Mulher que foi atropelada e arrastada na Marginal passa por nova amputação

Mulher que foi atropelada e arrastada por homem em São Paulo segue em estado grave; veja

24 dez 2025 - 15h24

NOTA: A notícia a seguir aborda violência extrema contra mulheres e pode ser sensível para algumas pessoas. Se você ou alguém que você conhece está em situação de risco, denuncie pelo 180. Em emergências, acione a Polícia Militar pelo 190.

Foto: Mais Novela

Tainara Souza Santos, de 31 anos, passou por uma nova cirurgia de amputação nesta segunda-feira (22), no Hospital das Clínicas, na zona oeste de São Paulo. A intervenção foi necessária para possibilitar a reconstrução de lesões graves provocadas pela tentativa de feminicídio sofrida no fim de novembro, quando a vítima foi atropelada e arrastada por cerca de um quilômetro na Marginal Tietê, na altura da Vila Maria, zona norte da capital.

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Segundo o advogado Wilson Zaska, responsável pela defesa de Tainara, o procedimento teve como principal objetivo viabilizar a reconstrução da região do glúteo, uma das áreas mais comprometidas pelo ataque. De acordo com ele, a cirurgia foi considerada bem-sucedida, mas o estado de saúde da paciente ainda demanda cuidados intensivos e acompanhamento rigoroso.

Internada desde o dia 3 de dezembro, Tainara já passou por cinco intervenções cirúrgicas desde o episódio. O quadro clínico é considerado complexo e inclui períodos de intubação, múltiplas transfusões de sangue e a amputação das duas pernas abaixo do joelho, em razão da gravidade dos ferimentos.

Relembre o caso

Na manhã de 29 de novembro, Tainara foi vítima de uma tentativa de feminicídio na Marginal Tietê, em São Paulo. Imagens de câmeras de segurança registraram o momento em que ela caminhava ao lado de um homem e, em seguida, foi atropelada. Um segundo vídeo mostrou o motorista arrastando a vítima por uma longa distância na via.

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Socorrida em estado gravíssimo, a vítima foi levada inicialmente ao Hospital Municipal Vereador José Storopolli, com ferimentos severos no rosto e nas pernas. O suspeito do crime, Douglas Alves da Silva, de 26 anos, foi preso na noite de 30 de novembro em um hotel na Vila Prudente, zona leste da capital.

De acordo com a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, o agressor agiu com intenção deliberada de matar a vítima. Ele já era procurado pela Justiça e responderá pelo crime de tentativa de feminicídio.

ALTA NA TAXA DE FEMINICÍDIO

Um levantamento do Instituto Sou da Paz mostra que São Paulo concentra parte significativa dos feminicídios do estado: um em cada quatro casos consumados ocorreu na capital. A comparação entre janeiro e outubro de 2025 e o mesmo período de 2024 indica alta de 23% na cidade. Em relação aos dados de 2023, o avanço chega a 71%.

O estudo aponta que a violência fatal contra mulheres segue um padrão consolidado. A residência da vítima permanece como principal cenário dos crimes (67%), e armas brancas ou objetos contundentes foram utilizados em mais da metade dos casos registrados no estado.

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Adriana Liporoni, coordenadora das Delegacias de Defesa da Mulher em São Paulo, destaca que o feminicídio costuma ser o último estágio de agressões contínuas. Para ela, o aumento das notificações é resultado tanto da escalada dos conflitos nos relacionamentos quanto da melhoria na classificação e no registro legal desses crimes.

A coordenadora lembra que a tipificação do feminicídio, criada em 2015, ampliou a precisão das estatísticas ao separar esses crimes dos registros gerais de homicídio. Segundo ela, esse avanço contribuiu para identificar melhor a motivação de gênero, mas não explica sozinho o aumento das ocorrências. A delegada aponta que parte do crescimento reflete também a intensificação da violência extrema, muitas vezes ligada à tentativa de controle e à reação desproporcional de agressores diante do fim do relacionamento.

Mesmo com o aprimoramento das leis, Liporoni destaca que a resposta estatal ainda enfrenta limitações. "O grande desafio está na prevenção e na capacidade de identificar os primeiros sinais do ciclo violento", afirma. Ela explica que, quando os primeiros indícios são reconhecidos e a rede de apoio consegue agir rapidamente, há mais chances de interromper a escalada antes que ela chegue ao extremo.

Para Malu Pinheiro, do Instituto Sou da Paz, o perfil dos feminicídios exige estratégias específicas. Como a maioria é cometida por parceiros, ex-parceiros ou familiares, geralmente dentro da residência —, a abordagem precisa ser distinta da adotada em outros crimes contra a vida. Ela defende a ampliação dos serviços de acolhimento e proteção, fundamentais para que as mulheres consigam romper vínculos abusivos com segurança.

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A gravidade desses ataques também impressiona profissionais acostumados a lidar com cenas de violência. À Folha de S.Paulo, a fotógrafa técnico-pericial Telma Rocha, com mais de três décadas de atuação em ocorrências de homicídio, relatou o impacto das cenas que testemunha.

"[Mulheres] queimadas, amarradas, espancadas, mutiladas. Mas o que mais me chama a atenção e, muitas vezes me quebra, são os ferimentos de defesa. Cortes nas mãos, nos braços e unhas quebradas. Isso me destrói, pois chega a passar a cena na minha imaginação. É muito cruel."

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