COP-15: relatório prévio é alvo de críticas e desconfiança

9 dez 2009 - 09h02
(atualizado às 11h02)

O chefe da ONU para o clima, Yvo de Boer, bem que tentou explicar, mas ambientalistas e autoridades de países em desenvolvimento reunidas em Copenhague para a Conferência do Clima não parecem convencidas das boas intenções de um texto elaborado pela Dinamarca, que vazou ontem, agitando o segundo dia de trabalho. "O texto rouba dos países em desenvolvimento a sua parte justa e correta do espaço atmosférico. Ele tenta tratar os países ricos e pobres como iguais", disse o sudanês Lumumba Di-Aping, presidente do G77, grupo que reúne 133 nações em desenvolvimento, ao jornal The Guardian.

"Agentes" cobram dívida de países ricos com o planeta, em frente ao Bella Center, local da conferência
"Agentes" cobram dívida de países ricos com o planeta, em frente ao Bella Center, local da conferência
Foto: AFP

A minuta de oito páginas tem data de 27 de novembro e aborda as condições para reduzir em 50% as emissões de dióxido de carbono (CO2) até 2050, frente aos valores de 1990, levando em conta uma "responsabilidade diferenciada e as respectivas possibilidades" dos países.

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O principal problema que coloca o texto é que não assegura um marco legal vinculativo em torno dos compromissos e o financiamento no longo prazo e não diz o que vai ocorrer com o Protocolo de Kyoto, o que cria insegurança nos países em desenvolvimento.

Autoridades dinamarquesas preocupadas com a repercussão negativa que divulgação do documento provocou tentaram desfazer o mal-entendido. "Este foi um trabalho informal antes da conferência dada a um número de pessoas para fins de consulta. Os únicos textos formais no processo da ONU são os apresentados pelos presidentes desta conferência de Copenhague a pedido das partes (envolvidas)", disse De Boer.

Mas as declarações não parecem ter convencido. "Este texto destrói tanto a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas quanto o Protocolo de Kyoto. Este é o objetivo de produzir um novo tratado, uma nova iniciativa legal que joga fora a base de (diferentes) obrigações entre as nações mais pobres e mais ricas do mundo", declarou Di-Aping.

A reação do G77 foi vista por alguns analistas internacionais como uma resposta exagerada, mas necessária a maneira como os Estados Unidos, Reino Unido e outros países ricos têm tentado negociar. Antonio Hill, conselheiro de política climática da Oxfam International, disse que este "é apenas um rascunho, mas destaca o risco que os pequenos correm de se machucar, quando os grandes países se unem".

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A divulgação antecipada do relatório repercutiu mal especialmente para a Dinamarca, anfitriã da cúpula. A mídia local publica hoje críticas afiadas de ambientalistas e ONGs, descontentes com a elaboração de um documento, antes mesmo do início das discussões climáticas. "Isso mostra uma abordagem elitista, seletiva e não transparente das negociações. Entendemos a frustração dos países em desenvolvimento com o governo dinamarquês", disse Kim Carstensen, líder da delegação da WWF para o clima ao Guardian. Martin Kaiser, do Greenpeace, concordou. "O documento está prejudicando as negociações e mostra a falta de liderança do primeiro-ministro dinamarquês, Lars Lokke Rasmussen. Cria desconfiança", disse.

COP-15

A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, de 7 a 18 de dezembro, que abrange 192 países, vai se reunir em Copenhague, na Dinamarca, para a 15ª Conferência das Partes sobre o Clima, a COP-15. O objetivo é traçar um acordo global para definir o que será feito para reduzir as emissões de gases de efeito estufa após 2012, quando termina o primeiro período de compromisso do Protocolo de Kyoto.

Fonte: Redação Terra
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