A NBA e a FIBA anunciaram que vão começar, já no próximo mês, a fase de conversas formais com clubes e proprietários sobre uma nova liga de basquete na Europa, com lançamento em 2027. O projeto prevê vagas fixas e um “caminho meritocrático” com a criação da Basketball Champions League ou torneios de fim de temporada, dando a qualquer equipe de ligas filiadas à FIBA a chance de se classificar. A ideia é criar uma estrutura semi‑aberta, combinando modelo de franquias e acesso esportivo.
Segundo a própria NBA, um dos formatos em estudo é uma liga com 16 times, sendo 12 posições permanentes em grandes mercados europeus e quatro vagas rotativas para clubes que se classificariam esportivamente a cada ano. Cidades alvo incluem Londres e Manchester, no Reino Unido, Paris e Lyon, na França, além de Madrid, Barcelona, Roma, Milão, Munique, Berlim, Atenas e Istambul. O desenho seguiria a lógica de concentração em centros econômicos e de mídia, repetindo a estratégia da liga norte‑americana nos Estados Unidos.
Veículos internacionais especializados indicam que a NBA projeta franquias europeias avaliadas em, no mínimo, 500 milhões de dólares, com a liga detendo 50% da nova operação e investidores privados o restante. Para Adam Silver, comissário da NBA, a iniciativa explora um mercado europeu e de Oriente Médio que pode chegar a 3 bilhões de dólares anuais em receita, somando direitos de TV, patrocínios e bilheteria. A avaliação é de que o basquete de clubes do continente ainda tem espaço para crescer em produto premium global.
A movimentação, porém, é vista com forte desconfiança pela Euroliga, competição hoje considerada o mais alto nível de clubes fora da NBA. Paulius Motiejunas, CEO da Euroleague Basketball, afirmou em entrevista que o projeto representa uma ameaça direta ao ecossistema atual, temendo fragmentação de calendários e saturação de torneios. Para ele, multiplicar ligas de elite pode confundir o torcedor e diluir marcas tradicionais do basquete europeu.
Especialistas em negócios do esporte lembram que a NBA já flerta com a expansão internacional há anos, mas agora sobe o tom. A liga organiza jogos de temporada regular em cidades como Paris, Londres e Berlim, testando demanda local e interesse de patrocinadores globais. O salto para uma competição estruturada em parceria com a FIBA marca mudança de patamar, com governança compartilhada e presença direta de donos americanos em um novo ativo europeu.
O impacto esportivo também é tema de debate entre dirigentes e treinadores na Europa. Uma liga chancelada pela NBA poderia atrair ainda mais talentos jovens do continente para ambientes controlados pela liga norte‑americana, em vez de fortalecer gradualmente os clubes locais e a própria Euroliga. Ao mesmo tempo, a FIBA argumenta que o formato com acesso meritocrático preserva o “modelo europeu”, dando a qualquer clube ambicioso a chance de chegar ao topo.
Para a NBA, o contexto é favorável: hoje cerca de 60 jogadores europeus estão na liga, incluindo nomes como Nikola Jokic, Luka Doncic, Giannis Antetokounmpo e Victor Wembanyama, responsáveis por títulos e prêmios de MVP recentes. Essa geração consolidou o continente como principal fornecedor de estrelas internacionais, reforçando o interesse de marcas e emissoras regionais em um produto com selo NBA. A expectativa é de que o tema avance nas próximas reuniões do Board of Governors, com nova votação de proprietários prevista para 2026.
A curto prazo, nada muda para torcedores brasileiros: Euroliga, NBA e competições de seleções seguem em seus formatos atuais. Mas o desenho de uma eventual “NBA Europe” pode alterar caminhos de atletas formados no Brasil que buscam rota via clubes europeus antes de chegar à liga americana.