Por que o chroming pode matar — e como proteger seu filho

O chroming, prática que ganhou espaço entre adolescentes nos últimos anos, consiste em inalar substâncias químicas com objetivo de provocar efeitos rápidos no cérebro. Esse comportamento ocorre com frequência em ambientes escolares, festas ou encontros casuais, muitas vezes sem a presença de adultos. Além disso, a expressão se popularizou nas redes sociais e, em alguns […]

13 dez 2025 - 09h03

O chroming, prática que ganhou espaço entre adolescentes nos últimos anos, consiste em inalar substâncias químicas com objetivo de provocar efeitos rápidos no cérebro. Esse comportamento ocorre com frequência em ambientes escolares, festas ou encontros casuais, muitas vezes sem a presença de adultos. Além disso, a expressão se popularizou nas redes sociais e, em alguns casos, se relacionou a internações graves e mortes de jovens no Brasil e em outros países.

Esse hábito não é totalmente novo. Há décadas, pessoas já relatavam a inalação de solventes e produtos de limpeza. No entanto, hoje o acesso a sprays e aerossóis se tornou mais fácil. Ao mesmo tempo, a divulgação de "desafios" em plataformas digitais incentiva a repetição do ato. Em muitos episódios, o adolescente sequer compreende o tamanho do risco. Assim, ele enxerga o chroming apenas como uma "brincadeira" de momento. Esse cenário aumenta muito a probabilidade de acidentes graves.

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O que é chroming e como a prática funciona?

A palavra chroming descreve a inalação intencional de vapores de produtos como desodorantes em spray, tintas, limpadores de uso doméstico, cola em aerossol e outros itens semelhantes. Esses produtos liberam compostos químicos voláteis. Eles chegam ao cérebro em poucos segundos por meio da respiração. O efeito geralmente provoca uma sensação de "entorpecimento" rápido, com tontura e alteração de percepção.

Na prática, o adolescente borrifa o spray diretamente na boca, no nariz, em um pano ou em um saco plástico. Em seguida, ele respira o produto de forma intensa. O objetivo consiste em obter um efeito imediato, curto e aparentemente "controlável". Porém, ninguém consegue prever a quantidade de vapor inalado. Além disso, o organismo de cada pessoa reage de forma diferente. Essa combinação torna a prática instável e perigosa, mesmo quando ocorre "apenas uma vez". Profissionais de saúde reforçam que o uso ocasional também representa risco importante.

A inalação intencional de vapores de produtos como desodorantes em spray, tintas, limpadores de uso doméstico –
A inalação intencional de vapores de produtos como desodorantes em spray, tintas, limpadores de uso doméstico –
Foto: depositphotos.com / mikdam / Giro 10

Por que o chroming é tão perigoso para adolescentes?

Os riscos do chroming vão muito além de uma simples tontura. Os compostos químicos dos aerossóis provocam alterações bruscas no ritmo cardíaco e na pressão arterial. Esse quadro pode levar ao que especialistas chamam de "morte súbita por inalação". Em alguns casos, o jovem perde a consciência e deixa de respirar adequadamente. Dessa forma, o episódio pode causar parada cardiorrespiratória em poucos minutos.

Além disso, a inalação repetida danifica órgãos como cérebro, fígado, rins e pulmões. Entre as complicações mais relatadas, surgem:

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  • Arritmias cardíacas e parada cardíaca repentina;
  • Edema pulmonar (acúmulo de líquido nos pulmões);
  • Lesões neurológicas, com prejuízo de memória e atenção;
  • Queimaduras na boca, nariz e vias aéreas, quando o spray fica muito próximo;
  • Risco de quedas, traumas e acidentes durante a perda de consciência.

Em adolescentes, o perigo cresce ainda mais porque o cérebro e o sistema cardiovascular ainda passam por desenvolvimento. Isso significa que esses sistemas toleram menos as alterações químicas. Como resultado, as sequelas podem se tornar mais duradouras, com impacto na aprendizagem e no comportamento. Ademais, o adolescente costuma subestimar riscos e buscar aceitação em grupos, o que aumenta a exposição.

Chroming pode matar mesmo na primeira vez?

Profissionais de saúde demonstram grande preocupação porque o chroming pode ser fatal mesmo na primeira exposição. Não existe qualquer "dose segura" para esse tipo de inalação. Pequenas quantidades de vapores já podem desencadear um colapso cardíaco em pessoas com predisposição, mesmo sem qualquer histórico de doenças.

Relatos recentes mostram que alguns jovens sofreram parada cardiorrespiratória logo após inalar o conteúdo de um único frasco de desodorante em spray. Em outras situações, o adolescente desmaiou, bateu a cabeça ou aspirou vômito. Essas complicações também podem levar à morte. O fato de a substância integrar itens de uso doméstico, vendidos livremente em supermercados e farmácias, gera falsa sensação de segurança. Consequentemente, muitas famílias e jovens subestimam o perigo real.

