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Ayrton Senna morreu: onde eu estava em 1º de maio de 1994?

Morte do tricampeão mundial completa 30 anos nesta quarta-feira, 1º, e ficou marcada na vida dos fãs brasileiros

1 mai 2024 - 00h01

"Senna bateu forte, Senna escapou e bateu muito forte". Para milhões de brasileiros que estavam sentados em frente à televisão na manhã do domingo, em 1º de maio de 1994, foi assim que o último ato de Ayrton Senna em uma pista de Fórmula 1 foi narrado por Galvão Bueno, na TV Globo.

Os segundos seguintes ao acidente na curva Tamburello, em Ímola (Itália), no GP de San Marino, pareceram uma eternidade. Os fãs do automobilismo compartilhavam a angústia de Galvão, que era amigo próximo do tricampeão mundial. "Demora para chegar o socorro, demora absurda", reclamava o locutor na transmissão oficial.

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O silêncio tomou conta de boa parte dos fãs. Incrédulos, todos olhavam para a Williams destruída em busca de algum sopro de vida. Galvão chegou a dizer que Senna teria mexido a cabeça, como um último gesto em vida do piloto brasileiro.

Ayrton Senna morreu após acidente no GP de Ímola, em 1994
Ayrton Senna morreu após acidente no GP de Ímola, em 1994
Foto: Alberto Pizzoli/Sygma/Sygma / Getty Images

Na minha casa, assim como em grande parte dos lares brasileiros, o almoço daquele domingo nunca foi servido. Ninguém queria acreditar que o pior tinha acontecido.

Enquanto boa parte ainda parecia viver nos versos do ritmo do momento no País e "negar as aparências e disfarçar as evidências", o 'feeling' de Téo José vendo as imagens não foi bom logo de cara. "Estava em minha casa em São Paulo vendo a corrida, mas não peguei a prova desde o começo. Quando comecei a ver as cenas do acidente, senti que era uma coisa muito grave e entrei em contato com o meu produtor na rádio em que eu trabalhava, onde fazia Fórmula Indy, e perguntei se precisava de alguma ajuda. Quando eu cheguei à emissora, um pouco depois, chegou à informação oficial que ele tinha morrido", relembrou o locutor.

Foto: Arte/Terra

O também narrador Sergio Mauricio, atual voz da Fórmula 1 no Brasil pela Band, passou pela mesma situação de Téo José e não teve muito tempo de processar o acidente de Senna: "Eu estava em casa, fui logo chamado pela TVE, começamos o trabalho de noticiar, de trazer o máximo possível de informações. Eu estava de folga e fui trabalhar."

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A notícia que ninguém gostaria de dar, como bem disse Roberto Cabrini ao ser o repórter que entrou ao vivo no plantão da TV Globo, veio às 13h42 (horário de Brasília): "Ayrton Senna da Silva está morto".

Foi justamente dessa maneira que Renata Fan recebeu o comunicado: "Lembro que eu estava em casa, em Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul, com os meus pais, com o meu irmão, e foi um dia de luto profundo, de depressão, de tristeza absoluta, de incredulidade e, realmente, foi uma data muito ruim. Até hoje, ela mexe de uma maneira negativa, como se não tivesse acontecido. Perder um ídolo é uma das coisas mais difíceis para quem realmente é apaixonado por uma personalidade, por alguém que fez toda a diferença."

Ayrton Senna do Brasil: morte do tricampeão mundial de Fórmula 1 completa 30 anos
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E já pensou você ter Senna como ídolo, sonhar em trilhar os mesmos passos do tricampeão mundial e ter que entrar na pista depois de uma manhã trágica como aquela? Isso aconteceu com Felipe Giaffone e Wax Wilson, que corriam o Sul-Americano de kart em Florianópolis, em Santa Catarina.

"Fui vice-campeão sul-americano. Esse dia foi muito triste, a gente ainda estava desacreditado. O pódio não teve nem champanhe. Acompanhamos a corrida de manhã e tive essa corrida à tarde. Talvez a corrida mais triste que eu fiz na minha carreira. Lembro como se fosse hoje", diz Giaffone. "Estava com pessoas que conheceram ou trabalharam com o Senna. Nunca vamos esquecer onde estávamos e eu estava lá", completou Wilson.

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Foto: Arte/Terra

A dimensão do que representou a morte de Senna talvez só tenha sido sentida quando o corpo do piloto chegou ao Brasil e percorreu a maior cidade do Brasil em cima de um carro do Corpo de Bombeiros. Durante todo o trajeto -- do aeroporto de Guarulhos até o cemitério do Morumbi--, uma multidão tomou conta das ruas de São Paulo.

Lágrimas, faixas e gritos de "Olê, olê, olê, olá... Seeeeena, Seeeeena". Era o reconhecimento e a tristeza pela morte de um dos poucos motivos de alegria de uma população que tinha acabado de passar pelo impeachment do seu primeiro presidente eleito por voto direto e sofria com altas taxas de inflação.

Fãs choram a morte de Ayrton Senna durante velório do ídolo em 1994
Foto: Pascal Le Segretain/Sygm / Getty Images

"A minha ficha só foi cair quando o corpo dele chegou. Eu tava indo ao aeroporto de Guarulhos pegar a minha mãe, no fluxo contrário onde vinha o corpo do Senna no carro do Corpo de Bombeiros. Deu para a gente ver em repercussão o que foi a morte do Senna. A Avenida 23 de Maio estava tomada, e, no rosto de cada fã, você via uma tristeza enorme", relembra Téo José.

Já se passaram 30 anos desde aquele trágico domingo, mas nunca ninguém vai esquecer o que fazia quando Senna perdeu o controle da Williams a mais de 300 km/h. Aqueles que ainda não tinham nascido vão ser sempre impactados pela história dos mais velhos ou por cada execução do Tema da Vitória, composto pelo maestro Eduardo Souto Neto e com arranjo do grupo Roupa Nova.

