Gabriel Braga Nunes vibra com a dubiedade de Castellamare

17 mai 2009 - 21h49

Em Poder Paralelo, Gabriel Braga Nunes deixa várias dúvidas sobre o misterioso Tony Castellamare, seu personagem na trama de Lauro César Muniz. Mas fora dos estúdios o ator não faz a menor questão de esconder o que busca em todos os seus trabalhos: a satisfação pessoal.

E é exatamente essa procura que o faz não assinar contratos longos, escolher os papéis que interpreta e, é claro, experimentar possibilidades novas de teledramaturgia. "Preciso do poder de decisão. Se perco isso, fico angustiado", exagera.

Na novela das 22 horas da Record, Gabriel experimenta a incerteza de nem ele próprio saber se representa um bandido ou um herói. O comerciante de vinhos e azeite Tony é filho de um ex-mafioso e, em várias cenas, dá pistas de que pode estar ou ter estado envolvido em negócios ilícitos. Ao mesmo tempo, os "bandidões" da história desconfiam que o rapaz seja um policial infiltrado para desvendar o crime organizado.

"Isso é mais simples que interpretar um mocinho ou um bandido. Na vida, ninguém é só bom ou mal. Temos boas ações e outras equivocadas", filosofa.

Seu personagem em Poder Paralelo deixa no ar dúvidas sobre seu caráter. É mais difícil interpretar um papel onde não é definido, desde o início, se ele é um vilão ou um herói?

Não é tão difícil assim. Aliás, é muito mais simples do que parece. Só nas novelas tradicionais encontramos personagens bons ou ruins. Fora da ficção, as coisas se misturam. Você tem boas ações e outras equivocadas. O que o Lauro César Muniz procura é fugir do maniqueísmo e, assim, tornar os personagens mais próximos da realidade. Artificial é fazer um mocinho tradicional, encarnar um homem honesto, impecável, que não erra e está sempre de bem com o mundo. Ou um vilão que só tem maldade. Isso sim requer uma grande preparação.

Algo próximo do que você fez em Cidadão Brasileiro...

É. O Antônio, meu personagem, era assim também, com seus erros, qualidades e fraquezas. Muito bem lembrado. Esse é o segundo protagonista do Lauro que faço. Lá era um tipo popular, que ascendia socialmente e, depois, perdia tudo. Na verdade, uma tentativa de descobrir o que a gente pode chamar de um "cidadão brasileiro", sendo o nosso povo tão multifacetado. Agora a diferença está nesse outro lugar social, já que o Tony é sofisticado e tem a temática da máfia.

Sua trajetória profissional na Record vem sendo traçada bem diferente da que você teve na Globo, onde interpretou uma série de vilões. Isso é intencional?

Sim. É a melhor coisa sair de um vampirão em Caminhos do Coração e partir para um personagem dúbio como o que vivo hoje. Tenho orgulho do que tenho desempenhado na Record. Esse é meu quinto ano na emissora e tive papéis bem interessantes e diferentes. Estou na quinta novela, com meu terceiro protagonista. E se analisarmos o Fernando de Essas Mulheres, o primeiro, e pararmos agora, é possível notar os diversos tipos que fiz. Isso é o que eu busco.

Você sempre cita Essas Mulheres e mostra um carinho especial pelo trabalho. Por quê?

Essas Mulheres foi um êxito de crítica. As pessoas gostaram da novela. Não teve uma audiência muito grande, mas quem assistiu lembra até hoje. Foi um momento especial para todos que participaram. E, de certa forma, quebrou preconceitos. Gerou nas pessoas a vontade de trabalhar aqui. Quando assinei o primeiro contrato, em 2004, havia uma certa dúvida sobre ser bacana ou não, compensar ou não. Isso era geral. Assinei para Essas Mulheres, depois só para Cidadão Brasileiro, quando fiz um contrato um pouco mais longo ao final da novela. Tive um período de férias e fui para Caminhos do Coração e Os Mutantes. E, agora, assinei para essa de novo. Dei um passo por vez.

Por que esse cuidado em não se comprometer?

Gosto de conduzir minha carreira. Quero poder tomar as decisões, saber o que é melhor pra mim nesse momento.

Você chega a negar propostas?

Claro! Nesses anos de Record nunca aconteceu. Mas já disse não pra diversos trabalhos. Quanto mais experiente a gente se torna, mais exigente fica. O que mais conta para mim é o aspecto pessoal, a convivência e o ambiente de trabalho. Em Poder Paralelo estou com uma equipe de direção com a qual me identifico e me dou bem. O olhar é afinado, todos focam no mesmo ponto de vista. Isso é importante.

Seus contratos por obra funcionam como testes na emissora?

Isso não pontua a minha relação com a Record, mas com o meu trabalho em geral. Gosto de manter meu poder de decisão. Perder isso me angustia.

A instabilidade não o assusta?

Nunca tive contrato longo com ninguém. O mais demorado foi o de fazer uma matrícula de quatro anos na universidade de Artes Cênicas, quando eu era jovem. Mesmo assim, eu podia trancar se entrasse em pânico. Na Globo, sempre trabalhei por obra. Houve um momento em que foi cogitado ter um vínculo maior, mas nunca fui simpático à idéia. Gosto de estar livre para fazer outras coisas, trilhar um caminho mais prazeroso para mim.

