Stella, artista sergipana que mistura hip hop e experimentação eletrônica, lança EP
A Fim transforma poesia preta e travesti em rito de libertação para celebrar e continuidade e reinventar a sobrevivência
Stella lança A Fim, EP independente criado com dry. A artista travesti e preta de Sergipe mistura hip hop, eletrônica e performance para transformar poesia em música. O trabalho ritualístico afirma vida, desconforto e movimento.
Stella lança A Fim, EP independente cocriado com a produtora musical dry. Diretamente da periferia de Sergipe, a artista travesti e preta transforma palavra em som e poesia em corpo, misturando hip hop, batidas eletrônicas e performance para confrontar o tempo e afirmar a vida.
“Esse trabalho nasceu da urgência de recontar a própria história antes que o silêncio fizesse isso por nós”, diz Stella. Criado durante a pandemia, o EP se estrutura como uma jornada ritualística. “Eu escrevo em voz alta. Tenho essa ânsia por vociferar as palavras”, afirma a artista. “Minha vontade sempre foi transformar poesia em música - valorizar a oralidade, o ritmo, o grito.”
A sonoridade combina beats industriais, repetições hipnóticas e versos que transitam entre confissão e enfrentamento. O desconforto vira pulsação. “A principal intenção é essa”, diz Stella. “Dançar no desconforto, beijar o inóspito, cantar com o silêncio.”
Stella quer mostrar que poetas também fazem música
A estética do projeto também se expande para a imagem. A capa, com direção de arte de Ruan Araújo, direção criativa de Luli Morante e fotografia de Mavi Retrata, usa técnicas de glitch art, colagem digital e pixel sorting para traduzir a fusão entre humano e máquina.
O trabalho ganha ainda um Visual EP dirigido por Sarah Ahab, com estreia marcada para 25 de novembro no YouTube. Gravado em uma única diária, o vídeo mistura VHS, iPhone e câmera 3D Kinect para captar o corpo em movimento espontâneo. “Não era sobre roteirizar o movimento, mas registrar o corpo quando ele não sabe que está em câmera”, explica Stella.
Antes da música, Stella se destacou na literatura com o livro de poesia KIZILA (2022), que aborda as dores e potências do corpo preto e travesti. Com A Fim, ela amplia sua linguagem e reafirma a poesia como forma de existência. “Não tenho a intenção de disputar o lugar de cantora”, afirma. “Quero mostrar que poetas também fazem música.”
Inspirada por Juçara Marçal, Linn da Quebrada, Saskia, Edgar e Metá Metá, Stella define o trabalho como “criativo, vulnerável e espirituoso”. “A Fim é sobre o poder de continuar mesmo quando tudo parece chegar ao fim”.