AlphaTauri se perde em desenvolvimento tardio, erra e vê rivais crescerem em 2022

AlphaTauri despencou no pelotão intermediário em uma primeira metade de temporada desastrosa em 2022. A equipe de Faenza demorou a atualizar o seu AT03 e cometeu erros demais ao longo das 13 corridas iniciais. Foram equívocos de toda a sorte, como operação, estratégia e confiabilidade. Por isso, se vê à frente somente de Aston Martin e Williams

14 ago 2022 - 04h15
A AlphaTauri despencou no pelotão intermediário em 2022
A AlphaTauri despencou no pelotão intermediário em 2022
Foto: AlphaTauri / Grande Prêmio

A bem da verdade é que o projeto da AlphaTauri para 2022 nasceu chocho, capenga, anêmico e tudo mais daquele famoso meme de Renata Vasconcelos. Não é exagero. A esperança de um salto de qualidade diante de um novo regulamento caiu por terra logo nos primeiros quilômetros de testes. O AT03 apresentou deficiências graves e de difícil solução, sobretudo em função do crônico porpoising. Mais tarde, também se descobriu outros problemas técnicos que acentuaram a dificuldade do time em somar pontos, além de diversos equívocos que desviaram a equipe italiana de uma posição mais à frente na tabela. E no topo de tudo, está o demorado pacote de atualizações que acabou por minar qualquer chance de escalar o pelotão no fim da primeira fase da temporada da Fórmula 1.

O modelo criado pela esquadra de Faenza, dentro das regras que trouxeram de volta o efeito-solo, enfrentou inicialmente o impacto dos quiques. Assim como a Mercedes, o carro branco e azul também saltava demais e obrigava os engenheiros a elevar o assoalho, como medida para amenizar os pulos. Só que essa manobra também causa uma queda da eficiência aerodinâmica, um problema que perseguiu a equipe durante boa parte do campeonato. Também como consequência, a configuração do carro provocou um enorme desgaste dos pneus, e isso foi letal em classificação.

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"Muitas vezes, até consigo fazer uma volta boa, dependendo da aderência do pneu novo, mas depois de cinco voltas escorrego cada vez mais, e isso em corrida significa que seus adversários vão embora. É um pouco frustrante porque no ano passado tivemos uma temporada fantástica, e eu estava muito otimista antes de 2022, considerando a mudança de regulamento e o teto orçamentário, mas está sendo muito pior do que esperávamos", reconheceu Pierre Gasly em entrevista à versão italiana do site Motorsport.

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Pierre Gasly é o responsável pela maior parte dos pontos da AlphaTauri em 2022
Foto: AlphaTauri / Grande Prêmio

Quer dizer, sem um comportamento regular dos pneus em um carro desequilibrado, a AlphaTauri perdeu uma de suas melhores qualidades até o ano passado: a performance durante a definição do grid de largada. Se antes Gasly conseguia registrar tempos competitivos para avançar às fases mais decisivas, neste ano o francês ficou vendido. Isso porque é necessário sempre um jogo a mais para tentar escalar a sessão mais importante do fim de semana. Dessa forma, não foi raro notar Gasly e também Yuki Tsunoda quase sempre na parte de baixo da tabela.

"Uma das razões para a nossa temporada está ligada à perda de competitividade na classificação, uma frente em que estávamos indo muito, muito bem no ano passado. Eu estava constantemente no Q3. E no Q1 eu só precisava de um jogo de pneus para passar, e esse é o primeiro motivo que nos afetou neste ano, ou seja, não somos competitivos o suficiente na classificação, e isso torna as corridas difíceis", confirmou Pierre.

Não há muita dúvida sobre isso, de fato. Começar do fundo do grid é sempre um risco e é onde mais se fica sujeito a todo o tipo de sorte. Gasly, inclusive, se viu nesse cenário algumas vezes - como na Espanha e na Áustria. Mas há outros motivos que explicam a queda de rendimento do time comandado por Franz Tost. Diferentemente do ano passado, quando após 13 corridas, a esquadra somava 84 pontos e surgia em sexto, o 2022 tem sido amargo: oitavo posto, só à frente de Aston Martin e Williams, além de 27 tentos.

