Gigantes dos alimentos, BRF e Marfrig desistem de fusão

Empesas divulgaram fato relevante conjunto nesta quinta-feira, 11; conversas entre companhias duraram pouco mais de 40 dias

11 jul 2019 - 20h20
(atualizado às 20h41)
Logo da BRF em Fortaleza
10/01/2019 REUTERS/Paulo Whitaker
Logo da BRF em Fortaleza 10/01/2019 REUTERS/Paulo Whitaker
Foto: Reuters

A BRF e a Marfrig divulgaram fato relevante na noite desta quinta-feira, 11, afirmando que desistiram do projeto de fusão de seus negócios que foi anunciado há pouco mais de 40 dias. As duas companhias, que haviam acordado um prazo de 90 dias para organizar a fusão, desistiram por não terem conseguido chegar a um consenso sobre temas de governança corporativa que guiaram a nova companhia.

"Apesar do término das tratativas para a combinação de seus negócios, o relacionamento comercial entre a companhia (BRF) e Marfrig permanecerá inalterado e não haverá quaisquer modificações nas práticas, condições e termos previstos em contratos por elas celebrados", informou a dona de Sadia e Perdigão, em fato relevante. Hoje, a Marfrig fornece carne bovina à BRF para produção de hambúrgueres, por exemplo.

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O anúncio da fusão entre as duas gigantes dos alimentos pegou o mercado de surpresa no fim de maio. A combinação dos dois negócios criaria uma gigante global de carnes, com receita líquida de R$ 76 bilhões. Dentro das regras do novo negócio, a BRF ficaria com 85% da companhia que seria criada a partir da fusão, enquanto a Marfrig ficaria com uma fatia de 15%.

A companhia resultante da fusão seria uma gigantes com 136 fábricas e 137 mil funcionários. Caso a união dos negócios tivesse ido adiante, a gigante das carnes ficaria atrás somente da JBS, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, da americana Tyson Foods e da chinesa Smithfield. Unidas, BRF e Marfrig teriam uma atuação mais abrangente, atuando em todas as principais proteínas animais.

Estratégia questionada

Apesar desse apelo, houve quem questionasse a efetividade da fusão no fim de maio, quando ela foi anunciada. "Não acho que o negócio traga sinergias relevantes, além dos ganhos administrativos e operacionais de praxe", disse o analista de bebidas e agronegócio do Itaú BBA, Antônio Barreto, ao Estado.

"Sobram, dessa forma, outras explicações, como a tentativa da BRF de conseguir reduzir sua alavancagem de forma mais rápida e a criação de um competidor global de porte mais parecido com a JBS e a Tyson Foods", disse, à epoca.

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Do ponto de vista da redução do endividamento da BRF, havia outras alternativas na mesa, de acordo com Barreto. O mercado já esperava que, com a gripe suína na China, os resultados da BRF melhorassem de forma sensível ao longo de 2020 e 2021. Tanto que esse fator já tinha começado a aparecer nas ações da empresa, que subiram cerca de 50% nos últimos seis meses.

Dificuldades

A BRF, que enfrenta dificuldades financeiras e de operação há dois anos, com prejuízo acumulado de R$ 5,5 bilhões em 2017 e 2018, teria a intenção de que a combinação reduzisse sua exposição a riscos setoriais e gerasse alguns ganhos de sinergia. A Marfrig, que nos últimos anos passou a vender negócios para reduzir suas pesadas dívidas, passaria a fazer parte de um grupo sólido, que também venderia carne suína e de frango.

A união dos negócios seria uma porta de saída dos fundos de pensão Previ (Banco do Brasil) e Petros (Petrobrás), que são os principais acionistas da BRF, e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), um dos maiores sócios da Marfrig.

Os fundos de pensão Previ e Petros foram os maiores opositores à gestão do empresário Abilio Diniz e da Tarpon, à frente da BRF, que em 2016 registrou seu primeiro prejuízo da história, e teve seu nome envolvido nas operações Carne Fraca e Trapaça. A empresa negocia acordo de leniência.

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