O Fortaleza encerrou 2025 com um dos capítulos mais duros de sua história recente.
Depois de anos de estabilidade, participações seguidas na Libertadores e presença constante na parte de cima do futebol nacional, o clube viveu uma temporada marcada por decisões equivocadas, desmontes, trocas de comando e uma queda que só se confirmou na última rodada, justamente quando o time dependia apenas de si.
A derrota por 4 a 2 para o Botafogo, no domingo (7), somada aos resultados paralelos, sacramentou o retorno do Leão do Pici à Série B. O desfecho cruel contrasta com uma impressionante sequência de nove jogos invictos na reta final, insuficiente para compensar os erros acumulados desde janeiro e que agora servem de alerta para a diretoria, especialmente para o CEO Marcelo Paz.
Logo nos primeiros meses, ficou evidente que a montagem do elenco não tinha funcionado. Acostumado a combinar juventude com experiência, o Fortaleza entrou em 2025 com um grupo desequilibrado: contratações como David Luiz (37 anos), Pol Fernández (33), Diogo Barbosa (32) e Deyverson (33) se juntaram a um plantel já formado por 10 jogadores acima dos 30 anos. A falta de intensidade, somada ao baixo rendimento dos reforços, cobrou seu preço.
Antes mesmo do meio do ano, David Luiz e Pol Fernández deixaram o clube, enquanto Deyverson acabou afastado. Em campo, nomes importantes de outras temporadas, como Moisés, Pikachu e Marinho, não conseguiram entregar o desempenho esperado.
Os primeiros meses foram um acúmulo de decepções, com um vice-campeonato cearense, eliminação precoce na Copa do Brasil para o Retrô-PE e apenas duas vitórias nas 12 primeiras rodadas do Brasileirão, já à beira da zona de rebaixamento quando o futebol nacional parou para o Mundial de Clubes em junho.
O retorno não trouxe alívio: eliminação para o Bahia na Copa do Nordeste e derrota no Clássico-Rei acenderam o alerta vermelho.
A sequência de decisões erráticas atingiu o auge no momento de definir o comando da equipe. Mesmo após um longo período de paralisação, parte dele com férias, parte com treinamentos, Juan Pablo Vojvoda foi demitido na primeira partida do retorno, após perder para o Ceará. A escolha surpreendeu, já que Vojvoda era ídolo e vinha sendo defendido publicamente pela diretoria.
No lugar do argentino, Marcelo Paz apostou em Renato Paiva. A decisão, ousada e contraditória, não deu certo. Em um mês, Paiva venceu apenas uma partida em dez e afundou ainda mais o Fortaleza, que chegou a ficar nove pontos atrás do 16º colocado na 22ª rodada. O time também foi eliminado pelo Vélez Sarsfield no primeiro mata-mata da Libertadores, competição na qual só avançou às oitavas graças a um W.O. diante do Colo-Colo.
A guinada só começou quando o clube assumiu um risco ainda maior e trouxe Martín Palermo. A aposta improvável se transformou em um dos poucos acertos do ano.
Com Palermo, o Fortaleza encontrou um caminho. Mesmo com tropeços iniciais, com quatro derrotas nos primeiros sete jogos, o time reencontrou competitividade. Vitórias sobre rivais diretos, como Juventude, Sport e Vitória, recolocaram o Leão na briga.
A virada de chave teve nome e data: o triunfo sobre o vice-líder Flamengo marcou o início da formação de um quarteto ofensivo que remodelou o time. Pochettino, Herrera, Breno Lopes e Adam Bareiro passaram a conduzir a equipe, apoiados por reforços de meio de ano como Pierre, que se consolidou como titular absoluto, e o lateral Eros Mancuso.
Bareiro, em especial, viveu uma transformação: após 12 jogos sem balançar as redes, marcou contra o Juventude e engatou cinco gols e uma assistência nos nove jogos seguintes. Seu desempenho rendeu diretamente 12 pontos na reta final.
A vitória sobre o Corinthians, na 37ª rodada, tirou o time da zona de rebaixamento pela primeira vez desde a 12ª. Brenno, em grande fase, fez defesas decisivas; Pochettino e Herrera, recuperados por Palermo, foram protagonistas.
Mas, no fim, não foi suficiente.
A queda na última rodada não invalida o trabalho do treinador argentino, que resgatou o espírito competitivo da equipe e recolocou o clube no rumo após meses de turbulência. A tendência é de permanência para 2026, ano em que o clube precisará novamente trilhar o caminho da reconstrução, algo que já viu dar certo no passado.
Para Marcelo Paz, porém, fica a necessidade urgente de rever escolhas, entender os erros e evitar que 2025 volte a se repetir. O torcedor viu lampejos de um time capaz de reagir, mas também testemunhou um planejamento que saiu do trilho desde o início.