Laryssa Borges
Direto de Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ironizou nesta quarta-feira o que classificou como "pseudo-divergência" entre ele e a mineradora Vale. Ao participar das comemorações pelos 45 anos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Lula afirmou que não há desentendimentos entre ele e o diretor-presidente da empresa, Roger Agnelli, mas voltou a reclamar da falta de expansão do setor siderúrgico brasileiro e da opção da empresa de não comprar preferencialmente produtos brasileiros em seus negócios.
"A verdade é que o setor siderúrgico brasileiro ainda está acanhado. Do ponto de vista quantitativo nós produzimos apenas 35 milhões de toneladas (de minério de ferro), contra 540 milhões (de toneladas) da China. E vocês estão acompanhando pseudo-divergência minha com a Vale do Rio Doce. Não tem divergência minha com a Vale do Rio Doce. Eu apenas quero que ela exporte um pouco de valor agregado desse País. Que gere mais riqueza. Que compre navios no Brasil, e não na China", afirmou o presidente, enfatizando que também já teve embates com a Petrobras pelo fato de a estatal cogitar comprar plataformas de petróleo no exterior, e não as produzir no Brasil.
Na última semana, em Pernambuco, Lula cobrou Roger Agnelli e enfatizou que empresas de grande porte, como a Vale, precisam investir mais no Brasil, e não procurar diretamente o mercado chinês e gerar empregos em outro país.
"Qual é a chance que nós temos de desenvolver nossa indústria se nós mesmos compramos lá fora? Eu lembro a primeira discussão que eu tive com a Petrobras, que disse que ia comprar as plataformas de Cingapura, que ia ficar mais barato. ''Vamos ganhar por volta de 100 milhões'' (disse o presidente da empresa a Lula). Eu disse, Sérgio Gabrielli (presidente da Petrobras), e quantos milhões a gente vai ganhar se a gente gerar emprego aqui, se a gente pagar salário aqui, se arrecadar imposto aqui, e se adquirir tecnologia. Isso não pode ser contado? Não pode pensar nisso?'', questionou o presidente.
Na avaliação de Lula, que falava a uma plateia de estudiosos e pesquisadores do Ipea, as indústrias brasileiras, privadas ou estatais, precisam ter em conta o compromisso de desenvolver o País, e não apenas pensar se podem lucrar mais ou menos com determinada transação.
"Uma indústria, mesmo que seja privada, tem a responsabilidade de pensar no País tanto quanto o presidente da República. Ou será que a responsabilidade é só do presidente, e não dos agentes econômicos, dos trabalhadores, dos pesquisadores? Se todo mundo pensar com responsabilidade, nós temos a chance de fazer com que os sonhos de nossos pais e de nossos avós se tornem realidade", afirmou.
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