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Legado de Senna

Foto: Arte/Terra

Os feitos de Senna serão eternos, assim com a sua importância para a história do automobilismo mundial. "Acho que o maior legado que o Ayrton Senna deixou para o Brasil todo e para todos os pilotos em geral foi a dedicação, o trabalho, a motivação e a vontade de vencer. [Ele ensinou que] para vencer, você tem que trabalhar muito e se dedicar muito. Ele foi, sem dúvida, um dos pilotos mais dedicados, deixou um legado muito importante, além do amor pelo Brasil, pelas pessoas em geral. É, sem dúvida, o piloto mais rápido que apareceu nesse mundo do automobilismo", afirma Felipe Massa, que foi vice-campeão mundial de Fórmula 1.

"Eu acho que o respeito quando eu cheguei à Europa, por ser um piloto brasileiro, do resultado e do talento, era o respeito de ser brasileiro, por tudo aquilo que o Senna deixou, mostrando o Brasil fora do Brasil. O Brasil que eram os pilotos brasileiros quando chegavam fora do Brasil, com muito respeito”, completa.

E o tricampeão mundial não é exemplo apenas para quem ama viver a emoção da velocidade. "Senna é uma referência máxima, não apenas porque foi um grandíssimo piloto, diferenciado, vencedor de títulos, com corridas épicas, mas principalmente pelo aspecto humano. Ele era determinado, não desistia nunca, conseguia reverter situações que pareciam impossíveis de serem revertidas, e ele fazia algo milagroso, algo que enchia o povo brasileiro de esperança, de confiança e fé no talento dele. Então, realmente, isso é que faz toda a diferença, é esse legado que ele deixa para essa nova geração de pilotos", exemplifica Renata Fan.

"Quando se fala em Senna, eu lembro da palavra superação, lembro também de determinação. Ayrton Senna sempre será aquele homem que fazia o Brasil se sentir diferente, prestigiado, honrado e ele era um piloto excepcional e, acima de tudo, um homem que encantava, que tinha carisma. É tudo isso que me vem na cabeça quando eu penso no nome e no sobrenome Ayrton Senna", completa ela. 

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Corridas inesquecíveis

Foto: Arte/Terra

Ao todo, Senna venceu 41 provas na história na Fórmula 1. Porém, a mais emblemática não é nenhuma que valeu título mundial. No GP do Brasil de 1991, ele quebrou o jejum e ganhou a corrida em casa pela primeira vez.

O 28º triunfo veio debaixo de chuva, conduzindo a McLaren nas últimas voltas apenas com a sexta marcha após um problema na caixa de câmbio. Ao cruzar a linha de chegada em primeiro lugar, a torcida em Interlagos explodiu. O esforço para não ficar pelo caminho mais uma vez estava estampado no rosto de Senna. Exausto, ele quase não teve forças para levantar o troféu.

Por todo esse contexto, é difícil quem não aponte essa como a vitória mais marcante na carreira de Senna. "Ele [Senna] era monstro, né, toda corrida dele era uma corrida emocionante, mas aquela que ele ganhou no Brasil e, que depois, a gente descobriu que ele tava três marchas a menos, aquilo ali foi a absoluta superação, foi um momento que as pessoas invadiram a pista. Eu tava no Autódromo nesse dia, trabalhando pela Rádio Jovem Pan, vivi aquilo, foi sensacional", relembrou Téo José.

O sentimento também é compartilhado por Sergio Mauricio. "Foi uma vitória com gosto especial, se esgotou muito fisicamente e mentalmente, foi em 29 de março em 1991", contou, lembrando até a data do triunfo.

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"Dava para ouvir da arquibancada que ele estava com problema. Eu estava lá com o meu irmão e com o meu pai. Achamos que ele não ia chegar até o final, mas depois veio a chuva milagrosa e ele conseguiu se manter. Foi muito legal", recordou Felipe Giaffone.

Ayrton Senna
Foto: Pascal Rondeau/Allsport / Getty Images

O glamour da vitória no GP do Brasil vai sempre existir, mas, para Max Wilson, não vai ser capaz de substituir a emoção do convite recebido para correr no kartódromo na fazenda de Senna, no interior de São Paulo, na companhia do tricampeão. Isso antes do GP do Brasil de 1994, o último disputado pelo piloto brasileiro antes do acidente fatal.

"Estava lá na pista dele, de repente ele chegou e deu oi para todo mundo. Ele se apresentou. É bem engraçado ele ter que se apresentar para a gente, né? Foi a primeira e única vez que eu estive com ele. Tinha uns seis ou oito pilotos que tinham sido convidados e ele veio até a mim, pediu para eu puxar o sobrinho dele, o Bruno Senna. Puxar no kart, quer dizer, eu saia na frente com o kart para o sobrinho dele me seguir. Obviamente, falei: 'Lógico, posso fazer isso com todo o prazer', aí puxei o Bruno e fiquei lá um pouquinho, a gente ficou o dia inteiro na pista dele lá."

"Dos pilotos que eu via, na minha opinião, tinham pilotos diferentes, com qualidades diferentes, mas nenhum era completo como o Senna era, na minha opinião. E além disso, é um dos poucos exemplos do esporte, de qualquer esporte, na minha opinião, de uma pessoa que foi excepcional dentro do esporte, no caso dele dentro do automobilismo, mas fora do esporte também como ser humano, como pessoa, então eu acho que isso aí torna ele uma pessoa ainda mais espetacular", elogiou Wilson.

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*Juliana Cruz e Reginaldo Tomaz colaboraram com a reportagem. 

Fonte: Redação Terra
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