios do calendário. Para ele, o jogo é benéfico pelo reconhecimento e convívio com adversários do restante da temporada.
Se estará ao lado de Sérgio Ramos, do Monterrey, nos próximos dias, o jogador nascido no Rio de Janeiro prefere não falar sobre suas atuações, mas reconhece um crescimento como jogador e ser humano durante os dias no México.
Desde que chegou ao Toluca, o brasileiro acumula 42 partidas, com direito a quatro gols marcados e o destaque defensivo que conquistou os mexicanos.