Taxista e dono de ferro-velho: os personagens suburbanos do galã Francisco Cuoco
Ator nascido no Brás eternizou os personagens populares Carlão, o taxista, e Denizard, do ferro-velho
Francisco Cuoco deu vida a dois personagens emblemáticos do povo nas novelas Pecado Capital, de 1975, e O Outro, de 1987. Ambos retratam o trabalhador da periferia, com humanidade, honestidade e crítica social.
Francisco Cuoco, que morreu aos 91 anos, veio de uma família humilde do bairro do Brás, em São Paulo, filho de um feirante e de uma dona de casa. Ajudava o pai na feira, se encantava com circos mambembes e, ao chegar às telenovelas, interpretou dois personagens emblemáticos do povo: um taxista e um dono de ferro-velho.
Em Pecado Capital, novela de 1975 escrita por Janete Clair, Cuoco viveu Carlão, um taxista honesto, trabalhador e morador da periferia do Rio de Janeiro. Protagonista da trama de enorme sucesso, Carlão morreu no último capítulo, com três tiros, embalado por um samba de Paulinho da Viola — cena que comoveu o país.
A morte de Carlão é uma das mais emblemáticas da teledramaturgia brasileira, comparável a momentos icônicos como a morte de Odete Roitman. “O Carlão tinha essa generosidade, essa coisa de olhar para o semelhante e ver o semelhante. Não era um estranho para ele, era um igual. Acho que ele tinha a mágica do personagem popular.”
O extinto Vídeo Show chegou a levar Francisco Cuoco de volta ao local da gravação da cena, no Largo da Carioca, quando a estação de metrô ainda estava em obras. “Era uma obra gigantesca, um buraco que não tinha fim, tábua, prego, gente. Era cru e cabia para a cena”, lembrou o ator.
Dono de ferro-velho perde memória, mas mantém valores morais
Doze anos depois, em 1987, Cuoco interpretou outro personagem popular: Denizard, um homem simples e morador do subúrbio carioca, dono de um ferro-velho, na novela O Outro. Também protagonista, Denizard é um retrato realista da classe trabalhadora.
Se Carlão enfrenta um dilema ético ao encontrar uma mala de dinheiro de um assalto — e opta por guardá-la, com consequências trágicas —, Denizard mantém seus valores intactos. Mesmo ao assumir, por engano, a identidade de um empresário rico após perder a memória, ele não se corrompe.
O recado do personagem é claro: o pobre pode ser mais nobre que o rico — uma crítica direta à elite. Símbolo de sabedoria popular e integridade, Denizard mantém um comportamento ético inabalável. Já Carlão, cada vez mais paranoico pela culpa, morre ao tentar devolver o dinheiro.
Nos dois casos, o talento de Francisco Cuoco deu profundidade e humanidade ao homem comum brasileiro.