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Última gravação de Dumdum, do Facção Central, foi em janeiro

Registro da participação em música do grupo Protesto V, da zona oeste de São Paulo, aconteceu em estúdio em Pirituba

10 ago 2023 - 18h13
(atualizado em 11/8/2023 às 14h24)
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31 de janeiro de 2023, terça-feira chuvosa em São Paulo. Os rappers Patê e Guxa, do Protesto V, além de mano Lee, do Ideologia Fatal, e Dumdum, o monstro do Facção Central, se reúnem no Estúdio Santo Records, em Pirituba, zona oeste de São Paulo.

Eles gravam o rap "Firme, Forte e Persistente", que virou clipe e será lançado hoje, quando se comemoram os 50 anos de hip hop no mundo (link no final da reportagem).

Dumdum gravou a música e participaria do clipe, mas três dias antes das filmagens, teve o Acidente Vascular Cerebral (AVC) que o levou à morte em 12 de maio, aos 53 anos.

Dumdum sem camisa, à vontade no estúdio Santo Records, em Pirituba, na última gravação
Dumdum sem camisa, à vontade no estúdio Santo Records, em Pirituba, na última gravação
Foto: Divulgação

Para chegar à última gravação, precisamos entender alguns fatos que contextualizam a caminhada. A filha única de Dumdum, Kimberlly Caroline Taddeo Santana, conta que o pai tinha sido atropelado por uma moto um ano antes do AVC.

Ela acha que o acidente teve relação com isso, pois Dumdum machucou a cabeça. “Após isso, ele sempre sentia dores de cabeça, mas meu pai sempre fugiu de hospitais, só ia em último caso. Ele não procurou se cuidar.”

Indo para a última gravação

Apesar das dores de cabeça, as ideias continuam fluindo. O convite para fazer o rap com o Protesto V vem de mano Lee. Ele relembra a ida até a casa de Dumdum para, depois, irem ao estúdio.

“Foi um dia nostálgico, memorável e histórico. Me recordo como se fosse hoje. Nós fomos buscar ele, a rua ia se afunilando, é uma quebradinha que tinha muito buraco, o carro não entrava, aí a gente perguntando e ele ‘ô viado, tô aqui, meu, vocês não estão me achando?’”

Rola uma confusão geográfica, Lee e Patê estão na linha com a filha de Dumdum. Ela vai explicando o trajeto, passa o telefone para o esposo, que explica mais um pouco.

Última gravação, em 31 de janeiro, estúdio Santo Records: Guxa (esquerda), Patê (direita), e Dumdum gravando, ao fundo.
Última gravação, em 31 de janeiro, estúdio Santo Records: Guxa (esquerda), Patê (direita), e Dumdum gravando, ao fundo.
Foto: Divulgação

“Aí gente demo a volta e conseguimos encontrar ele, num predinho na Cohab do Embu. De lá, pegamos o Rodoanel e teve um fato da hora: nós colocamos no GPS e ele levou para uma rua sem saída, que tinha um muro”.

Dumdum e Patê zoam: “Aí viado, levou nóis pra roubada, se tivesse numa fuga, ia ser cara no muro”. Lee continua: “E viemos rachando o bico. Quando estávamos no Rodoanel, ligamos pra 105 FM. O Fábio Rogério mandou um salve pra nós, que estávamos a caminho do estúdio, lá em Pirituba. E lá foi da hora, mano, da hora, vibe boa, energia boa, foi um dia memorável, marcante.”

No estúdio, sem camisa

Patê, do Protesto V, relembra da “satisfação imensa” de gravar com “uma referência do rap nacional”. A gravação é naquele clima.

“O Dumdum já foi tirando a camisa, descontraído, na simplicidade total, e veio cantando um refrão que ele tinha feito recentemente. ‘Aí Patê, o que você achou?’ Eu falei ‘da hora negão’. Trocamos boas ideias, ele entrou pra colocar a voz na cabine do estúdio e, claro, sem dificuldade, experiência total”.

O produtor, rapper e multi-instrumentista Carlos Xavier, que comanda o Estúdio Santo Records, fica emocionado com a presença de Dumdum. “Eu cresci ouvindo Facção Central. Ia pra praia e tocava no violão, nas rodas dos amigos. Aí trombar o mano aqui, no meu recinto, foi foda, de verdade.”

A música ainda não estava completa. Camila Dyad, que canta o refrão, esteve três vezes no estúdio, em outros dias, para gravar sua parte. DJ Erik também participou.

Dumdum e Carlos Xavier, do estudo Santo Records, em Piritiba. Segundo o produtor, “gravação foi foda, de verdade”.
Dumdum e Carlos Xavier, do estudo Santo Records, em Piritiba. Segundo o produtor, “gravação foi foda, de verdade”.
Foto: Divulgação

Subiu sabendo que seria avô

Os meses passam, chega abril. Três dias antes do AVC, na mesma data em que gravaria as imagens do clipe com o Protesto V, Dumdum recebe a notícia de que estrearia como avô.

Nas trocas de mensagem por WhatsApp em 3 de abril, sua filha manda a imagem do exame de gravidez e escreve “tô grávida”. Dumdum desacredita e responde “mentira”.

A filha informa que “não desceu pra mim em março” e as mensagens seguem em tom de euforia. “Parece que eu levei um susto. Coração a milhão com a notícia”, responde Dumdum.

Três dias depois, vem o AVC. Dumdum fica internado até 12 de maio, quando faz a passagem.

Dumdum com a filha Kimberlly Caroline Taddeo Santana, que avisou o pai que estava grávida antes dele ter o AVC
Dumdum com a filha Kimberlly Caroline Taddeo Santana, que avisou o pai que estava grávida antes dele ter o AVC
Foto: Divulgação

Clipe e homenagens

Na parte em que Dumdum canta no clipe, serão inseridas imagens e fotos de arquivo relembrando sua trajetória, inclusive algumas captadas durante a última gravação.

Sua filha vai lançar tudo o que o pai tem gravado. Pretende fazer uma homenagem, “porém ainda não sei quando, ainda sinto muita falta dele e não estou psicologicamente preparada para nada”.

Vai esperar se recuperar do baque. Não quer fazer algo meia-boca, mas “especial, que seja tão grande quanto ele foi.”

Rappers Patê e Dumdum no estúdio Santo Records, na última gravação. Para Patê, “Dumdum deixa um legado e um vazio irreparáveis”
Rappers Patê e Dumdum no estúdio Santo Records, na última gravação. Para Patê, “Dumdum deixa um legado e um vazio irreparáveis”
Foto: Divulgação

Protesto V, da última parceria

Protesto V, da zona oeste de São Paulo, começou a se organizar como grupo no final de 1996. “Em 2008, infelizmente, vim a ser preso. Fiquei treze anos, saí em 2020”, conta Patê. Ele retoma as conversas com Guxa, parceiro de infância na Vila Gomes.

A dupla retoma os corres. “Decidimos voltar. Antigamente, não tinha rede social, plataforma digital, hoje em dia isso facilita”. Nesse retorno, são sete músicas e três clipes – o quarto, para o álbum "Resgatando a Autoestima", tem a participação de Dumdum, com sua última gravação.

Cemitério do Araçá, em São Paulo, onde descansa em paz Washington Roberto Santana, o Dumdum, do Facção Central.
Cemitério do Araçá, em São Paulo, onde descansa em paz Washington Roberto Santana, o Dumdum, do Facção Central.
Foto: Divulgação

Serviço

Para assistir o clipe Firme, Forte e Persistente, clique aqui.

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