Durante a conferência de imprensa realizada pela Estrella Galicia 0,0, o atual campeão falou sobre a sua lesão em Jeréz, a conquista do título, o incidente com Bezzecchi, a dificuldade de Pecco e a histórica dobradinha do campeonato com seu irmão, Álex.
Durante o Grande Prêmio da Indonésia, Marc Márquez lesionou a clavícula após um acidente com Marco Bezzecchi, ainda na primeira volta. A lesão tirou Márquez do restante da temporada, mas o atual campeão afirma que não está chateado com o acontecimento.
“Não me aborreci, não tive tempo para isso. Concentramos todos estes dias em reduzir as rotações e começar com a recuperação, que está indo bem. Tive uma consulta com os médicos e já não uso a tipóia, mas respeitamos o tempo e desfrutamos destes dias maravilhosos que o Mundial deste ano nos deu”.
O espanhol afirma que não tinha nenhum conhecimento sobre o vídeo especial que foi reproduzido em Motegi após a conquista do título:
“Eu não sabia nada sobre isso, nem sobre o que seria a celebração, nem nada, mas todos à minha volta acertaram com esse "More than a number" (Mais que um número), porque foi mais do que um título, pela forma como foi conquistado e pelo calvário que passamos desde 2020”
“Foi uma explosão de emoções. Sempre conto que numa sessão de fotos na quinta-feira, estava no track walk e os pilotos de Moto3 já diziam: “O que está acontecendo ali no final da reta?”, que era onde estavam montando o palco. Mudei o discurso a todos os colegas de imprensa, para: quero fechar já o título. Ainda bem que o título chegou lá, porque depois veio a lesão. Foi uma lesão injusta, mas estas coisas acontecem”
Marc afirma que ficaria feliz mesmo se tivesse perdido o título para Álex pois um dos Márquez levaria o troféu para casa. O eneacampeão não vê este cenário como um fracasso.
“Teria me sentido contente por ser competitivo mais uma vez, o título teria ido para meu irmão, Álex, e ficaria em casa. Mas ser campeão, com todos os movimentos que fiz, respeitando os passos que devia dar... O fracasso seria não tentar, e eu tentei”
“A verdade é que este 2025 foi um ano histórico, não só pelo que conseguimos, mas pela forma como foi feito. Terminar a MotoGP com dois irmãos em primeiro e segundo lugar nunca tinha acontecido e me atrevo a dizer a 90% que ninguém voltará a conseguir. Dois irmãos que chegaram ao nível máximo do motociclismo. Este foi o ano mais bonito da minha carreira! Tive anos muito bons, mas compartilhar essas emoções com um irmão é algo que não dá para explicar"
O piloto acrescentou a importância da presença de Álex em sua vida, principalmente enquanto enfrentava momentos difíceis:
"Álex sofreu comigo durante estes anos. Já disse muitas vezes que foi quem mais me ajudou. Fez com que nunca me desligasse do motociclismo, já que ele continuava nas corridas. É muito fácil desligar, porque se quer evitar esse sofrimento de estar lesionado e não poder competir, mas ter o meu irmão me ajudou a tomar algumas decisões. Com os conselhos dele, consegui ser campeão novamente. Se ele não os tivesse dado, o campeão teria sido ele. Nos alegramos pelo o que conseguimos, foi o melhor ano da nossa trajetória e também um dos melhores da nossa vida”.
O pódio em Motegi foi muito especial para Marc. Estava ali, sendo campeão com a Ducati mas também tinha a Honda ao seu lado, subindo no terceiro degrau.
“Sempre tentei ser próximo e humano com todas as equipes em que estive e terminar a relação da melhor maneira. Quando se é honesto é fácil”
“No Japão, alguém do céu disse: “O pódio tem que ser assim, com a Ducati e a Honda”, que Joan Mir levou ao pódio, mas era a equipe com a qual eu celebrei tantos títulos. Faltava apenas o Álex, mas só havia três lugares no pódio, mas faltava apenas a Gresini; tenho uma grande relação com eles e estou muito contente por onde levaram o Álex e por como o Álex os levou ao vice-campeonato”.
A dobradinha com seu irmão foi algo histórico. O piloto comentou sobre o acontecimento e ressaltou a competitividade de Álex:
“A única maneira de melhorar é inverter as posições. Vimos aqui que o Álex será um dos rivais; é uma moto de fábrica e ele demonstrou ser capaz de tudo, mas sem esquecer todos os outros rivais e marcas, que vão melhorando e estão cada vez mais perto”
Após conquistar nove títulos, sendo sete deles na categoria rainha, Márquez explicou como continua encontrando motivações depois de se consagrar campeão mais uma vez:
“As motivações continuam as mesmas, assim como as ambições, e cada momento tem a sua motivação. Regressei de anos muito difíceis e essa foi a maior motivação para ficar em paz comigo mesmo e que tudo ficasse numa recordação.
Voltei a ganhar e com isso fico tranquilo; é verdade que depois de Motegi senti como uma transição, não tinha vontade de pilotar a moto e queria estar em casa e, embora não pelo que queria, acabei em casa para descansar, limpar a mente e voltar a pensar em lutar por um título. Embora a vontade vá por dentro, nunca se perde”
O parafuso em seu úmero está dobrado mas não foi resultado da sua queda na Indonésia. Marc afirmou que isso foi consequência de outra lesão e que competiu com ele assim durante a temporada:
“Viram isso em uma radiografia feita após a queda na Indonésia. Quando o meu fisioterapeuta, Carlos García, chegou, eu disse para não se preocuparem com isso, porque já corri assim durante todo o ano. Operei o ombro no fim de 2019 e, após uma força no úmero, essa operação foi danificada e um dos parafusos quebrou e dobrou o outro.