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Além de ter de lidar com uma degradação considerável dos pneus, o AT03 possui uma falta de downforce em alta velocidade que tira da equipe a chance de progredir no grid. E essa foi uma falha que o grande pacote de atualizações visto na França - sim, a AlphaTauri levou 12 etapas até promover mudanças significativas - tentou corrigir, mas sem muito sucesso. Então, também se pode dizer que esse desenvolvimento tardio teve papel crucial no resultado ao fim dessa primeira fase de temporada.

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Em que pese esses problemas, o carro italiano tem lá seus pontos fortes: a aderência mecânica é um deles. Ainda que seja um modelo lento em curvas, o AT03 se deu bem em trechos de baixa velocidade - em Mônaco e, principalmente, no Azerbaijão, onde Gasly foi o sexto no grid e completou a prova na quinta posição. O melhor resultado até aqui.

Apesar disso, a equipe seguiu fracassando em outros aspectos que pesaram na performance geral. E a confiabilidade representa grande parte deste déficit de pontos, por exemplo. No Bahrein, apesar do oitavo lugar de Tsunoda, Pierre abandonou por falha no motor. Na Arábia Saudita, o japonês sofreu com problemas hidráulicos durante todo o fim de semana e, antes mesmo da corrida, na volta de saída dos boxes para o grid, teve de recolher por conta da unidade de potência.

Em Miami, o francês quebrou de novo, mais uma vez enquanto estava na zona de pontuação. Já Tsunoda reclamou de falta de aderência, saindo zerado. Em Barcelona, a tragédia aconteceu antes mesmo da corrida: Gasly sofreu com mais uma quebra, dessa vez nos treinos livres, e andou com um carro visivelmente longe das condições ideais. Em Baku, o piloto nipônico sofreu uma inexplicável falha na asa traseira, que o tirou dos pontos.

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E como desgraça pouca é bobagem, a AlphaTauri também protagonizou erros de operação e estratégia. O equívoco mais grave aconteceu em Mônaco, durante a primeira parte da classificação. Os engenheiros calcularam mal o tempo para a saída dos boxes, e Gasly acabou caindo no Q1. Mas houve problemas no Canadá, na Emília-Romanha e na Inglaterra. Escolhas errôneas de pneus, bem como de ação nos pit-stops. É bem verdade que os pilotos contribuíram, sobretudo Tsunoda, que chegou a colidir com Gasly em Silverstone. Mesmo assim, a balança cai mais para o lado da equipe.

"Este ano a situação é muito diferente e, além de não sermos muito competitivos, tivemos vários problemas com o carro, até coisas estúpidas, como o fundo que quebra nas voltas pré-grid ou durante a corrida, depois contatos, acidentes, falhas mecânicas, problemas com os freios, até mesmo um incidente na classificação em Mônaco que me fez perder o giro final, muitas pequenas coisas que afetam todo o fim de semana", reconheceu Gasly.

"Às vezes, foi possível levar alguns pontos para casa, mas se você começa do fundo do grid sempre arrisca muito na primeira curva, se expõe a imprevistos e, neste aspecto, isso se reflete no resultado. Mesmo com o carro deste ano, que não é tão bom quanto o da temporada passada", completou.

Portanto, é certo dizer que, tal como a Ferrari, a AlphaTauri se colocou como inimiga de si própria. E terá uma segunda fase de temporada ainda mais trabalhosa, diante da posição em que se encontra. Além de fazer as atualizações funcionarem, a equipe italiana terá de enfrentar equipes que vivem um salto de qualidade, como a Haas, Alfa Romeo e Alpine. É uma corrida contra um tempo que o time de Faenza já não tem.

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