Viraliza lição de Beatriz Segall a atores que só querem ser celebridades

Saudosa atriz comenta com o igualmente inesquecível Antônio Abujamra o dano da obsessão por fama

24 jun 2022 - 10h52
Beatriz Segall: querer ser celebridade é bem diferente de desejar ser um grande ator
Beatriz Segall: querer ser celebridade é bem diferente de desejar ser um grande ator
Foto: Reprodução

Uma das maneiras de o ser humano forjar a imortalidade é deixar uma declaração brilhante a respeito de algo. Beatriz Segall marcou seu nome na história da arte dramática não apenas com atuações memoráveis, mas também com frases inspiradoras.

A atriz não se sentia muito confortável em entrevistas. Mesmo assim, sempre presenteava o interlocutor e o público com sua inteligência e visão apurada de mundo. Aconteceu quando ficou frente a frente com Antônio Abujamra no programa ‘Provocações’, da TV Cultura.

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O episódio exibido originalmente em 2014 teve um trecho viralizado nas redes sociais nos últimos dias. Nele, a atriz comenta uma anomalia no universo artístico. “Quando a gente começou, os atores tinham uma preocupação enorme em se formar, em se informar, em ler, aprender, ver o que estava acontecendo fora, tentar fazer um teatro brasileiro”, diz.

“Hoje em dia não há mais essa preocupação. A preocupação maior, eu acho, é aparecer na televisão. Porque é muito fácil, você vai para a televisão e 15 dias depois você é celebridade. Eu acho isso tão engraçado, chamar alguém de celebridade porque está trabalhando na televisão, fazendo um papelzinho.”

Sábias palavras. Na sociedade midiática na qual vivemos, ser anônimo é quase um defeito. Há verdadeira obsessão em ‘virar’ famoso o mais rápido possível para conquistar tratamento privilegiado, sentir-se superior aos demais e ter a tão desejada sensação de pertencimento. A fama seria, sob essa visão deturpada, antídoto contra uma existência desimportante.

Existe também o interesse financeiro. Aparecer na TV possibilita ganhar bons cachês com publicidade e a tal ‘presença VIP’ em eventos. Crítico feroz da televisão, o diretor de teatro Antunes Filho dizia, com seu peculiar humor ácido, que atores com boa formação se prestavam a fazer novelas só pelo interesse em ter dinheiro para comprar eletrodomésticos caros.

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Imortalizada pelo papel da vilã Odete Roitman em ‘Vale Tudo’ (1988), Beatriz Segall buscou sólida formação acadêmica. Bolsista, estudou teatro e literatura em Paris. Foi para a TV apenas aos 30 anos, quando já era respeitada no meio teatral. Sempre rejeitou o rótulo de celebridade e manteve a vida blindada contra a invasão de privacidade.

Será sempre lembrada por seu talento e seus personagens, não por questões íntimas superexpostas, como fazem atualmente tantos atores exibicionistas e famosos de ocasião movidos por mero oportunismo. A atriz morreu em setembro de 2018, aos 92 anos.

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