O Brasil é governado pelo esquerdista Lula, mas o personagem principal do telejornalismo continua a ser o antecessor na Presidência, o líder da direita e extrema direita Jair Bolsonaro.
Na TV aberta e nos canais pagos de jornalismo, as notícias e os debates a respeito do bolsonarismo e do futuro de seu criador preenchem a maior parte do espaço destinado à política, garantindo bons números de audiência e engajamento nas redes sociais.
Os progressistas viram pauta apenas quando reagem aos oponentes, ficando à sombra dos adversários ideológicos.
Este fenômeno chama a atenção porque a maioria dos apresentadores e comentaristas políticos demonstra ter pensamento de esquerda.
Daniela Lima, por exemplo, já era inimiga dos bolsonaristas quando estava na CNN Brasil. Dobrou as críticas à extrema direita em seus dois anos na GloboNews. Acabou demitida.
Curiosamente, há um caso oposto na mesma emissora: Fernando Gabeira, um militante histórico da esquerda, se deslocou ao centro no espectro político.
Provocou espanto em colegas ao defender penas menores aos condenados pelo 8 de janeiro e criticar a decisão do STF de proibir que indiciados (a exemplo de Bolsonaro) se manifestem livremente na internet.
‘Carisma do mal’
No noticiário nacional, quem aparece dia e noite são líderes da extrema direita, a exemplo de Jair Bolsonaro e o norte-americano Donald Trump.
Lula passou a ganhar destaque somente quando responde aos dois diante das câmeras.
Acontece o mesmo em outros países. O líder do partido de direita radical Chega, André Ventura, virou protagonista na imprensa de Portugal, assim como o ultraliberal Javier Milei é onipresente nos veículos de comunicação da Argentina e Marine Le Pen possui bem mais visibilidade na mídia da França do que seus rivais nas urnas.
Esses políticos se projetam ao polemizar sobre temas sensíveis, como expulsão de imigrantes, negação de direitos aos LGBTs e proibição do aborto. Muitos também atacam a imprensa, aumentando ainda mais o interesse do telespectador em acompanhar as notícias pela televisão nem que seja para depois falar mal dos canais.
O poder na TV está à direita
Ainda que tantos âncoras e analistas tenham discurso progressista, os donos das maiores emissoras estão ao centro ou à direita.
A família Marinho (Globo), o bispo Edir Macedo (Record), o clã Abravanel (SBT), a família Saad (Band) e a cúpula da RedeTV (Amilcare Dallevo Jr. e Marcelo de Carvalho) seguem o direitismo do mercado financeiro.
Ironicamente, o governo de Jair Bolsonaro reduziu as verbas milionárias de publicidade às emissoras, enquanto Lula foi generoso com as TVs em seus dois primeiros mandatos — e aumentou o investimento em compra de espaço nos intervalos desde seu retorno ao Planalto.
Segundo levantamento da revista ‘Veja’, a Globo recebeu entre 2023 e 2024 mais com o petista do que ao longo de toda a presidência de Bolsonaro. Dilma Rousseff também direcionou grande fluxo de verbas às TVs.
Em cima do muro
Apesar de os proprietários das grandes redes terem preferência política, o jornalismo na TV aberta pode ser considerado imparcial neste momento.
Nos principais telejornais não se nota manipulação a favor ou contra a direita ou a esquerda. Os caciques dos dois lados são eventualmente criticados.
Não há uma posição declarada, como ocorre nas emissoras dos Estados Unidos, onde, por exemplo, a CNN é declaradamente progressista e a Fox News está 100% com Trump.
Já alguns canais pagos de notícias no Brasil são vistos como ‘ativistas’: GloboNews à esquerda, Jovem Pan News à direita, CNN Brasil e BandNews ao centro.