De Messi a Maradona: a crise da Argentina em dez personagens

Uma vitória contra a Nigéria, às 15h desta terça-feira, em São Petersburgo, classificará a Argentina para as oitavas de final da Copa do Mundo se a Islândia não vencer a Croácia - se vencer, será preciso reverter o saldo de gols (os hermanos estão em desvantagem: -3 a -2). Mas isso não ameniza a enorme crise vivida pela seleção alviceleste, que tem o seu técnico contestado, seu maior craque sentindo o peso da responsabilidade, está em rota de colisão com a imprensa e até com um técnico conhecido por sua fanfarronice... O L! elegeu dez personagens para explicar a ebulição dos hermanos, de Sampaoli a Maradona, passando por Messi e Caruso Lombardi. (Por Fellipe Lucena)

JORGE SAMPAOLI - Principal alvo de jornalistas e torcedores, o técnico admite que não conseguiu achar uma equipe titular em um ano de trabalho. Contra a Nigéria, escalará o 13º time diferente em 13 jogos à frente da seleção, novamente com mudança de esquema tático: sai o 3-4-3 da derrota para a Croácia, entra o 4-4-2. Sua permanência no cargo após a Copa é tratada como improvável há tempos. Nesta semana, houve veículos publicando que os jogadores queriam sua saída imediata, informação negada pela AFA. De qualquer forma, o grupo expôs suas insatisfações em uma reunião no CT em Bronnitsy.

LIONEL MESSI - As atuações do craque nas duas partidas da Copa do Mundo refletiram a desorganização do time. Contra a Islândia, ele tentou resolver tudo sozinho, abusou das jogadas individuais, arriscou 11 finalizações e perdeu um pênalti. Saiu dizendo que se sentia responsável pelo empate por 1 a 1. Contra a Croácia, ao contrário, mal foi notado em campo durante a derrota por 3 a 0 e nem quis dar entrevista ao sair. É evidente que ele se sente responsável por evitar que essa geração fique marcada como derrotada e acaba sofrendo por isso. São quatro finais perdidas pela seleção e três Copas do Mundo sem a sonhada taça, sem contar a atual.

JAVIER MASCHERANO - Ao lado de Messi, o volante de 34 anos é o símbolo maior dessa geração. Ele tem dois ouros olímpicos no currículo, mas é marcado por ter perdido cinco finais com a seleção principal, com a qual nunca conquistou um título. No domingo, ele deu uma longa entrevista coletiva em que disparou contra os "mitos" que se criam sobre a seleção, chamou o técnico Caruso Lombardi de "pessoa nefasta" por dizer que houve uma briga no vestiário após a derrota para a Croácia e admitiu que os jogadores expuseram seus descontentamentos na reunião com Sampaoli. Já avisou que se aposentará da seleção após o Mundial.

RICARDO CARUSO LOMBARDI - Conhecido na Argentina por suas declarações bombásticas, o técnico (atualmente sem clube) tem feito diversos comentários sobre a seleção durante a Copa do Mundo. Em um deles, disse que Pavón agrediu Mascherano após o jogo contra a Croácia. Também tem repetido que os jogadores não aguentam mais Sampaoli e querem sua saída imediata. Foi por isso que Mascherano o definiu como "pessoa nefasta". No Twitter, Lombardi respondeu: "Sabia que sou a única pessoa do país que te colocaria como titular, Mascherano? Peça os vídeos! O que é ser nefasto? Dizer as verdades que ninguém se atreve a dizer?".

DIEGO MARADONA - O maior nome da história do futebol argentino faz questão de se fazer notar durante a Copa da Rússia. Além de ir aos jogos, onde chama a atenção por suas reações efusivas, o ex-craque faz comentários em um programa na TV argentina: já criticou Sampaoli, pediu para seu ex-genro Aguero ser sacado da equipe titular, defendeu Messi... Após a derrota para a Croácia, disse que deseja se reunir com os atletas na concentração. Por enquanto, não foi chamado para tal encontro.

CLAUDIO TAPIA - Presidente da AFA desde janeiro deste ano, é um dos alvos da fúria de Maradona, que já o acusou de tê-lo usado para se eleger e de estar transformando a Argentina em "Honduras ou Costa Rica". Em meio à crise após a derrota para a Croácia, o dirigente decidiu tomar a palavra para culpar a imprensa. Acusou os jornalistas de mentirem sobre o conteúdo da reunião entre jogadores e Sampaoli e pediu um voto de confiança: "Não se matem para saber qual será a escalação,porque isso também dá vantagem ao adversário. Muitos de vocês foram a três, quatro ou cinco Copas graças a esses jogadores".

WILFREDO CABALLERO - Bancado por Sampaoli como substituto de Romero, cortado por lesão, o goleiro reserva do Chelsea falhou feio contra a Croácia e ouviu críticas de todos os lados. Mais do que isso: deu subsídios para quem reclama do treinador, já que torcedores e jornalistas sempre pediram que Franco Armani, do River Plate, fosse o titular. O fato de ter falhado em um lance com os pés pesa ainda mais, já que sua habilidade para participar da saída de bola era apontada como um diferencial positivo. É provável que ele vá para o banco contra a Nigéria.

SERGIO AGUERO - O atacante faz parte da velha guarda da seleção, já que disputou as Copas de 2010 e 2014 e esteve nos vices da Copa América em 2015 e 2016. Ele foi ignorado por Sampaoli no início da passagem do técnico, mas conseguiu convencê-lo de que merecia um lugar no avião para a Rússia e, mais do que isso, ganhou a disputa com Higuaín para iniciar o Mundial como titular. Marcou um gol contra a Islândia - seu primeiro em Copas -, mas foi o primeiro a ser substituído diante da Croácia e externou sua insatisfação na zona mista. "Que ele fale o que quiser", disse, sobre Sampaoli. Também deve ir ao banco na terça.

PAULO DYBALA - Ao lado de Cristian Pavón, do Boca Juniors (ARG), o jovem da Juventus (ITA) é um dos atletas mais reivindicados por torcedores e imprensa, mas não tem espaço com Jorge Sampaoli e deve seguir na reserva contra a Nigéria. O curioso é que o meia-atacante foi titular nos quatro primeiros jogos de Sampaoli e perdeu espaço após declarar que tem dificuldades para jogar com Messi, uma vez que ambos executam funções semelhantes. Dybala só foi usado em três dos nove jogos da seleção após a polêmica frase, um como titular. Na Copa, foi acionado contra a Croácia, quando a situação já estava bem crítica.

GONZALO HIGUAÍN - O atacante da Juventus (ITA) virou símbolo das derrotas da Argentina nas finais da Copa do Mundo de 2014, contra a Alemanha, e da Copa América em 2015 e 2016, ambas contra o Chile. Ele perdeu chances claras de gol em todos esses jogos. Na Copa América de 2015, ainda errou sua cobrança na decisão por pênaltis. Mas deve ser ele o titular do ataque no jogo que vale a sobrevivência argentina na Copa do Mundo de 2018, no lugar de Aguero. Muda a história?