A morte de Lindomar Castilho, ocorrida nesta sexta-feira (19/12), reacendeu memórias dolorosas para sua filha, a psicóloga e coreógrafa Lili De Grammont, que decidiu tornar público um relato íntimo sobre a complexa relação com o pai. Filha também da cantora Eliane de Grammont, assassinada em 1981 pelo então companheiro, Lili usou as redes sociais para refletir sobre luto, humanidade e a difícil elaboração de sentimentos que atravessam décadas.
Em um texto marcado por introspecção, Lili De Grammont iniciou o desabafo questionando identidades e emoções profundas. "O que te faz ser quem você é? As palavras não são suficientes para explicar o que estou sentindo!", escreveu. Na sequência, ampliou a reflexão para além da dor pessoal: "Só sinto uma humanidade imensa, sinto o tanto que estamos nesta terra para evoluir. Sinto o poder das coisas que verdadeiramente importam". O tom do relato indica um esforço consciente de compreensão e amadurecimento emocional diante de uma história familiar marcada pela violência.
Perdão, consciência e despedida
Ao abordar diretamente o crime cometido pelo pai, Lili afirmou que Lindomar Castilho deixou de existir simbolicamente no momento em que matou Eliane de Grammont. "Meu pai partiu! E como qualquer ser humano, ele é finito, ele é só mais um ser humano que se desviou com sua vaidade e narcisismo. E ao tirar a vida da minha mãe também morreu em vida. O homem que mata também morre. Morre o pai e nasce um assassino, morre uma família inteira", escreveu, ao mencionar o impacto irreversível do ato.
Sobre a possibilidade de perdão, Lili De Grammont preferiu não simplificar o sentimento. "Se eu perdoei? Essa resposta não é simples como um sim ou não", explicou, ressaltando a complexidade de viver entre dor e aprendizado. Ela concluiu desejando transformação espiritual ao pai: "Desejo que a alma dele se cure, que sua masculinidade tóxica tenha sido transformada". O texto termina com uma reflexão sobre finitude e sentido da vida, reforçando a ideia de que a existência é breve demais para não ser vivida com verdade, consciência e busca por felicidade interior.
Lindomar Castilho foi condenado pelo assassinato de Eliane de Grammont, morta a tiros em 30 de março de 1981, enquanto se apresentava em uma boate em São Paulo. O cantor foi julgado em 1984 pelo Tribunal de Justiça de São Paulo.