Quais sinais podem indicar que um filho está praticando chroming?

Identificar o chroming em adolescentes representa um desafio. Isso ocorre porque o ato costuma acontecer de forma rápida e longe de adultos. No entanto, alguns indícios chamam atenção e funcionam como alerta para familiares e responsáveis. Assim, observar mudanças de comportamento e objetos fora do lugar ajuda a perceber o problema ainda no início.

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Entre os sinais mais comuns relacionados à prática, destacam-se:

  • Cheiro frequente de solventes, tinta, desodorante em spray ou produtos de limpeza na roupa ou no quarto;
  • Frascos de aerossóis vazios ou sumindo com mais rapidez do que o habitual;
  • Dores de cabeça recorrentes, tonturas, enjoos ou irritação nos olhos e na garganta;
  • Manchas de tinta ou resíduos de spray em panos, sacos plásticos ou objetos pessoais;
  • Mudanças bruscas de humor, queda no rendimento escolar e maior isolamento social.

Além disso, alguns adolescentes passam a esconder embalagens, evitar conversas com adultos e mentir sobre onde vão. Esses comportamentos, em conjunto, reforçam a necessidade de investigação cuidadosa.

O que fazer quando o filho pratica chroming?

Quando um responsável descobre que o filho pratica chroming, a primeira reação geralmente envolve preocupação intensa e, em alguns casos, confronto direto. Especialistas em saúde mental e em adolescência orientam que o diálogo se mantenha firme, porém sem agressões verbais ou ameaças. O objetivo principal consiste em entender o contexto e reduzir os riscos imediatos, e não apenas punir o comportamento.

Algumas medidas podem ajudar nesse processo:

  1. Garantir segurança imediata: se o adolescente apresentar falta de ar, desmaio, batimentos cardíacos muito acelerados ou confusão mental após a inalação, acione o serviço de emergência com rapidez. Nesses casos, a avaliação médica urgente se torna fundamental.
  2. Conversar de forma aberta: pergunte o que motivou o uso, se houve influência de colegas ou de conteúdos vistos em redes sociais. Em seguida, explique, com linguagem simples, os riscos reais para o coração, o cérebro e a respiração.
  3. Buscar ajuda profissional: em situações de repetição da prática, ou quando surgem outros comportamentos de risco associados, procure atendimento com psicólogo, psiquiatra infantil ou serviço especializado em dependência química.
  4. Rever acesso a produtos: organize a casa para reduzir a disponibilidade de sprays e solventes. Guarde esses itens em locais menos acessíveis e observe o consumo com mais atenção.
  5. Acompanhar a rotina: participe de forma mais ativa da vida escolar, monitore o uso de redes sociais e conheça o círculo de amizades. Faça isso sem invadir a privacidade de maneira extrema, mas mantenha presença constante e interessada.

Além dessas ações, os responsáveis podem buscar grupos de apoio para famílias. Esses espaços permitem troca de experiências e fornecem orientação prática sobre como lidar com recaídas e resistências.

Como proteger crianças e adolescentes do risco do chroming?

A prevenção do chroming entre jovens exige informação de qualidade, diálogo contínuo e supervisão adequada. Assim, trabalhar o tema em casa e nas escolas, sem sensacionalismo, ajuda a reduzir a curiosidade e a ideia de que se trata apenas de uma "experiência" inofensiva. Quando adultos abordam o assunto com clareza, o adolescente tende a compreender que o risco se mostra real e imediato.

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Algumas estratégias de proteção incluem:

  • Introduzir a educação sobre drogas e substâncias inalantes desde o fim da infância, com linguagem adequada à idade;
  • Fortalecer vínculos familiares, criando espaço para que o jovem fale sobre pressões de grupos e desafios da internet;
  • Estimular atividades esportivas, culturais e de lazer que ofereçam sensação de pertencimento e ocupem o tempo livre de forma saudável;
  • Orientar sobre os perigos de desafios virais e conteúdos que incentivem experimentações arriscadas;
  • Articular ações conjuntas entre famílias, escolas e serviços de saúde para monitorar tendências de comportamento entre estudantes.

Além disso, campanhas públicas e programas escolares podem explicar, de forma direta, como funcionam os efeitos dos aerossóis no corpo. Ao tratar o chroming como um problema de saúde pública e não apenas como uma "indisciplina", a sociedade amplia as chances de identificar sinais precoces, encaminhar para ajuda especializada e preservar a vida de crianças e adolescentes expostos a essa prática perigosa.

Identificar o chroming em adolescentes representa um desafio –
Foto: depositphotos.com / AntonMatyukha / Giro 10
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