O dólar vai continuar caindo em 2026? Veja perspectivas

22 dez 2025 - 23h03
Relatório Focus mostra ajuste para cima na projeção do dólar em 2025. Foto: iStock
Relatório Focus mostra ajuste para cima na projeção do dólar em 2025. Foto: iStock
Foto: Suno

Após um recuo expressivo ao longo de 2025, o dólar entra em 2026 cercado por dúvidas. O movimento de valorização do real nos últimos meses foi resultado de uma combinação favorável de fatores externos e domésticos, mas especialistas alertam que a trajetória da moeda no próximo ano tende a ser menos linear e mais sensível a choques políticos e econômicos.

A queda do dólar em 2025 foi, em grande parte, um fenômeno internacional. A desaceleração da economia americana, dados de emprego mais fracos e a expectativa de cortes de juros pelo Federal Reserve pressionaram a moeda globalmente. O índice DXY, que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de moedas, acumulou recuo próximo de dois dígitos no ano.

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Segundo Antonio Pontes, diretor de estratégia e sócio da The Hill Capital, esse ambiente externo foi decisivo.

"A valorização do real em 2025 foi mais puxada de fora para dentro, com um dólar globalmente mais fraco, do que por uma melhora estrutural dos fundamentos domésticos", afirma.

Bruno Perri, economista-chefe da Forum Investimentos, vai na mesma linha ao destacar que o movimento refletiu a perda de credibilidade da política econômica dos Estados Unidos.

"Foi um movimento global, impulsionado pela política econômica errática dos EUA e pelas perspectivas de queda dos juros norte-americanos", diz.

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Diferencial de juros e fluxo para o Brasil

No cenário doméstico, o elevado diferencial de juros ajudou a sustentar a entrada de dólares no país. Com a Selic em torno de 15% e os Fed Funds entre 4,25% e 4,50%, o Brasil se tornou um destino natural, com a Bolsa brasileira atraindo níveis elevados de dólares em 2025, impulsionada por valuations historicamente baixos.

Para Pontes, esse conjunto de fatores explica por que o real se fortaleceu mesmo sem avanços estruturais relevantes.

"A sustentabilidade desse movimento depende muito do cenário externo e da manutenção de um fiscal minimamente crível", alerta.

Fiscal, juros e eleição: o tripé de 2026

O comportamento do câmbio em 2026 deve ser determinado pela interação entre política fiscal, monetária e o ambiente eleitoral. Do lado fiscal, a trajetória da dívida pública e a sinalização do próximo governo serão determinantes para a percepção de risco.

Na política monetária, o consenso aponta para o início de cortes da Selic. Para Pontes, se esse processo ocorrer de forma gradual e ancorada em credibilidade fiscal, o impacto sobre o câmbio tende a ser administrável.

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"A redução do diferencial de juros pode ser absorvida com alguma depreciação, mas sem ruptura", afirma.

O risco, segundo ele, está em cortes percebidos como pró-eleitorais em um contexto de expansão fiscal, o que poderia reacender pressões sobre o dólar.

Perri reforça que o fluxo cambial será consequência desses fatores.

"A política fiscal e o ambiente pré-eleitoral devem ter protagonismo no cenário doméstico, enquanto, no global, a política monetária do Fed deve dominar a liquidez", diz.

O papel do cenário externo

O apetite global por risco seguirá como variável-chave para o dólar em 2026. Um ambiente de continuidade de cortes de juros nos Estados Unidos e rotação de capital para emergentes tende a favorecer o real. Por outro lado, um choque externo pode reverter rapidamente essa tendência.

Entre os principais riscos estão o aumento de tensões geopolíticas, especialmente envolvendo Estados Unidos, China e Europa, e uma frustração com a trajetória da inflação americana, que poderia atrasar ou limitar o ciclo de afrouxamento monetário.

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"Esses fatores elevam a aversão ao risco e reforçam o movimento de flight to quality, beneficiando o dólar", explica Perri.

Pontes acrescenta que o comportamento das commodities e da China também será crucial. Uma desaceleração mais intensa da economia chinesa ou uma queda relevante nos preços das commodities poderia piorar os termos de troca do Brasil e pressionar o câmbio.

Um dólar mais baixo, mas com volatilidade

Apesar dos riscos, a avaliação dos especialistas é de cauteloso otimismo. Pontes diz ter uma visão "moderadamente construtiva", com o dólar tendendo a se manter abaixo de R$ 5,80 na maior parte de 2026, embora com oscilações relevantes.

"Não vejo um retorno a patamares explosivos acima de R$ 6,00 sem um choque fiscal ou externo severo", afirma.

Perri também mantém viés positivo, tanto para o real quanto para a tendência global de enfraquecimento do dólar.

"As perspectivas eleitorais podem favorecer o real, mas política monetária americana, geopolítica e eleições no Brasil podem influenciar significativamente essa tendência", pondera.

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No balanço final, 2026 não deve ser nem um ano de apreciação contínua do real nem de crise cambial iminente. Segundo os especialistas, o mais provável é um câmbio oscilando em uma banda ampla, sustentado por um dólar globalmente mais fraco e ainda apoiado por juros elevados no Brasil, mas extremamente sensível a qualquer sinal de deterioração fiscal ou choque externo. Para o investidor, o recado é claro: acompanhar de perto Fed, fiscal doméstico e eleições será indispensável para atravessar o próximo ano com menos sustos.

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