O número de idosos que moram sozinhos no Brasil aumentou significativamente, impulsionando o mercado imobiliário a adaptar seus projetos para oferecer lares menores, mais confortáveis e bem localizados, alinhados às demandas por autonomia e qualidade de vida.
O perfil do morador brasileiro está mudando — e de forma acelerada. Números do Censo Demográfico 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que quase 19% dos domicílios do país têm apenas um morador, contra 12,2% em 2010. O dado revela não só a transformação das estruturas familiares, mas também o avanço de uma tendência social global: o aumento de pessoas morando sozinhas, especialmente entre os mais velhos. O levantamento aponta que 28,7% das moradias unipessoais são ocupadas por pessoas com 60 anos ou mais, o que corresponde a 5,6 milhões de brasileiros idosos vivendo sozinhos.
Ainda de acordo com a pesquisa, em 1980, os idosos representavam apenas 4% da população. Hoje, já são 10,9%, e a projeção é que, até 2030, os mais velhos ultrapassem o grupo de jovens no país. Essa mudança no formato da pirâmide etária vem impactando não apenas políticas públicas e hábitos de consumo, mas também o mercado imobiliário, que tem buscado responder a essa nova realidade com empreendimentos mais compactos, inteligentes e bem localizados.
Outro estudo divulgado pelo QuintoAndar, com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), confirma que a decisão de morar sozinho vem crescendo em todas as faixas etárias, mas é mais expressiva entre os maiores de 65 anos, com crescimento de 49,9% entre 2012 e 2021. O grupo de 50 a 64 anos também apresentou aumento expressivo de 45,3% no período. Essa tendência acompanha transformações comportamentais: as pessoas estão envelhecendo com mais autonomia, buscando independência e liberdade, e a casa — antes associada à família tradicional — passa a representar um espaço de autocuidado e bem-estar individual.
Essa mudança no perfil demográfico e de estilo de vida também tem se refletido diretamente no mercado imobiliário. Segundo o levantamento da plataforma digital, as principais motivações para morar em um apartamento compacto são a busca por independência, a proximidade com o trabalho, a praticidade de um imóvel mobiliado e a facilidade de acesso ao transporte público. Esses fatores se repetem em diferentes faixas etárias — tanto entre jovens profissionais quanto entre pessoas mais velhas que moram sozinhas — e revelam um ponto comum: a valorização de moradias funcionais, bem localizadas e integradas à dinâmica urbana.
Para Marcelo Borges, diretor geral da Terral Incorporadora, esse é um fenômeno social com reflexos diretos no modo de morar nas grandes cidades. “Existe uma mudança clara na forma como as pessoas se relacionam com o espaço e com a própria vida. Os 50+ de hoje não são os mesmos de 30 anos atrás. Eles estão ativos, conectados, com novos ciclos profissionais e afetivos. Muitos querem morar sozinhos, mas sem abrir mão de conforto, segurança e boa localização”, explica o executivo.
Cidades menores, lares mais individuais
O movimento é global. Em países como a Noruega, mais de 45% dos domicílios são unipessoais, e o mesmo se observa nas grandes capitais brasileiras: no Rio de Janeiro, 23,4% das casas têm apenas um morador, seguido do Rio Grande do Sul (22,3%) e Espírito Santo (20,6%). O avanço está diretamente ligado ao envelhecimento populacional, à urbanização e à busca por vida independente em regiões com boa oferta de serviços e transporte.
No Brasil, o tamanho médio das famílias caiu de 4,2 pessoas na década de 1990 para 2,9 em 2020 — uma das mudanças mais expressivas já registradas pelo IBGE. Além da redução do número de filhos, esse fenômeno reflete novas configurações familiares: pessoas divorciadas, viúvas ou que simplesmente preferem viver sozinhas, mas próximas de centros urbanos, com acesso a lazer, saúde, cultura e mobilidade.
Com o avanço desse perfil de pessoas mais velhas morando sozinhas, o mercado imobiliário tem se movimentado para acompanhar as novas demandas. Incorporadoras vêm revisando conceitos e priorizando projetos que traduzam um modo de vida mais prático e autônomo, características cada vez mais valorizadas por esse público. Marcelo pontua que o setor tem se adaptado à nova realidade com empreendimentos bem localizados e planejados para oferecer conforto, segurança e funcionalidade. “Não é o compacto pelo compacto. É o compacto bem resolvido, bem localizado, com infraestrutura completa e atributos que atendam quem busca praticidade e mobilidade. É sobre viver bem — e não sobre caber em menos metros quadrados”, destaca.
Para finalizar, Marcelo destaca que, enquanto o país envelhece e as famílias diminuem, o mercado imobiliário se transforma para acompanhar uma geração que prefere qualidade à quantidade. “As construtoras e incorporadoras que entenderem esse novo consumidor — ativo, exigente e independente — tendem a liderar uma nova fase do morar urbano. A compactação das moradias é, na verdade, um reflexo da expansão da vida. Estamos aprendendo a viver com menos espaço físico e mais espaço para o que realmente importa: liberdade, propósito e pertencimento”, conclui.
(*) Homework inspira transformação no mundo do trabalho, nos negócios, na sociedade. É criação da Compasso, agência de conteúdo e conexão.