Uma semana depois de o senador Flávio Bolsonaro (PL) sacudir os mercados com sua candidatura à Presidência, a sexta-feira já refletiu um ambiente de maior acomodação no cenário político, o que abriu espaço para a queda firme das taxas dos DIs.
O movimento ocorreu a despeito de, no exterior, os rendimentos dos Treasuries subirem, com os investidores ainda ponderando a decisão mais recente do Federal Reserve.
No fim da tarde, a taxa do DI para janeiro de 2028 estava em 12,975%, em baixa de 15 pontos-base ante o ajuste de 13,124% da sessão anterior. Na ponta longa da curva, a taxa para janeiro de 2035 marcava 13,43%, em queda de 12 pontos-base ante o ajuste de 13,549%.
Após os fortes avanços das taxas desde a semana passada, as preocupações com Flávio -- nome indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, preso por tentativa de golpe de Estado -- foram diminuindo, ainda que o senador siga candidato.
Notícias na imprensa de que Flávio tenta uma aproximação com a Faria Lima, inclusive sinalizando uma agenda econômica pró-mercado, ajudaram a acalmar os ânimos, pelo menos por enquanto, ponderou um operador ouvido pela Reuters.
"O (cenário) político mais calmo deixa o mercado voltar a dar protagonismo para os dados", confirmou Laís Costa, analista da Empiricus Research, chamando a atenção para os números da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) divulgados no início do dia.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o volume dos serviços cresceu 0,3% em outubro ante setembro, desacelerando em relação à alta anterior de 0,7%. Economistas em pesquisa da Reuters esperavam por elevação de 0,2% em outubro.
As cinco atividades do indicador apresentaram elevações, com avanço de 1% em transportes e de 0,5% em outros serviços.
"Os dados da PMS de hoje de manhã ajudaram. Embora o número fechado tenha vindo em linha... o que puxou para cima foi a categoria 'outros serviços', que são de uma natureza mais volátil", avaliou Costa. "O que é mais estrutural veio mais fraco. Isso significa atividade desacelerando mais, e mais conforto para (o Banco Central) cortar juros."
Durante a tarde, com os rendimentos dos Treasuries reduzindo seus ganhos, as taxas dos DIs renovaram mínimas no Brasil, em paralelo à notícia de que o Departamento do Tesouro dos EUA removeu o nome do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes da lista de pessoas sujeitas a sanções sob a Lei Magnitsky.
Este é mais um capítulo da reaproximação entre EUA e Brasil, após Washington já ter colocado abaixo várias das tarifas comerciais cobradas sobre produtos brasileiros.
Às 15h38, a taxa do DI para janeiro de 2035 atingiu a mínima de 13,410%, em baixa de 14 pontos-base ante o ajuste da véspera.
Na próxima semana, os agentes estarão atentos à divulgação da ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, na terça-feira, e do Relatório de Política Monetária, na quinta-feira -- neste caso, acompanhada de entrevista coletiva com o presidente do BC, Gabriel Galípolo.
Após o BC manter a Selic em 15% na última quarta-feira, sem passar indicações firmes sobre quando começará a cortar juros, a ata e a coletiva de Galípolo são vistas como fundamentais para o ajuste de posições sobre a política monetária.
No exterior, após o Federal Reserve cortar sua taxa de referência em 25 pontos-base na quarta-feira, para a faixa entre 3,50% e 3,75%, os ativos precificavam nesta tarde de sexta-feira 77,9% de probabilidade de manutenção dos juros em janeiro, contra 22,1% de chance de novo corte na mesma magnitude, conforme a Ferramenta CME FedWatch.
Às 16h38, o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- subia 5 pontos-base, a 4,194%.