Série 'Fallout' retorna para expandir seu universo distópico: 'Estamos tentando fazer cinema'

Elenco reflete sobre fama, pressão e a evolução dramática numa temporada em que ninguém sai ileso; segunda temporada será exibida até fevereiro

17 dez 2025 - 12h10

O deserto pós-apocalíptico está chamando de volta. Lucy, Maximus e The Ghoul retornaram ao Prime Video, nesta terça-feira, 16, para a segunda temporada de Fallout, adaptação que conquistou mais de 100 milhões de espectadores e provou que, sim, é possível transformar um videogame cult em uma das séries mais assistidas da história do streaming. Até 4 de fevereiro, novos episódios chegam semanalmente, desta vez levando os personagens para o território mais aguardado pelos fãs: New Vegas.

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A trama continua de onde parou: Lucy parte em busca do pai, The Ghoul segue sua própria jornada de sobrevivência e Maximus precisa lidar com as consequências de suas escolhas dentro da Irmandade de Aço. Além disso, a segunda temporada mergulha mais fundo no universo dos jogos, trazendo locações icônicas como Novac e sua gigantesca mascote Dinky the T-Rex. A cidade de New Vegas, cenário de um dos games mais amados da franquia, finalmente ganha vida na série — e com ela, o vilão Robert Edwin House, interpretado por Justin Theroux.

Assim, se a primeira temporada foi sobre descobrir os horrores do mundo pós-apocalíptico, a segunda promete mostrar como esses personagens se adaptam — ou se perdem — nele.

Nova moral, novo objetivo

Lucy MacLean (Ella Purnell), por exemplo, já não é mais a jovem idealista que saiu do Vault. A atriz explica que a segunda temporada a coloca numa encruzilhada moral. "Quando deixamos a primeira temporada, sabemos que ela está indo para o deserto. Ela quer encontrar o pai, mas não sabemos necessariamente para quê. É vingança ou curiosidade? Ela quer respostas ou quer levá-lo à justiça?", questiona a atriz, em entrevista ao Estadão durante a passagem pelo Brasil na CCXP 2025.

'Fallout' deve ganhar contornos mais dramáticos na segunda temporada
'Fallout' deve ganhar contornos mais dramáticos na segunda temporada
Foto: Amazon Prime Video/Divulgação / Estadão

A resposta vem na forma de uma jornada ao lado de The Ghoul. "Ela tem essas grandes ideias sobre levar o pai à justiça, mas conforme a temporada avança e ela passa mais tempo no deserto, mais tempo com o Ghoul, seu otimismo e sua bússola moral começam a se degradar. Talvez sua ideia de justiça mude", revela Purnell.

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É uma evolução natural para quem passou a primeira temporada descobrindo que tudo em que acreditava era uma mentira. A Lucy de antes tentava fazer a coisa certa; a Lucy de agora precisa descobrir o que "certo" significa num mundo onde a sobrevivência muitas vezes exige abrir mão de princípios.

Se Lucy questiona seus valores, Maximus precisa lidar com ter conseguido exatamente o que sempre quis — e descobrir que não era bem assim. Aaron Moten resume bem o dilema do personagem. "No começo da primeira temporada, tudo que ele queria era a armadura. E terminar a primeira temporada num lugar onde ele recebeu isso, mas é talvez a última coisa que ele desejaria naquele momento, é como ter os olhos abertos", afirma.

O encontro com Lucy mudou Maximus profundamente. "Ele está mudado, e é por causa desse encontro com Lucy. Mudou muito ele", diz Moten. De volta à Irmandade de Aço, agora com uma nova perspectiva, Maximus terá que decidir como usar o poder que conquistou. "Na primeira temporada, fazíamos o que outros personagens queriam. Não sabíamos o que era a cabeça ou o que tinha nela. Agora que temos uma ideia do que está acontecendo no mundo, é divertido ter uma temporada em que assumimos as rédeas", diz.