É uma coisa com que convivo. Somente eu e meus médicos sabemos o que há dentro deste braço. Meu trabalho é fazer as coisas das melhores maneiras e trabalhar mais do que ninguém para que na próxima temporada falem mais dos meus resultados do que do meu estado físico”
Desde que saiu do centro médico em Mandalika, Marc não se revoltou contra Bezzecchi pelo acidente. Quando questionado sobre a situação, explicou o porquê:
“Porque tenho 32 anos, muita experiência e vi que são coisas que acontecem nas corridas. Ninguém cria uma ação perigosa de forma voluntária. Aos 20 anos teria visto de forma diferente, mas aos 32 sou o que tem mais experiência na MotoGP e não faz sentido linchar um piloto por um erro. Amadurecemos e crescemos à frente das câmeras, mas quem tem mais de 30 anos tem de medir o que diz, porque tem experiência suficiente.
“Quanto à lesão, foi injusta, porque era momento de celebração, mas também chegou no melhor momento da temporada porque já estava tudo decidido”, completou.
O atual campeão também falou sobre o momento da lesão:
“Quando cai notei que algo não estava bem. Estava tranquilo na Indonésia, mas a preocupação ia por dentro e, por sorte, não afetou as lesões anteriores. Os médicos me disseram que se respeitar os tempos não haverá sequelas e por isso não forço. Ser mais ou menos competitivo em 2026 será marcado pelo meu físico, não pelo teste de Valência ou por fazer mais alguma corrida em 2025. Essa é a minha prioridade agora”
Márquez também falou sobre o momento em que percebeu que poderia conquistar o título:
“Cheguei em uma equipe em que havia um bicampeão do mundo, que era o favorito. Entendi que podia ser um grande ano no Catar, embora depois tenha chegado a Jerez e tenha caído. Mas quando comecei a fazer corridas como Mugello ou Assen, foi quando acabei por me convencer. No próximo ano, quero manter o perfil discreto, lutar pelo título.
Marc comentou sobre a temporada de Pecco, seu companheiro de equipe:
“Me sinto mal por ver um colega de equipe assim, sobretudo porque contribui muito para o projeto ter dois pilotos em forma. Viveu uma montanha-russa total, que nem ele mesmo explica. O melhor que lhe pode acontecer é que chegue o inverno, faça um reset e volte ao melhor nível em 2026. Vimos no Japão, na Malásia que ele não se esqueceu como pilotar e que é rápido. Esperemos, pelo bem da Ducati, que reencontremos o Pecco e que possa contribuir muito”.
Quando questionado se vencer aos 32 anos contra uma geração mais jovem, após ter passado por tudo nos últimos anos, tinha um valor maior do que vencer na grande geração dos “4 fantásticos”, Marc respondeu qual fase foi mais difícil:
“Quando você chega aos 20 e vence os outros três, ainda não tem consciência nem do que é a MotoGP, nem do que implica fazer isso. Para mim foi muito mais difícil, e já disse que esse foi o maior desafio. Ganhar aos 32, é possível, e aos 33, aos 34... Se não tivesse tido lesões, o meu estado de forma teria sido ainda melhor.
“Mas sacrifiquei muitas coisas para que se fale dos meus resultados e não de lesões. Este ano nunca me perguntaram sobre o braço e quero que seja assim em 2026. Não senti limitações em 2025 e não quero sentir essas limitações nos próximos anos”, completou o campeão
Márquez afirmou que ainda não sabe se realizará o teste em Sepang, pois quer dar o tempo de recuperação necessário à clavícula:
“Não posso confirmar a 100%, mas espero estar em cima de uma moto antes mesmo do teste de Sepang. Mas respeitando os prazos, as radiografias, o TAC... Que procedam no tempo justo e necessário, mas a recuperação está indo muito bem”.
Marc afirma que é difícil igualar os “12+1” de Ángel Nieto e comenta sobre as próximas gerações:
“Os vejo muito longe porque tenho neste momento 9, 7 de MotoGP. Vamos um por um, não quero me obcecar. O maior desafio da minha carreira é o que disse antes, se formos competitivos tentaremos lutar por Mundiais, mas mais cedo ou mais tarde começarei a notar a quebra. Chegarão novas gerações que te dirão “Vamos um pouco mais rápido do que você”
Para o próximo ano, o piloto acredita que a competição será grande:
“Vamos ver como as fábricas trabalham durante este inverno, mas a Aprilia não será surpresa. Bezzecchi estará lá e lutará pelo título, Álex estará e tem que lutar pelo Mundial. E creio que a KTM e o Acosta não serão nenhuma surpresa. Melhoraram e estão a melhorar, e vão lutar pelos três primeiros em cada corrida. Também não me esqueço do Pecco, mas falaremos dos rivais em fevereiro ou março”
A MotoGP retorna às pistas no dia 14 de novembro para dar início a sua última corrida da temporada: o Grande Prêmio de Valência