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Como a arte transforma vidas no Morro do Turano, no Rio

Espaço Cultural Fazendo Arte leva cultura e cidadania aos moradores do Morro do Turano e outras comunidades próximas

29 mai 2022 - 16h57
(atualizado em 29/6/2022 às 05h00)
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Projeto Espaço Cultural Fazendo Arte
Projeto Espaço Cultural Fazendo Arte
Foto: Acervo Projeto

Muito já foi dito e comprovado sobre como a educação e a cultura têm o poder de transformar a vida de qualquer pessoa, independentemente de sua origem. Assim como o esporte, nas favelas, a arte também cumpre esse papel de transformação social na vida dos moradores. Sendo assim, líderes comunitários apostam e investem no conhecimento dentro das comunidades, reafirmando essa, que é a mais poderosa arma contra a violência nessas localidades.

Uma dessas lideranças comunitárias é Evandro Machado, cria do Morro do Turano e administrador do Espaço Cultural Fazendo Arte. O líder comunitário é ator por formação e desde 1997 leva cultura, arte, educação e cidadania aos moradores das diversas comunidades da Tijuca, Rio Comprido e demais bairros próximos.

Evandro contou com exclusividade à ANF sobre o início do Fazendo Arte. "O Fazendo Arte é um projeto oriundo do Centro Comunitário Manoel Vitorino, em parceria com a Fundação Bento Rubião. No início, não tínhamos sequer um espaço físico, tínhamos apenas um grupo de mães que tomava conta das crianças. Conseguimos então um espaço, o qual foi cedido pela Mitra para o Centro Comunitário Manoel Vitorino, do qual hoje eu sou Presidente”, conta ele.

Sobre as atividades, ele ressalta como conseguiram relevância e mudaram as prioridades do projeto. “A gente ia para lá para fazer as atividades, não tinha uma questão de futuro. Hoje em dia no Fazendo Arte, as pessoas já vão pensando numa profissão, em aprender alguma técnica. No início, só oferecíamos a atividade de teatro, com o passar do tempo, eu percebi que a casa inteira ficava muito tempo fechada, só era aberta às terças e quintas, pois, eu dava aula de teatro à noite. Aí falei: 'a gente tem que movimentar mais esse espaço, então comecei a convidar vários amigos voluntários e com isso disponibilizamos mais oficinas", comenta.

Hoje, o Espaço Cultural Fazendo Arte, oferece oficinas de Robótica, Inglês, Capoeira, Muay Thai), Fotografía, Contação de Histórias, Artesanato, Percussão, Pré-Vestibular, Aulas de Violão, e futuramente será incluído em suas atividades o curso de Corte e Costura.

Projeto Espaço Cultural Fazendo Arte
Projeto Espaço Cultural Fazendo Arte
Foto: Acervo Projeto

O Fazendo Arte hoje arte rompeu diversas barreiras e hoje atende a moradores de diversas favelas do Rio. "O nosso o espaço atende não só a comunidade do Turano, mas também a comunidades vizinhas, como Paula Ramos, Fogueteiro, Falet. Tem gente que vem de Vila Isabel, Andaraí, do Borel. É claro, que o projeto fica dentro do Morro do Turano, mas enquanto há vagas nossas portas estão abertas. Temos oficinas tão cheias, que chega a ter fila de espera. Para ampliar e atender melhor os alunos, estamos criando uma sala multiuso", revela Evandro.

Em 2020 lidamos com o início da pandemia do Covid-19. Todos os setores da sociedade foram afetados economicamente neste período e com o Espaço Cultural não foi diferente, o projeto também fechou suas portas e suspendeu todas as suas atividades. Evandro Machado nos conta que foi uma época difícil e, nesse ínterim, decidiu se unir a outras lideranças da comunidade para ajudar os moradores que estavam passando por dificuldades. Juntos criaram a campanha ‘Turano Contra o Coronavírus’ (TCC), que dentre outras ações, distribuiu cestas básicas, hortaliças e produtos de higiene para os moradores da comunidade. "Devido a pandemia tivemos dificuldades em manter as portas da instituição abertas. Então, criamos uma campanha de arrecadação de alimentos, para ajudar às famílias afetadas. Essa campanha não foi criada só por mim, mas por um grupo de lideranças dentro da comunidade. Tivemos presidentes de associações de moradores, igrejas e, outras lideranças sociais também. Conseguimos arrecadar, divulgar e distribuir. Foi um trabalho de mãos dadas de verdade, um momento muito bacana em prol do próximo", conta orgulhoso.

O Espaço Cultural sempre esteve à disposição da Comunidade e enquanto esteve sem o seu habitual funcionamento, foi usado para armazenamento dos itens arrecadados pela campanha.