A dinâmica entre Lucy e Maximus continua sendo um dos eixos centrais da trama, mas agora ambos estão armados — literal e figurativamente — com conhecimento sobre como o mundo realmente funciona.

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Walton Goggins continua irreconhecível (e impressionante) como The Ghoul
Foto: Amazon Prime Video/Divulgação / Estadão

Walton Goggins, ator que ganhou destaque em 2025 também por seu papel em The White Lothus, entrega uma das interpretações mais marcantes da série como The Ghoul, equilibrando a aparência monstruosa com momentos de humanidade devastadora. "Tento não pensar nesses termos [de monstro e humano]. Tento não rotular 'isso é isso' ou 'isso é aquilo'", diz.

A segunda temporada promete explorar ainda mais as camadas do personagem, especialmente durante sua travessia pelo deserto ao lado de Lucy. O encontro entre o idealismo ferido dela e o cinismo consolidado dele deve render alguns dos momentos mais interessantes da temporada.

O segredo de uma boa adaptação

Adaptar videogames para a televisão virou uma arte delicada nos últimos anos, com sucessos como The Last of Us provando que é possível quando feito com cuidado. Justin Theroux, novo no universo de Fallout mas veterano em produções de prestígio, tem uma teoria. "Num certo ponto, você precisa quebrar a quantidade certa de regras. Porque se você fizesse apenas uma adaptação fiel do jogo e da experiência de jogar, seria uma série muito chata. É divertido quando você tem um joystick porque está tomando as decisões", diz.

Goggins complementa. "Estamos tentando fazer cinema. Cinema de verdade. Todos nós temos nossos cineastas favoritos, e você sabe que sempre que vai ver um filme deles, está nas mãos da visão deles. Você confia neles. E acho que é isso, sem pedir, o que estamos pedindo às pessoas: que amamos esse jogo, amamos esse mundo tanto quanto os fãs. Então estamos todos juntos nisso", afirma.

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Essa filosofia de confiar na visão criativa enquanto respeita o material original parece ser o que diferencia Fallout de adaptações menos bem-sucedidas. A série não tenta replicar a experiência de jogar, mas capturar o espírito do universo — e expandi-lo.

Aliás, enquanto a primeira temporada vinha com a responsabilidade de fazer tão bem quanto o game, a segunda chega com o peso de manter (ou aumentar) a qualidade do que foi visto na primeira leva de episódios. Assim, seria natural esperar que a pressão aumentasse para a sequência. Mas a abordagem da equipe é surpreendentemente zen.

Segunda temporada de 'Fallout' chega com o peso de manter a qualidade da série
Foto: Amazon Prime Video/Divulgação / Estadão

Goggins acredita em não deixar o sucesso influenciar as decisões criativas. "De repente você está mudado, ou afetado por esse sucesso, mas também está mudando seu plano", conta. "Você tem uma ideia de para onde esta série está indo, do seu instinto. É de onde os roteiristas vêm, de onde Jonathan Nolan e nossos diretores vêm. Levar em conta o que outras pessoas podem gostar seria um desserviço à sua própria criatividade e um desserviço à comunidade que você está tentando servir".

Theroux compartilha dessa mentalidade. "Tento não ficar muito preso nisso. Sei que é bom, ou acredito que é bom. Mais que isso, acho que é ótimo. Tento não me prender demais à recepção das coisas", diz ele. "Para mim, essa é a experiência: os dias no set, o trabalho que colocamos, e quando está tudo montado, poder assistir e ver o trabalho de todos."

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Enquanto isso, porém, Ella Purnell admite que o nervosismo não desapareceu. "Você pensaria que ficaria um pouco mais fácil, mas não ficou, pelo menos para mim. Me senti nervosa e animada ao mesmo tempo", diz. Aaron concorda. "É sempre uma montanha para escalar. O trabalho ainda precisa ser feito. Especialmente quando a colaboração é tão boa, são muitos artistas que realmente nos impulsionam, que nos fazem querer colocar nossos corações na coisa também", diz.

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