Bancos divergem sobre economia que virá com reforma

Com incertezas políticas, 'poupança' estimada em dez anos varia de R$ 400 bi até R$ 990 bi, ou de 32% a 80% do R$ 1,2 trilhão

3 mai 2019 - 04h11
(atualizado às 07h52)

A incerteza política tem dificultado as projeções feitas por bancos e consultorias sobre a economia que será gerada pela reforma da Previdência nos próximos dez anos. Há desde estimativas que apontam para uma economia de R$ 400 bilhões - o que seria equivalente a apenas 32% do R$ 1,2 trilhão esperado pelo governo - até de R$ 990 bilhões (80%). Mesmo dentro das instituições financeiras, o intervalo de aposta é grande, dada a dificuldade de se prever o que acabará ficando de fora do texto final.

O Itaú Unibanco, por exemplo, projeta uma economia entre R$ 670 bilhões e R$ 990 bilhões, com a aprovação da proposta no plenário da Câmara dos Deputados em agosto. "A margem é grande por causa da incerteza", reforça o economista do banco Pedro Schneider.

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Para Fabio Klein, economista da Tendências, além da dificuldade de se prever o que sobrará do texto após a tramitação no Congresso, há um empecilho extra decorrente da necessidade de se fazer projeções para vários indicadores econômicos nos próximos dez anos.

Apenas a MB Associados aposta na possibilidade de a reforma ser aprovada ainda no primeiro semestre.
Apenas a MB Associados aposta na possibilidade de a reforma ser aprovada ainda no primeiro semestre.
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado / Estadão Conteúdo

A Tendências é uma das poucas a definir um número exato de economia esperada: R$ 640 bilhões. O viés, porém, é negativo. "Quando a proposta foi apresentada, o viés era positivo, o texto era mais forte do que o proposto pelo governo Temer. Mas a coisa mudou rapidamente. Nem uma semana depois da apresentação, o presidente Jair Bolsonaro já falou que poderia reduzir a idade mínima para mulheres se aposentarem", diz.

Centrão

Na quarta-feira, em ato pelo Dia do Trabalho em São Paulo, o presidente licenciado da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (SD), disse que busca articular com o Centrão uma desidratação da reforma previdenciária para impedir a reeleição de Bolsonaro. Segundo ele, uma reforma com economia de R$ 800 bilhões favoreceria Bolsonaro ao garantir recursos para serem investidos nos próximos três anos. Paulinho da Força defendeu uma reforma de, no máximo, R$ 600 bilhões.

Um resultado como esse, no entanto, seria perigoso para o Brasil, segundo economistas. Para Tony Volpon, economista-chefe do UBS no Brasil, uma economia inferior a R$ 600 bilhões poderia significar uma trajetória explosiva na dívida brasileira. "O governo já está esperando alguma desidratação, mas estamos sustentando que, no final, teremos uma reforma robusta", diz.

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O economista Lucas Vilela, do Credit Suisse, também aposta em uma economia significativa, de R$ 750 bilhões. "Ainda que desidrate, uma reforma dessa teria economia maior do que a que estava em negociação no fim do governo Temer", afirma. O primeiro texto apresentado por Temer previa que o governo pouparia R$ 851 bilhões em dez anos. Com as modificações que foram sendo acrescentadas, o valor no fim do ano passado era de R$ 553 bilhões.

O levantamento feito pelo Estado com 13 bancos e consultorias mostra que apenas dois deles (Itaú e Bradesco) acreditam na possibilidade de aprovação de uma reforma como a que Paulinho da Força pretende impedir. Por outro lado, quatro casas consultadas - os bancos Citi, MUFG e BNP Paribas, além da consultoria política Eurasia - têm um número inferior aos R$ 600 bilhões citados pelo político. Ainda de acordo com o levantamento feito pela reportagem, a MB Associados é a única a apostar na possibilidade de a reforma passar pelos deputados ainda neste primeiro semestre.

Apesar de não conseguirem precisar as modificações que deverão aparecer na proposta aprovada pelo Congresso, a maioria dos bancos e consultorias concorda que a idade mínima, a aposentadoria rural e o Benefício de Prestação Continuada (BPC) - pago a idosos pobres - sofrerão mudanças importantes, reduzindo a economia.

Relação reforma-PIB

Uma reforma que gere uma economia de R$ 700 bilhões em dez anos permitirá que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresça 2,9% em 2020 e a uma média anual de 2,5% entre 2021 e 2029, segundo estudo do banco UBS. Caso o texto desidrate até a economia ficar em R$ 400 bilhões, o PIB no ano que vem deverá avançar 2% e a média anual ficará também nesse patamar.

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O UBS fez ainda estimativas para a evolução da situação fiscal e da dívida do País. Com uma reforma nos moldes do projeto apresentado pelo governo Bolsonaro - com economia superior a R$ 1 trilhão -, o País terá superávit fiscal em 2022. Se o texto garantir R$ 700 bilhões de economia ou R$ 400 bilhões, o superávit ficará para 2024 e 2027, respectivamente.

No caso da dívida bruta, a probabilidade de ela ser inferior a 85% do PIB nos próximos dez anos é de 79% caso a reforma garanta uma economia de R$ 700 bilhões. Se a reforma ficar em R$ 400 bilhões, essa probabilidade cai para 44%. Hoje, a dívida bruta equivale a 77% do PIB, e um número mais baixo para essa relação pode ajudar o País a retomar o grau de investimento concedido pelas agências de classificação de risco.

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