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Banda Afrocidade quer Camaçari reconhecida como cidade preta

Big band nasceu em comunidades da cidade baiana e funde tradições musicais, batidas eletrônicas e consciência periférica

24 ago 2023 - 05h00
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Afrocidade no lançamento de Vivão, de 2021,  primeiro álbum do grupo do município de Camaçari, na Bahia
Afrocidade no lançamento de Vivão, de 2021, primeiro álbum do grupo do município de Camaçari, na Bahia
Foto: Roncca

Uma big band formada nas comunidades de Camaçari, cidade a 36 quilômetros de Salvador, quer mostrar que a riqueza do primeiro polo petroquímico planejado no Brasil, que começou a funcionar em 1978, não evita a vida pobre e desconhece sua herança indígena e preta. A Afrocidade pretende expressar, na musicalidade e nas letras, essas e outras verdades.

A maioria dos habitantes de Camaçari, com quase 300 mil habitantes, tem baixa renda. A cidade foi considerada a quarta mais violenta do país segundo dados divulgados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2022. Para o diretor musical Eric Mazzone, a big band não surgiu em Camaçari por acaso.

O município é uma grande favela plana, “com exceção dos bairros chiques da orla, a maior parte possui a mesma característica”. Há comunidades antigas que, após muita luta, conquistaram um pouco de estrutura.

Segundo o tecladista Sulivan Nunes, a relação com os povos indígenas e negros resultou no nome da banda “e em uma das principais motivações, que é a de afirmar a cidade de Camaçari como cidade negra”.

Afrocidade é favela, antes de tudo

Tendo forte ligação com a periferia, o grupo utiliza seu trabalho para dialogar com a realidade das comunidades. A música é um código de acesso, assim como cada ritmo ou elemento adicionado à sonoridade.

“Se utilizamos o arrocha, a gente dialoga com um público específico; o pagodão nos leva para outro lugar; o samba-reggae também. Quando se mistura com o rap, o trap e as frequências mais graves, a música acaba se tornando um canal de comunicação de direta com a periferia”, descreve Eric Mazzone.

Afrocidade se apresentando em 2002. Banda quer Camaçari, na Bahia, reconhecida, além do polo petroquímico, como cidade preta
Afrocidade se apresentando em 2002. Banda quer Camaçari, na Bahia, reconhecida, além do polo petroquímico, como cidade preta
Foto: Divulgação

Segundo ele, “as letras reafirmam tudo isso, trazendo o nosso cotidiano. Nossa relação com as periferias é direta: não nos afastamos nunca, pertencemos a ela e ela pertence a nós”.

Do jazz à Mestra Cultural Dona Bete

A big band Afrocidade surgiu em aulas de percussão ministradas por Eric Mazzone em 2011. Segundo ele, a formação com vários integrantes “é uma das nossas maiores potências. Os relatos de pessoas que assistem o show sempre trazem isso como algo muito forte. A performance mantém o olhar em movimento”.

Além da evidente influência das big bands – grupos de jazz às vezes com mais de dez músicos, que estão na origem do estilo nos Estados Unidos – outras figuras influenciam, como Mestra Cultural Dona Bete.

A formação de big band não é comum, mas a performance coletiva da Afrocidade é um dos elementos que o público mais percebe
A formação de big band não é comum, mas a performance coletiva da Afrocidade é um dos elementos que o público mais percebe
Foto: Divulgação

Junto com outras mulheres, em 2002, ela resolveu criar a chegança feminina, com o objetivo de manter a manifestação cultural na região de Arembepe. Sob o seu comando, mulheres tocam pandeiros, bailam e cantam músicas sobre histórias de marujos em alto-mar e a devoção aos santos protetores.

Raízes na música preta, claro

“Somos influenciados por tudo que escutamos. A diversidade musical diaspórica é algo que nos encanta muito. Aqui podemos eleger a música de terreiro e o samba de roda como grandes influenciadores. O movimento manguebeat nos tocou bastante, a sonoridade dos tambores dialogando com a tecnologia e com a sua cultura”, revela Eric Mazzone.

Afropop no Concha Negra reúne Margareth Menezes, Luedji Luna e Afrocidade em Salvador, em 2019
Afropop no Concha Negra reúne Margareth Menezes, Luedji Luna e Afrocidade em Salvador, em 2019
Foto: Divulgação

Para ele e para o tecladista Sulivan Nunes, o tambor é o princípio, a música sai do batuque para o computador. Eles entendem os equipamentos eletrônicos como uma extensão do pensamento. Contam com um estúdio em casa, onde digitalizam e traduzem os arranjos através das máquinas.

ANF
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