As obras de restauração da Cúria Metropolitana de Porto Alegre revelaram, há alguns dias, grandes tesouros arqueológicos escondidos embaixo da terra. Em uma área externa, localizada entre a Catedral e a Cúria, foram desenterradas mais de 50 ossadas, além de louças, porcelanas, restos de vestimentas e outros pequenos objetos.
Esse local funcionou como cemitério de 1772 até 1850, quando foi fechado pelo intendente Duque de Caxias, alegando superlotação e questões de sanidade. Segundo o padre Luís Inácio Ledur, administrador da Arquidiocese de Porto Alegre, a Igreja Católica sabia que aquela área havia sido utilizada como cemitério (o segundo da capital gaúcha). "Só não achávamos que iríamos encontrar tantos fragmentos", revela.
"Todo o terreno era cemitério. Em qualquer lugar, vamos encontrar fragmentos históricos", conta o pároco. Entre os objetos encontrados, está um botão que pertenceu a um militar da guarda de Dom Pedro II.
A disposição das ossadas permite uma avaliação sobre a periodicidade dos sepultamentos na época. De acordo com o padre Ledur, os corpos foram enterrados em diversas camadas. "Alguns, provavelmente mortes provocadas por guerras e epidemias, estão em valas", explica.
"Toda aquela área tem, para nós, uma importância muito grande. Os maiores tesouros históricos culturais estão guardados ali, mas sem acesso ao público em geral. Esse é o objetivo desse trabalho", afirma. Esses tesouros, segundo o administrador da Arquidiocese de Porto Alegre, são três: as peças arqueológicas descobertas durante o trabalho de restauração, as obras "mais preciosas" da arte sacra, que estão guardadas em uma sala da Cúria, e o arquivo histórico, pois, de acordo com ele, "toda a documentação anterior ao Império era feita pela Igreja Católica e tudo está guardado".
Todo o material encontrado, exceto as ossadas, será transferido para um local aberto à visitação. A ideia é criar um museu de Arte Sacra, abrigando o que foi encontrado no antigo cemitério e as obras sacras guardadas na Cúria. "Algumas são do século XVII", explica o pároco.
As ossadas vão passar por exames de DNA para identificar sexo e grau de parentesco entre as pessoas que foram enterradas ali. Depois, os restos mortais serão novamente sepultados em outro lugar.
Atraso nas obras
A descoberta vai causar um atraso no cronograma da obra de restauração da Cúria Metropolitana. Inicialmente prevista para terminar em 2014, as escavações devem continuar e esse prazo dificilmente será cumprido. "Porque é um trabalho muito cuidadoso, com espátulas, com pincéis", explica o padre Luís Inácio Ledur.
O projeto
A restauração da Cúria Metropolitana de Porto Alegre começou em outubro de 2009 e prevê o resgate da arquitetura original do prédio, inaugurado em 1888. Além da instalação do museu de Arte Sacra, quando o projeto estiver concluído, a biblioteca, estará aberta ao público e todo o seu acervo histórico disponível para consulta. Além disso, deverá ser construído um terraço para abrigar atividades culturais, um estacionamento e uma cafeteria.