Colocar Corpos Celestes para encerrar a mostra competitiva de longas nacionais de Gramado foi, no mínimo, estratégico. Minutos antes da sessão já não havia mais lugares disponíveis no Palácio dos Festivais para diversos setores, mesmo para quem tinha seu convite na mão - uma ironia, por sinal, já que os ingressos distribuídos, segundo a organização, foram feitos para comportar todo mundo sentado. E com seguranças pouco falantes fazendo a marcação na sala, pegar uma cadeira vazia em outro setor pode ser uma missão árdua. Mas, como o filme é o que importa, o frisson era justificável. Estamos falando de mais um trabalho de Marcos Jorge, o cara que dirigiu o ótimo Estômago (2008).
Na realidade, esse é o primeiro longa de Jorge, que divide a direção com Fernando Severo. Por um atraso na estratégia e distribuição do filme, Estômago acabou saindo primeiro e, inevitavelmente, agradou mais.
O filme é estrelado por Dalton Vigh, interpretando um astrônomo que se vê apaixonado por Diana (Carolina Holanda). Para marcar esse turbilhão de sentimentos do protagonista, os diretores usam uma série de recursos estéticos e sonoros. A trilha, por exemplo, muda quando a mulher entra em cena. Fora isso, nada de muito interessante acontece. E o roteiro também não se segura por muito tempo.
Se Estômago colocou Marcos Jorge na lista dos diretores nacionais bem falados, Corpos Celestes deve dar uma amenizada nessa fama. Tudo porque, nas telas, astronomia - uma das paixões do diretor e tema do fime - e recursos visuais pouco interessantes parecem sempre estar ligados a uma certa atmosfera cafona.
É difícil saber se Corpos Celestes terá um apelo comercial, como deseja o diretor. Talvez se ele tivesse sido lançado na época em que foi rodado, quando Dalton Vigh era o vilão Marconi Ferraço em Duas Caras, este desejo poderia ter se concretizado. O atraso no lançamento só conspirou contra ele próprio. Em tempos como hoje, mesmo o Kikito não deve fazer milagres.
