Sónar SP: Kraftwerk não empolga, mas agrada com efeitos 3D

12 mai 2012 - 00h20
(atualizado às 16h45)
David Shalom
Direto de São Paulo

Se investir ao máximo em efeitos visuais e teatralidade é uma qualidade vista por muitos como primordial para um grupo de música no palco, poucos parecem levar essa ideia tão a sério quanto o Kraftwerk. Destaque da primeira noite do Sónar, franquia do festival nascido na Espanha que ocorre nesta sexta-feira (11) e no sábado (12), no Anhembi, em São Paulo, o quarteto alemão trouxe ao espaço principal do evento, o SónarClub, uma apresentação de pouco mais de uma hora e meia repleta de luzes multicoloridas, som pulsante e projeções em 3D ininterruptas.

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Substituto da islandesa Björk no line-up do festival, o grupo, considerado um dos pais da música eletrônica, teve como trunfo seu aclamado show em 3D - diferente do que passou pela cidade três anos atrás, no Just a Fest. Com cerca de meia hora de atraso, o quarteto, liderado por Ralh Hütter, único integrante de sua formação original, subiu ao palco às 23h30 ovacionado pelo público, que até então acompanhava com sonolência à performance do DJ James Blake.

Dispostos lado a lado sobre um largo pedestal, cada qual com seu equipamento à frente, os DJs abriram o set com The Robots (os robôs), marcada por um vídeo com seus avatares. Começava a viagem das batidas entosadas às projeções no telão principal com os efeitos em 3D, aqueles aguardados tão ansiosamente pelos presentes desde a chegada ao Anhembi, quando receberam óculos especiais para acompanhar o show. Comportando-se como verdadeiros robôs no palco, com até vestimentas idênticas com motivos remetendo a máquinas, o grupo deu vazão à sua teatralidade repleta de efeitos e caprichos visuais, encantando os fãs.

O grande problema é que os alemães encarnam de forma tão extrema o espírito futurista e robótico de seu repertório que eles próprios acabam passando uma visão artificial, quase mecânica, ao espetáculo. Ao longo dos mais de 90 minutos em que estiveram no palco, os integrantes do grupo permaneceram exatamente na mesma posição: estáticos. Nada de braços para cima clamando por animação, de malabarismos ou de sorrisos para a platéia. A única coisa que se moveu de forma diferente durante a apresentação foi a boca de Hütter, responsável pelos vocais sintetizados das mais de 20 canções que compuseram o set-list.

A presença de palco burocrática acabou contaminando o público. Claro, havia pessoas dançando; quem estava lá acompanhava, admirava. Mas a pista não ganhou ares de festa. E não é que o público estivesse desanimado. A prova maior é que a atração responsável por fechar a primeira noite do festival, o animado e carismático DJ paulistano Gui Boratto, fez a pista ferver - e tocando para um número muito inferior de pessoas, com menos recursos técnicos.

No intervalo das canções, que incluíram Space Lab e Tour de France, também nenhuma palavra direcionada ao público. Nada de tentativas de brincar de falar português, conversas sobre a admiração pelo Brasil ou ao menos explicações sobre as origens dos temas apresentados. O grupo se limitou a um "boa noite, nos vemos em breve" de Hütter, último a deixar o palco, quando as últimas batidas de Music Non Stop anunciavam o fim da morna apresentação.

Paralelo

Cerca de meia hora depois da entrada dos alemães no SonoraClub, duas atrações iniciaram shows nos palcos secundários do evento. No menor, o Village, simpático espaço todo acarpetado, com ares de interior, o rapper Doom, com sua máscara metálica, mostrou seu rap de vanguarda, atraindo curiosos com canções baseadas em quadrinhos e filmes japoneses. Ao mesmo tempo, o paulistano Criolo, considerado uma das revelações da música nacional no ano passado, surgiu em cena no SónarHall, cantando faixas de seus discos Nó na Orelha, lançado em 2011, e Ainda Há Tempo, de 2006.

Acompanhado por uma banda competente - composta por metais, baixo, bateria, guitarra, teclado e um MC -, Criolo não deixou o público ficar sentado no grande teatro onde foi montado o SónarHall, e, com presença de palco notável, instigou os presentes a dançar e agitar com seu rap/MPB. "Obrigado pela presença de vocês. Música não tem fronteira e espero que a gente possa se reunir de outras formas cada vez mais, porque, senão, nada disso aqui tem sentido", comentou em um dos momentos da apresentação, cujo repertório incluiu Samba Sambei, Grajauex e Não Existe Amor em São Paulo.

Outro rapper que tem levado o nome ao hall dos grandes do estilo no País, Emicida começou seu show pouco depois, às 2h, no Sónar Village. E ele provou que os últimos meses foram suficientes para angariar muitos seguidores à sua música. Com bom público presente, ocupando pela primeira vez a maior parte do espaço da pista do Village na noite, o rapper fez um show curto, mas consistente, acompanhado por uma guitarra e um DJ - também responsável pelos backing vocals.

"Vamos acabar com essa palhaçada! E aí, Sónar!", gritou Emicida ao início da apresentação, marcada pela excelente qualidade de som e pelo bem feito trabalho visual, tanto nos telões quanto na iluminação - de fato, a qualidade técnica dos shows foi uma constante em toda a primeira noite do festival.

No repertório, o rapper animou o público com canções de seu primeiro trabalho, incluindo Só Mais Uma Noite, Sou Negão e Viva!. O set ainda contou com um "momento saudosista", como ele classificou: uma versão para Quero te Encontrar, de Claudinho e Bochecha, cantada animadamente pelos presentes. Após uma hora, Triunfo encerrou o repertório.

Nômades

Caminhar. Talvez essa tenha sido a principal atividade do público durante o primeiro dia do Sónar. Com palcos distantes um do outro, e sempre com atrações tocando ao mesmo tempo, o evento obrigou os presentes a andar bastante de um lado para o outro. Não que isso tenha sido um problema. Primeiro, porque o bom espaçamento impediu a ocorrência vazamento de som de um show para o outro; segundo, porque as áreas comuns montadas no Anhembi trouxeram distrações e entretenimento, além de uma boa oportunidade para patrocinadoras divulgarem seus produtos. Mas, claro, ainda assim isso não impediu os corredores de passeio do local de se tornarem um mar de congestionamento.

O vai e vem só se intensificou com o fato de apenas um lugar em todo o Anhembi ter área de alimentação. Enquanto bebidas eram facilmente encontradas em diversas barracas e nas mãos de ambulantes - assim como cigarros, doces e chicletes -, as poucas (e caras) opções de comida se limitaram a ficar no SónarClub.

Os famintos que não quiseram se deslocar de seus shows favoritos para gastar R$ 10 em um pedaço de pizza tiveram um consolo: distribuição irrestrita de salgadinhos e chocolates ao público - cortesia das patrocinadoras.

Kraftwerk foi ovacionado pelos fãs ao entrar no palco do Sónar São Paulo
Kraftwerk foi ovacionado pelos fãs ao entrar no palco do Sónar São Paulo
Foto: vc repórter
Fonte: Terra
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