Em um torneio em que política e futebol caminharam juntos, o presidente da CBF, José Marin Marin, tem motivos por comemorar. Se antes da Copa das Confederações existia o temor de desgaste com sua figura em exposição, o desvio de foco para as manifestações pelo País e o título da Seleção aliviaram a carga que poderia cair em Marin.
Confira todos os vídeos da Copa das Confederações
Além de fatores externos terem ajudado, o mandatário da CBF e do Comitê Organizador Local (COL) manteve-se afastado o quanto pôde dos holofotes. Na abertura do torneio, estava ao lado do presidente da Fifa, Joseph Blatter, e da presidente da República Dilma Rousseff. Não apareceu no telão e escapou das vaias que atingiram em cheio as outras duas autoridades.
Naquele momento, o País já começava a entrar em ebulição. Nas portas do Estádio Nacional de Brasília, manifestantes entraram em confronto com policiais a exemplo do que havia acontecido durante a semana em diversos lugares do País. A contestação da Copa estava em pauta, mas a onda de passeatas teve início com o Movimento Passe Livre em São Paulo e englobava as mais diversas reivindicações.
No meio de pedidos por educação, saúde, melhora nos transportes e reclamações pelos altos gastos com a realização da Copa do Mundo, a contestação do nome de Marin e sua administração em frente à CBF ficou ofuscada. O futebol e seus problemas perderam importância para as mazelas de um País que saiu às ruas para pedir melhores serviços básicos.
O protesto mais significativo contra Marin em todo este período ocorreu no dia da final, quando um grupo de torcedores da Frente Nacional de Torcedores invadiu a nova sede da CBF gritando “vamos derrubar o Zé Medalha”. A referência é ao episódio ocorrido na final da Copa São Paulo de Juniores, em 2012, quando Marin embolsou a medalha de um dos corintianos campeões. O dirigente alega que tinha direito a uma condecoração.
Dentro de campo, a boa campanha brasileira não exigiu a presença de Marin em nenhum momento para apagar incêndios. O presidente manteve-se afastado da concentração da Seleção, longe dos holofotes, e concentrou a exposição de suas atividades no site oficial da CBF. Internamente, o presidente ainda sai fortalecido por ter trocado Mano Menezes por Felipão, que com a vitória da Copa das Confederações voltou a ficar em alta na opinião pública.
Tensão até o fim
O COL e Fifa apresentam nesta segunda-feira um balanço da Copa das Confederações no qual Joseph Blatter e José Maria Marin serão confrontados com os problemas apresentados no evento-teste. No meio de outros ajustes, a Fifa deixa o Brasil tendo como maior preocupação a agitação política que atingiu o País em junho.
Em um ambiente hostil e efervescente, a entidade virou alvo de manifestantes com um carro incendiado em Salvador e ameaças em Belo Horizonte. Blatter e o secretário-geral Jeróme Valcke ganharam espaço entre os vilões do Brasil em manifestações e precisaram reforçar a segurança durante a estadia.
Oficialmente a Fifa diz que ficou satisfeita com a Copa das Confederações e apoia manifestações pacíficas. Internamente, a entidade cobrou do Governo brasileiro maior preocupação com a segurança e deixa o País com receio de uma possível repetição de protestos violentos durante o Mundial de 2014.
Dos 16 jogos realizados no torneio, 14 foram precedidos de protestos contra a realização da Copa. Todos tiveram coique entre polícia e manifestantes. O mais violento ocorreu na semifinal entre Brasil e Uruguai em Belo Horizonte, onde um jovem de 21 morreu ao cair de um viaduto em meio a um corre-corre no entorno do Mineirão.
Dentro dos estádios, os protestos ocorreram por meio de cartazes que, segundo regulamento da Fifa, seriam proibidos de entrar. A regra não funcionou e a entidade ainda viu a cerimônia de fechamento ficar marcada por dois figurantes que exibiram faixas contra a privatização do Maracanã e contra o preconceito com gays.