Mulher da periferia de Salvador vira curadora em Nova Iorque

Priscila Santana é cria do Engenho Velho de Brotas, periferia de Salvador, lugar histórico que ajudou a produzir riqueza com cana-de-açúcar nos tempos coloniais. Maestrina e educadora, ela vem do bairro onde moraram Castro Alves e o fotógrafo Pierre Verger. Atualmente, vive nos Estados Unidos, de onde está se destacando na cena musical mundial.

Ela acabou de assumir a curadoria e gestão de programação do renomado SummerStage Festival. Um dos maiores do país, existe há 37 anos, e inclui o prestigiado Charlie Parker Jazz Festival. A agenda, que vai de junho a outubro, ocupa sete parques, do Central Park aos espaços do Bronx, Brooklyn, Queens e Staten Island. São mais de 250 artistas contratados para 80 shows durante os dias de evento.

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E quem está no comando da programação? A baiana Priscila Santana. “É uma honra, como mulher negra, ocupar esse espaço de liderança. Não é apenas uma conquista pessoal, mas também um símbolo poderoso de que estamos quebrando barreiras e desafiando estereótipos profundamente enraizados”, diz.

Comprometido com a inclusão de 50% de mulheres na programação e mais de 80% de artistas não brancos, a programação do SummerStage Festival é diversa. Para esta edição, estão escaladas artistas pop como Corinne Bailey Rae, divas do jazz como Andra Day e Christian MCBride. Do Brasil, virão Alcione e Larissa Luz.

Música para impulsionar mudanças sociais

Priscila Santana liderou a Prima, iniciativa governamental que trouxe oportunidade para mais de 1500 jovens estudantes brasileiros de escolas públicas. Ela continua este mesmo trabalho ao realizar shows gratuitos nas ruas e parques movimentados de Nova York. No entanto, sua jornada extrapola os palcos.

Ela está fazendo doutorado em música na Columbia University-Teachers College. Sua pesquisa se concentra nas intersecções entre liderança, políticas culturais nas artes e estudos feministas negros. E consegue dedicar tempo ao cuidado da filha Sofia. 

Como musicista, é regente da Companhia Internacional de Ópera Brasileira e lidera um grupo de samba exclusivamente feminino. Tem mais: Priscila Santana é coordenadora voluntária do Coletivo Kilomba, uma coalizão de mulheres negras brasileiras nos EUA, e do Coletivo de Estudantes Negrxs Brasileirxs da Universidade de Columbia, AFRA.

Seu currículo inclui também ter sido curadora da temporada 2023 do Theatro Municipal de São Paulo, jurada do Festival de Música da Paraíba, entre outros. Sua trajetória tem turnês aclamadas pela crítica em países da Europa e nos Estados Unidos, acompanhando grandes nomes da música clássica e colaborando com artistas brasileiros como Carlinhos Brown, Daniela Mercury, Margareth Menezes e Maria Rita.