Em curto intervalo, Kim Kataguiri, um dos fundadores do Movimento Brasil Livre e deputado federal pelo DEM eleito com quase 500 mil votos, foi entrevistado em dois dos principais programas de debates de ideias da GloboNews.
No início de novembro, ele ficou cara a cara com Mario Sergio Conti no "Diálogos". Sábado, dia 29, participou da mesa comandada por Renata Lo Prete no "Painel".
Kataguiri e outros dirigentes do MBL já criticaram inúmeras vezes a TV Globo e o jornal O Globo nas redes sociais, no YouTube e em discursos.
A presença em destaque do jovem político na GloboNews mostra que os canais do Grupo Globo entenderam a nova realidade da política brasileira: terão que dar espaço a quem não gosta deles.
Pela primeira vez desde a redemocratização, os veículos do clã Marinho vão cobrir o início de uma Presidência e de uma legislatura federal com vários líderes assumidamente críticos de seu jornalismo.
Os presidentes Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lula, Dilma e Temer nunca foram tão hostis com o conglomerado Globo como assume ser Jair Bolsonaro.
O próximo ocupante do Palácio do Planalto até ameaçou reduzir a verba publicitária direcionada pelo governo e as estatais aos jornais e emissoras da holding carioca.
A partir de fevereiro, o Congresso terá muitos deputados e senadores contrariados com a linha editorial das mídias do Grupo Globo.
Nas TVs, os jornalistas não conseguirão produzir telejornais e outras atrações sem ouvir essas vozes discordantes que representam milhões de brasileiros.
Nos últimos anos, o telejornalismo campeão em audiência no País luta diariamente para provar sua imparcialidade. Chegou a uma etapa fulcral desse desafio.
A pretendida isenção exige que abra as câmeras para seus desafetos contumazes, como os Bolsonaros e o citado Kataguiri.
Hábeis no uso das redes sociais e de plataformas de vídeos, onde mobilizam número impressionante de pessoas, eles precisam menos da Globo do que a Globo vai precisar deles a partir de agora.
Vivemos tempos inéditos e surpreendentes: os grandes veículos de imprensa terão que se adaptar a esse novo Brasil e a esses novos porta-vozes da população – ou correm o risco de não retratar a política emergida das urnas nas últimas eleições.
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