Economias aguardam decisão dos EUA sobre alta dos juros

Elevação dos juros nos Estados Unidos pode provocar uma saída de recursos de países emergentes, como o Brasil

5 jan 2015 - 20h53
(atualizado em 6/1/2015 às 09h17)
Mercado prevê elevação da taxa de juros com retomada da economia americana; decisão deve valorizar ainda mais o dólar, impactando emergentes
Mercado prevê elevação da taxa de juros com retomada da economia americana; decisão deve valorizar ainda mais o dólar, impactando emergentes
Foto: Thinkstock

A nova queda nos preços das commodities e o temor de uma nova crise na Grécia contaminaram os mercados nesta segunda-feira, levando o dólar a se valorizar frente às principais moedas internacionais.

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Em relação ao euro, a divisa americana registrou a maior valorização em nove anos.

Além do clima de aversão global ao risco, economistas afirmam que a cotação do dólar tende a subir ainda mais devido ao fortalecimento da economia americana, o que aumenta as chances de uma eventual elevação dos juros naquele país, provocando uma saída de recursos de emergentes, como o Brasil. Com uma menor oferta de dólares, a tendência da moeda americana é de se valorizar.

Só em 2014, por exemplo, o dólar acumulou valorização de 13% frente ao real brasileiro.

O governo americano já anunciou o encerramento do programa de estímulo monetário (quantitative easing, ou QE, em inglês) que vigorava desde a crise. O objetivo era injetar dinheiro no sistema, aumentando a liquidez da economia.

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Em paralelo, o Fed, o banco central americano, mantinha os juros próximos a zero. Com isso, fomentava a tomada de crédito a custos baixos – outro recurso para azeitar a engrenagem econômica.

Mas, com os últimos dados positivos sobre a economia dos Estados Unidos, quando exatamente o órgão deve subir os juros?

Em um recente painel de economistas sobre os rumos da economia e dos mercados, um tema se destacou entre muitos.

A discussão se centrava nos Estados Unidos e no impacto que uma eventual subida dos juros teria na taxa de juros de outros países.

Isso já é evidente nos mercados de moedas.

Dólar

Nesse ano, pela primeira vez desde a virada do século, o dólar americano se valorizou frente às grandes moedas do mundo.

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Comandado por Janet Yellen, o Fed, o banco central americano, deve subir juros neste ano
Foto: Kevin Lamarque / Reuters

Tanto o euro quanto o iene japonês caíram 12% frente à divisa americana e o yuan chinês também perdeu valor ante ao dólar ─ 2,4%, a maior queda desde 2009.

A grande demanda por dólares pelos investidores reflete a expectativa de que as taxas de juros vão subir nos Estados Unidos. Como resultado, eles estão aumentando as reservas em moeda americana com a finalidade de obter um maior retorno sobre seus investimentos do que na zona do euro e no Japão.

Nessas economias, os juros não devem apenas continuar próximos a zero, mas tanto o Banco Central Europeu (BCE) e o Banco de Japão vão seguir afrouxando sua política monetária.

O Japão já está injetando cerca de US$ 700 bilhões anualmente para que a inflação dobre e atinja a meta de 2% ao ano.

Já o BCE provavelmente deve seguir o exemplo americano de estímulo monetário, já que a deflação – ou a queda de preços – é um risco cada vez mais real.

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Assim, se as taxas de juros dos Estados Unidos subirem além dos atuais 0 - 0,25% no meio do ano como previsto pelos analistas, haverá apostadores que vão ganhar dinheiro.

Atualmente, a China oferece uma taxa de juros maior, claro, mas com uma moeda que não flutua livremente, uma conta de capital consideravelmente fechada, e um mercado financeiro dominado pelo Estado, o espaço de manobra para os especuladores é menor.

Um yuan mais fraco reflete a desaceleração econômica chinesa, o que levou ao primeiro corte de juros dos últimos anos e deve produzir ainda mais cortes em 2015, deixando a China mais em linha com o Japão e a zona do euro do que propriamente os Estados Unidos.

Já o Reino Unido deve seguir o caminho contrário e, tal como os americanos, aumentar os juros pela primeira vez neste ou no próximo ano.

A avaliação dos operadores é que o Banco da Inglaterra não elevará os juros até uma eventual decisão do Fed nesse sentido.

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Na verdade, dados da agência de notícias financeiras Bloomberg mostram que o mercado não espera uma elevação dos juros antes de novembro.

'Gradual'

O redirecionamento da política monetária Estados Unidos favoreceu a libra, que obteve valorização de 5% frente ao dólar em 2014, o melhor desempenho entre as moedas dos países emergentes.

Como o Banco da Inglaterra faz questão de destacar, qualquer elevação dos juros será "gradual" e deve começar em um aumento de 0,25%. No entanto, seria o primeiro passo em direção a uma taxa de juros mais "normal", em torno de 5% antes da crise financeira de 2008.

O novo ciclo dos juros deve acontecer a um ritmo mais moderado já que o crescimento não mostra sinais de forte recuperação. De qualquer forma, seria uma taxa maior do que a praticada atualmente e em vigor desde março de 2009, de 0,5% ao ano.

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Mas há vários fatores que podem influenciar o calendário da subida dos juros, claro.

Isso inclui o crescimento da economia, o que acontecerá com o preço do petróleo (a queda jogou a inflação para baixo) e o desemprego, para mencionar alguns poucos.

Ainda assim, a expectativa é de que as taxas comecem a se normalizar para os Estados Unidos e o Reino Unido neste ano ou no próximo.

As hipotecas devem ser afetadas assim como os mercados de ações que foram impulsionados por baixíssimas taxas de juros e injeções de dinheiro barato que só acabaram nos Estados Unidos meses atrás, em outubro.

Quaisquer previsões sobre as taxas de juros ou o comportamento dos mercados devem ser observadas com cautela. Mas a direção parece clara.

Depois de sete longos anos, 2015 pode ser o momento quando as economias dos Estados Unidos e do Reino Unido finalmente voltarão ao normal.

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