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“Festas juninas estão entre os maiores festejos periféricos”, diz pesquisador

As quebradas são formadas por caipiras, nordestinos, negros, entre outros povos que ressignificaram as festas rurais

12 jun 2025 - 08h15
(atualizado em 13/6/2025 às 17h15)
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Resumo
Em entrevista, pesquisador detalha fatores históricos, culturais e sociais que tornam as festas juninas uma das principais expressões populares das periferias, especialmente nas grandes cidades brasileiras. Elas ressignificam identidades e pertencimentos do Brasil profundo.
Pesquisador Diego Dionísio rodou o Brasil em mais de duas décadas de pesquisas sobre festas populares.
Pesquisador Diego Dionísio rodou o Brasil em mais de duas décadas de pesquisas sobre festas populares.
Foto: Arquivo pessoal

O pesquisador Diego Dionísio, nascido e criado na periferia de Guarulhos (SP), com vivências marcantes na casa dos avós no interior paulista, onde costumava passar as férias, lança um livro sobre as tradições juninas, destacando especialmente o fato de que foi nas periferias que essas festas surgiram e se mantêm vivas.

“Não tenha dúvida: as festas juninas foram e ainda são um dos maiores festejos periféricos do Brasil”, afirma o autor de Arraiais, Afetividades e Travessias no Arraial TáDito. As festas juninas surgiram nas zonas rurais, onde se mantém vivas, e vieram para as periferias das grandes cidades, trazidas por caipiras, nordestinos, negros e outros povos que chegaram às capitais.

O livro homenageia uma das maiores festas juninas da Grande São Paulo, realizada na Vila Galvão, periferia de Guarulhos. Na entrevista ao Visão do Corre, o pesquisador fala das festas juninas recriadas nas periferias, explica a preferência popular por Santo Antônio e a tentativa de apagamento da imagem de São Benedito, um dos poucos santos pretos.

Para o pesquisador, São Benedito sofre tentativa de apagamento, apesar da importância nas festas populares, e São João é um santo democrático.
Para o pesquisador, São Benedito sofre tentativa de apagamento, apesar da importância nas festas populares, e São João é um santo democrático.
Foto: Arquivo pessoal

As festas juninas são manifestações culturais periféricas?

O ciclo junino é quando as periferias coroam suas rainhas, o cria risca seu sapateado, não no passinho, mas na quadrilha. Não tenha dúvida que, sim, as festas juninas foram e ainda são um dos maiores festejos periféricos do Brasil. A nossa cultura caipira é periférica nas grandes cidades, famílias do nortes e nordeste se reagruparam nas últimas décadas em periferias como as de São Paulo e recriaram suas tradições de dançar quadrilha. Temos mais de cinquenta quadrilhas de tradição nordestina latentes em São Paulo dando continuidade às manifestações e todas, sem exceção, estão nas periferias.

A maioria das favelas brasileiras com nomes de santos juninos homenageia São João. Qual é o motivo dessa devoção?

A preferência por São João nas comunidades periféricas do Brasil não é apenas uma questão devocional, mas a expressão de um afeto coletivo profundamente enraizado na memória do povo. São João é o santo da alegria democrática. A fogueira, o forró, o milho, o chapéu de palha, tudo cabe na festa. E todo mundo cabe nela.

É com pouco que se faz muito.

O pano de chita vira vestido de gala, a escola vira salão de dança, o barraco vira barraca de brincadeira. E no centro de tudo isso, está ele, o São João que dança com o povo. Os pais e mães que hoje moram nas periferias carregam as lembranças da roça, do interior, da infância no terreiro. São eles que ensinam os filhos a dançarem quadrilha, que cozinham o bolo de milho na forma herdada da avó, que cantam as modas de Luiz Gonzaga como quem passa um segredo sagrado adiante. A cultura junina, ali, é herança viva. E viva porque acessível, simples, do povo.

Caipiras, nordestinos, negros e outros povos que vieram ganhar a vida na cidade grande faziam festa na roça, que continuam nas periferias das metrópoles.
Caipiras, nordestinos, negros e outros povos que vieram ganhar a vida na cidade grande faziam festa na roça, que continuam nas periferias das metrópoles.
Foto: Divulgação

Você escreveu que São Benedito está “no coração das celebrações populares brasileiras”. Por quê?

Sempre notei a importância dele em todos os festejos pelo Brasil, apesar de ser deixado de lado e ou à sombra. São Benedito é um dos poucos santos pretos. Pela devoção popular, ele fica na cozinha, multiplica e compartilha a comida. Sempre está ligado onde tem música, festa, rua e um bom tempo, sem chuvas, para fazer a festa.

O que você pretende com seu livro?

Ao narrar os bastidores, as experiências e os afetos das festas juninas e das manifestações populares do Brasil profundo, trago à tona os saberes de um povo que, historicamente, tem sido marginalizado: os caipiras, gente do interior, negros, pobres, os LGBTQIA+, os devotos e os artistas populares que mantêm viva a chama das festas sagradas e profanas.

*Terraiá 2025: a cobertura do Terra para as festas de São João tem patrocínio de Amazon.com.br e Loterias CAIXA e apoio de Vivo e Pringles®.

Fonte: Visão do Corre
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