"Nossa empresa não guarda dinheiro", diz Mauricio de Sousa

Para celebrar 50 anos da Mônica, Mauricio de Sousa Produções promete 2013 repleto de ações e produtos, que incluem brinquedos retrô e doces

27 fev 2013 - 14h46
(atualizado às 16h51)
Ao Terra, Mauricio de Sousa diz: "sou escravo do Horácio"
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São 77 anos de vida; 50 de sua principal personagem. Ainda assim, Mauricio de Sousa segue ativo como um jovem em início de carreira: continua revisando todas as histórias do vasto universo Turma da Mônica, é o único artista a desenhar e roteirizar os quadrinhos do dinossauro Horácio e se mantém a par de tudo o que ronda a Mauricio de Sousa Produções, responsável pela produção e licenciamento de toda a gama de produtos lançados com o selo do quadrinista. E o ano de 2013 é mais do que propenso a manter esses trabalhos ainda mais corridos, já que a primeira aparição de Mônica, na Folha da Manhã, ocorreu há exatos 50 anos. 

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"Apesar de tudo isso, raras vezes eu tive dinheiro sobrando. Mesmo agora, mais recentemente", afirmou Mauricio em entrevista concedida ao Terra, na tarde de terça-feira (26), no Memorial da América Latina, em São Paulo. "Gasto tudo o que ganho em investimentos na empresa, mão de obra, em novos desenhos, novos filmes e tudo o mais. Nossa empresa não guarda dinheiro. Ela investe e reinveste para continuar crescendo sempre."

Para o cinquentenário da Mônica, a Mauricio de Sousa Produções planeja uma série de ações com o objetivo de exaltar a efeméride - e, claro, convertê-la em altos lucros para o selo. Entre os projetos programados para 2013 encontram-se exposições, espetáculos musicais, desfiles de moda, animações inéditas, site totalmente reformulado, além do lançamento de diversos produtos ligados à marca, como brinquedos, doces e selos - merchandising que corresponde ao grosso do faturamento da empresa. Existe ainda um complexo projeto para levar futuramente a Turma ao cinema em um longa-metragem.

<p>Artista e empresário durante evento que marcou início das comemorações dos 50 anos da Mônica</p>
Artista e empresário durante evento que marcou início das comemorações dos 50 anos da Mônica
Foto: Fernando Borges / Terra

Uma rápida passagem por qualquer banca de jornais nas ruas brasileiras constata de imediato a superioridade do sucesso de Mauricio e seus personagens em relação a outros cartoons. Entre as tradicionais revistinhas da Disney e de outros fenômenos do mercado editorial norte-americano, destacam-se dezenas de exemplares de HQs, passatempos e especiais protagonizados pelas mais diversas figuras do universo da Mônica. Atualmente, segundo a empresa, cerca 86% do mercado de quadrinhos voltado ao público infanto-juvenil é dominado pela Mauricio de Sousa Produções nos comércios feitos em bancas e, nas livrarias, a média anual de revistas vendidas é de 1 milhão. Apenas no período entre 2010 e 2011, a empresa cresceu 10%. 

No entanto, nem Mauricio, após meio século como profissional de quadrinhos, consegue explicar o motivo para o Brasil, celeiro de artistas do gênero, ainda não ter conseguido revelar um personagem com ao menos o potencial de bater de frente com Mônica no quesito popularidade. "Não sei o por quê", sorri, simpaticamente. "Mas talvez seja uma série de fatores que a gente tenha juntado no decorrer desse processo que faltaram a outros candidatos a desenhistas de sucesso nesta trilha. Mas não é questão de investimento. Se fosse, eu não estaria aqui."

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Escravo do Horácio

Dentre todas as funções que exerce em seus estúdios, há duas das quais definitivamente Mauricio não abre mão. A primeira é revisar toda e qualquer história dos personagens criados por ele, trabalho registrado nas tradicionais assinaturas que ilustram o início de todas as histórinhas da Turma. A segunda: é o único artista responsável pelo simpático Horácio, o dinossaurinho verde com pintas vermelhas que costumeiramente protagoniza monólogos em quadrinhos repletos de abordagens profundas sobre a vida e suas inerentes dificuldades.