Mas você tem aparecido bastante na TV em novelas da Record. O que o fez mudar de idéia?

Não é uma mudança e sim uma oportunidade do momento. Não troquei uma empresa pela outra. Nunca estive lá e também não tinha a de cá. Sempre avaliei, em cada período da vida, qual seria a melhor opção. E, nos últimos cinco anos, foi estar aqui. Não sei como vai ser depois.

Na Record, você experimentou o cotidiano de gravar cenas de ação para a TV. Como você encara essas seqüência em Poder Paralelo?

Acho esse contato chato. Não gosto. É um trabalho que valoriza bem mais a função dos diretores, dos fotógrafos e da equipe de efeitos especiais. Para os atores, é excessivamente técnico. Você fica um tempão esperando para prepararem tudo aquilo sem o prazer de exercer nosso ofício, que é fazer uma cena. São muitos truques, se torna maçante. Mas entendo, porque no ar é interessante. Chega a ser maluco me ver inserido naquela coisa tão espetacular. Mas prefiro um bom texto, porque amo a profissão de ator.

Você costuma assistir às suas cenas?

Não. Gosto muito de fazer TV, mas não tenho paciência pra assistir. Nunca fui de ver novela. Prefiro pegar as coisas que faço e conferir bem depois. É mais fácil para se distanciar, fica mais gostoso porque dá para olhar aquilo enquanto obra. Até porque faço isso quando já não estou tão envolvido. Assim, você consegue lançar outro olhar sobre o trabalho. O que pauta o ofício de ator é a sensação. Acredito nessa coisa quase batida que falam de "verdade cênica". O ator tem de sentir isso na troca com o colega. É algo que não fica tão claro pelo resultado do vídeo. Além disso, quando acontece na cena, a gente sabe que vai funcionar. Não preciso assistir para perceber que vai tocar o telespectador.

Vocação de família

Filho da atriz Regina Braga e do diretor Celso Nunes, Gabriel começou a se interessar pela interpretação ainda criança. Aos 13 anos, na escola, começou as aulas de Teatro que, quatro anos depois, foram decisivas para sua opção de prestar vestibular para Artes Cênicas. "Sempre gostei da maneira como os atores levam a vida.

Aos meus olhos de adolescente, era como fossem pessoas que fizessem tudo de forma mais intensa, completa e apaixonante", explica, com os olhos brilhando.

Mesmo carregando o nome do pai e da mãe, Gabriel não teve portas abertas para se aventurar no mercado de trabalho de cara. Ainda mais diante de sua formação universitária, mais voltada para a teoria e pesquisa. "Fazíamos grandes besteiras achando que estávamos revolucionando a história da arte ocidental no bandejão da faculdade", recorda, às gargalhadas. Só em 1996, dois anos depois de se formar, o ator conseguiu estrear na TV como o "bad boy" Mário, de Razão de Viver, novela do SBT.

Cara de anjo

A pele alva e os olhos claros nunca fizeram de Gabriel Braga Nunes um forte candidato aos mocinhos. Ao contrário. Ao longo dos 13 anos de carreira, ele coleciona vilões em emissoras diferentes. Na Globo mesmo, seu primeiro personagem foi o aprendiz de malvado Olavinho, no "remake" de Anjo Mau. Depois disso, voltou a trabalhar as vilanias em cena nas novelas O Beijo do Vampiro, Caminhos do Coração e Os Mutantes. "A televisão costuma deixar você marcado em um determinado tipo. Não é comum correr riscos", analisa.

Para diferenciar seus papéis, sempre que pode, Gabriel gosta de variar o visual. Na Record, por exemplo, chegou a engordar 25 quilos enquanto encarnou o tinhoso Antônio em Cidadão Brasileiro. Um pouco de descuido, mas aliado também à vontade de marcar as diferentes fases do personagem, que interpretou dos 25 aos 80 anos. Para Poder Paralelo, o ator decidiu emagrecer os quilos a mais que restaram desde esse período.

"O Tony é elegante demais para aparecer acima do peso", justifica.

Trajetória televisiva

Razão de Viver (SBT, 1996) - Mário.

Por Amor e Ódio (Record, 1997) - Lucas Toledo.

Anjo Mau (Globo, 1997) - Olavo Ferraz.

Terra Nostra (Globo, 1999) - Augusto Neves Marcondes.

Uga Uga (Globo, 2000) - Otacílio.

Estrela-Guia (Globo, 2001) - Guilherme Nunes.

O Quinto dos Infernos (Globo, 2002) - Felício.

O Beijo do Vampiro (Globo, 2002) - Victor.

Kubanacan (Globo, 2003) - Vitor.

Senhora do Destino (Globo, 2004) - Dirceu.

Essas Mulheres (Record, 2005) - Fernando Seixas.

Cidadão Brasileiro (Record, 2006) - Antônio Maciel.

Caminhos do Coração (Record, 2007) - Taveira.

Os Mutantes (Record, 2008) - Taveira.

Poder Paralelo (Record, 2009) - Tony Castelamare.

Fonte: TV Press
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