Evandro relata que o retorno das atividades não tem sido fácil, ouve uma grande evasão de alunos, e algumas turmas diminuíram bastante. "O retorno do Fazendo Arte não está sendo fácil, tínhamos alunos certos, garantidos e quando retomamos, foi com muito cuidado. Uma turma que tinha 15, hoje está com 6, ou até 3 alunos. A situação se complica porque não temos patrocínio. Trabalhamos com a cara e a coragem”, lamenta.

Ainda antes do início da pandemia de covid-19, a cultura, arte e educação, já vinham sofrendo com a falta de investimento do governo anterior. O atual, diminuiu ainda mais, cortando drasticamente, verbas destinadas a esses setores. Como já foi dito anteriormente, a crise sanitária só fez agravar o que já estava muito debilitado. Ouvimos de Evandro Machado como esse desmonte afeta diretamente não somente o seu espaço cultural, mas, todos os espaços culturais que existem dentro das favelas e periferias. "A gente sabe que são a cultura e a educação que criam e transformam um cidadão, e com esse problema da pandemia sofremos um desmonte muito grande. Eu que vivia da arte, hoje em dia trabalho numa área totalmente diferente da minha. Eu sou do teatro, sou do cinema, e com as portas fechadas, tive que procurar um outro ramo, estou trabalhando numa portaria de um prédio, para sobreviver e tentando fazer com que as coisas voltem ao normal. Os editais fecharam, muitos deles não se concretizaram, diversos repasses não foram feitos, ou feitos com extrema demora. Poucas pessoas foram acolhidas e isso acaba afetando sim, os projetos”, desabafa.

Por serem historicamente mais vulneráveis, as comunidades acabam sofrendo muito mais com o desmonte do governo no setor cultural. Evandro, que é artista, comenta sobre o descaso com a classe periférica que produz arte. "O Fazendo Arte, até então, não tem conseguido recurso que vem de governo e nem de lugar nenhum, para mantermos as portas abertas. O nosso foco é cultural, a gente trabalha com a formação de atores. A gente trabalha com eventos. Temos um grupo de percussão, que é o Som na Lata, que faz shows. A tem a oficina de teatro e várias oficinas na área de cinema, de televisão, que tem tido dificuldade pela questão financeira. Então, a pandemia veio e está atrapalhando os projetos sociais, está atrapalhando a cultura dentro das comunidades. Se a gente não tem uma educação de qualidade no nosso país, se a gente não tem uma cultura, infelizmente, a gente faz com que a nossa população menos favorecida fique a cada dia mais sem diálogo, ainda mais sem poder de raciocínio, por causa das questões culturais do nosso país", diz.

Projeto Espaço Cultural Fazendo Arte
Projeto Espaço Cultural Fazendo Arte
Foto: Acervo Projeto

Sim, são muitos os obstáculos que moradores de favelas têm para poder ter acesso à cultura, educação e arte. Mas, também sabemos, que assim como o esporte, a arte é uma das maneiras mais eficazes de inclusão social dessas pessoas. Evandro Machado fala do poder de transformação que a arte tem na vida dos que vivem nas periferias. " Sabemos que nem todas as pessoas da favela vão virar grandes jogadores de futebol, que nem todos os artistas que fazem teatro, que fazem dança, que fazem música, que tem uma vida cultural ativa dentro das favelas vão virar grandes artistas. Mas, eu tenho certeza de que irão se tornar grandes cidadãos. Porque a cultura e o esporte te ensinam a disciplina, te ensinam o respeito a vida, te ensinam o respeito ao próximo. A gente luta bastante para levar a cultura e o esporte pra dentro das comunidades. Isso com certeza, faz parte da inclusão social, faz parte da vida dessas pessoas. Quantas pessoas são transformadas? Nós podemos citar vários nomes que hoje em dia cresceram, seja na área do teatro, cinema, televisão, da música, e até mesmo do esporte", ressalta.

Projeto Espaço Cultural Fazendo Arte
Projeto Espaço Cultural Fazendo Arte
Foto: Acervo Projeto

O ator afirma que ele próprio é o resultado desse poder que a arte tem de transformar vidas nas comunidades. Por ser cria da favela e ter sido criado sem a presença do pai, Evandro relata que teve contato logo cedo com a arte e diz que a mesma o salvou. "Eu tive o contato com a arte muito cedo, e digo que ela me salvou e tem salvado muita gente. A cultura tem salvado muita gente. O que eu sinto falta é de um programa eficaz dentro das comunidades, voltado para questão da educação, da cultura e do esporte. Não uma coisa política, mas algo para fazer uma transformação social dentro das comunidades. A gente sabe que é possível. Isso tudo é possível", comenta esperançoso.

Sem dúvida é possível implantar um programa eficaz dentro das favelas voltado para cultura e educação e o Espaço Cultural Fazendo Arte comprova o quanto a arte possui influência e relevância na vida dos moradores da periferia, participando ativamente dessa transformação social.

ANF
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