Mauricio de Sousa e a filha Mônica, que o inspirou na criação da personagem
Foto: Fernando Borges / Terra

"O Horácio eu preciso fazer. Ele nasceu meio filósofo, com uma visão de vida muito peculiar minha. Então, por mais que eu tenha os melhores roteiristas, não posso tranferi-lo para um deles, porque eles não vivem e não enxergam as situações ou a parte filosófica da vida como eu", explica. "Sobrou para mim esse belo trabalho. Sou escravo do Horácio e vou continuar fazendo ele, porque gosto muito disso."

O foco, porém, é toda a produção dos estúdios Mauricio de Sousa, onde a arte das revistas é elaborada e produzida. Por exemplo, assim como ocorreu no passado com Pelé e Ronaldinho Gaúcho, em breve duas grandes figuras da cultura nacional ganharão vida nos quadrinhos, juntando-se ao já imenso hall de personagens da Turma da Mônica.

O primeiro deles é o atacante Neymar, do Santos, que, pela força de seu nome, será transformado em um gibi exclusivamente dele. O segundo é a cantora fluminense Claudia Leitte, cuja versão cartunizada fará aparições nas histórias da Turma como uma menina que sonha desde criança ser uma cantora de sucesso, mostrando como a própria fez para chegar a esse patamar.

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Outra novidade futura será o envelhecimento de toda a Turma. Depois de os personagens de Mauricio terem se tornado adolescentes, criando um mercado específico para jovens entre 12 e 18 anos - Turma da Mônica Jovem, em estilo mangá, lançada pela primeira vez em 2008 -, a ideia da empresa agora é deixá-los um pouco mais vividos, mais experientes, adultos. O ambicioso projeto deve chegar ao público dentro de três ou quatro anos.

Mauricio de Sousa dá autógrafo durante evento do aniversário de 50 anos da Mônica, em SP
Foto: Fernando Borges / Terra

"Estamos estudando bastante para isso, contatando amigos, conhecidos, parentes que escrevam, roteiristas, escritores, noveleiros. Então, acho que, com isso, vamos conseguir fazer uma história que consiga atingir adultos como, meu sonho, uma Avenida Brasil", explica, citando a novela de sucesso exibida pela TV Globo no ano passado.

"Assim, não há barreiras aos assuntos abordados. Nós podemos contar à família qualquer história, depende só da forma como se conta, como você fala. Então sempre haverá uma criança lendo uma história minha para adultos. Precisamos de alguns cuidados, mas não podemos fugir de nenhum assunto ou tema."

Nada de parque

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Desde 2010, quando o shopping Eldorado anunciou o fechamento definitivo do Parque da Mônica, diversos rumores surgiram sobre a possibilidade da reabertura do centro de recreação em algum outro espaço da cidade de São Paulo. Mas, apesar do claro interesse em tomar essa iniciativa, Mauricio de Sousa está decidido a, desta vez, fazer as coisas de uma forma diferente, sem riscos financeiros à sua empresa.

"Quem faz HQs normalmente não tem recursos para fazer um parque novo", explicou. "Esse não é mais o nosso foco. Não quero mais ser dono de parque."

Isso não significa que o Parque da Mônica, que tanto atraiu crianças e pré-adolescentes a suas atrações na década passada, não vá voltar a funcionar. Mas a ideia daqui para frente é que os investimentos para sua construção sejam arrecadados com empresários, sem tirar dinheiro da Mauricio de Sousa Produções.

Há, no entanto, um obstáculo no País: impostos.

"Estamos em uma ilha, o Brasil, que simplesmente impede a abertura de novos parques, porque os brinquedos, fabricados em países como a Itália, chegam muito caros para nós. O que o Governo não percebe é que, em tempos de Copa das Confederações, Copa do Mundo, o turista vai viajar para cá. E, se tivessemos mais parques, esse mesmo turista traria a família inteira, gerando mais lucros para todos. Estamos realmente aguardando uma mudança nesse campo, que seria vital para o Brasil."

Fonte: Terra
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