PUBLICIDADE

Bombando na internet, tacacá gera renda há décadas no Pará

“Eu vou tomar um tacacá, dançar, curtir, ficar de boa”, canta Joelma. Hit chama a atenção para comida amazônica típica

15 dez 2023 - 14h33
Compartilhar
Exibir comentários
Tacacá como o da Teka segue a receita tradicional em Belém: tucupi, goma de tapioca, camarão seco e jambu
Tacacá como o da Teka segue a receita tradicional em Belém: tucupi, goma de tapioca, camarão seco e jambu
Foto: Divulgação

A internet não para de gerar memes e os brasileiros não param de repetir a música da cantora Joelma que diz “eu vou tomar um tacacá, dançar, curtir, ficar de boa”. O que é novidade para uma parte do país, faz sucesso há décadas na capital paraense, em barraquinhas nas calçadas e esquinas, comandadas, sobretudo, por mulheres. Elas são as tacacazeiras, e fazem do alimento sua principal fonte de renda.

Mas o que é o tacacá? Servido bem quente em cuias, a iguaria amazônica tem como ingredientes o tucupi, caldo amarelado e fino extraído da tapioca; a goma de tapioca, feita de mandioca; camarão seco; e o jambu, planta rasteira que, quando mastigada, provoca um leve tremor na boca.

A comida típica é um espécie de sopa, servida principalmente aos fins de tarde, nas cidades nortistas. Criação dos indígenas paraenses, é comum encontrar o tacacá nos estados do Pará, Acre, Amazonas, Rondônia e Amapá.

Em 2011, o município de Belém instituiu o Dia das Tacacazeiras, que passou a ser comemorado em 13 de setembro. Há dez anos, as vendedoras de tacacá foram declaradas Patrimônio Cultural Imaterial da capital paraense, em reconhecimento ao seu trabalho e contribuição cultural.

Uma tacacazeira típica

Na Região Metropolitana de Belém vive Maria Osmarina Chaves, conhecida como Marina. A tradicional tacacazeira, de 53 anos, resiste ao tempo e vive da venda do tacacá, da forma mais genuína possível. Ela trabalha entre quarta e segunda-feira. Leva seu carrinho para perto da feira do bairro da Cidade Nova e lá, na rua, próxima de sua casa, vende tacacá que não acaba mais, com a ajuda de três dos oito filhos.

A tacacazeira Marina com os filhos Edinan e Erismar, e a nora Daniela Saldanha. Negócio familiar
A tacacazeira Marina com os filhos Edinan e Erismar, e a nora Daniela Saldanha. Negócio familiar
Foto: Arquivo pessoal

“Eu me tornei tacacazeira pela necessidade. Depois que me separei, fui trabalhar como doméstica e minha patroa me ajudou. Comecei com uma mesinha, em frente à casa dela, e estou no mesmo lugar há quase vinte anos”, conta Mariza.

A tacacazeira vive sendo estimulada pelos clientes e retribui, tentando agradar ao máximo. O principal segredo do negócio é combinar os ingredientes ao gosto do freguês. Quem nunca experimentou tacacá, costuma pedir “com mais tucupi, camarão, jambu e menos goma”, explica rápido Marina, aos risos.

Histórias de superação

A superação conecta a história das tacacazeiras. Contabilizando uma década a mais de trabalho em relação a Marina, e a uns dez quilômetros de distância, trabalha a veterana Terezinha Nascimento, conhecida como Teka. Desde 1991, ela faz comidas típicas. Seu ponto está na praça em frente ao conjunto Pedro Teixeira, no bairro do Coqueiro, em Belém.

Devido ao desemprego, em uma época pré-Plano Real, Teka e o esposo, Roberto Nascimento, encararam a compra, fiado, de um carrinho de uma conhecida, para iniciar as vendas de tacacá. 

“Fiz a proposta a uma amiga, se me vendia o carrinho, porque eu estava passando por um momento difícil, precisava trabalhar. Tinha dois filhos para criar. Para minha surpresa, tempos depois, ela mandou um recado dizendo que era para eu ficar com o carrinho, não tinha que pagar”, conta Teka.

Teka comemorando mais de três décadas de trabalho: já vendeu tacacá em carrinho na rua, em restaurante e agora em trailer
Teka comemorando mais de três décadas de trabalho: já vendeu tacacá em carrinho na rua, em restaurante e agora em trailer
Foto: Arquivo pessoal

Entre o trabalho e alguns tropeços, a tacacazeira Teka foi proibida, pela prefeitura de Belém, de vender sua comida típica. Arrasada, insistiu: montou uma mesinha em frente à sua casa e continuou vendendo. Anos depois, montou um restaurante, que a pandemia obrigou a fechar. Atualmente, trabalha em um trailer, na mesma praça onde tudo começou.

“O custo do trailer é mais barato, pago menos energia e é em frente à minha casa, apesar do faturamento ser menor do que na época do restaurante”, compara.

Tacacá delivery

As fortes chuvas que acontecem na região do Pará entre os meses de dezembro a maio, e a pandemia de covid-19, despertaram nas tacacazeiras outras formas de vender seus pratos típicos. Marina e Teka adotaram os aplicativos de delivery, sem abandonar o atendimento presencial.

Teka recebeu diversas propostas para aderir aos serviços de entrega, mas sentiu medo, não sabia lidar com tecnologia. “Tive a ajuda de uma pessoa que me apoiou em verificar o que mais vendia, tirar o que havia acabado e me adaptei”, explica a tacacazeira.

Diva em um dos seus carrinhos de tacacá, no bairro da Pedreira, em Belém: atendimento presencial e por delivery
Diva em um dos seus carrinhos de tacacá, no bairro da Pedreira, em Belém: atendimento presencial e por delivery
Foto: Arquivo pessoal

Segundo Marina, o lucro médio é menor no trabalho com as plataformas, chega a 25% menos em relação às vendas presenciais. “As entregas são apenas um complemento, mas dá para lucrar, tiro em média de mil e duzentos reais por mês.”

Preparação para a COP-30

Agilizadas, as tacacazeiras estão se preparando para a Conferências sobre Mudanças Climáticas da ONU, a COP-30, prevista para acontecer em novembro de 2025, em Belém. A cidade se transformou em um canteiro de obras, com duplicação de vias, drenagens de canais e abertura de centros gastronômicos. 

A vendedora de tacacá Maria Gomes, conhecida como Diva, também está se preparando para a COP-30. “Vai ser um evento muito grande aqui no Pará. Como terá muita gente de fora, eu quero aumentar meu quadro de funcionários, melhorar o atendimento ao cliente e aperfeiçoar os pratos”, explica.

Criação de Diva, o tacaranguejo é o tacacá tradicional com unhas de caranguejo. Ela também criou o “vataçoba”, mistura de vatapá, maniçoba e arroz paraense.
Criação de Diva, o tacaranguejo é o tacacá tradicional com unhas de caranguejo. Ela também criou o “vataçoba”, mistura de vatapá, maniçoba e arroz paraense.
Foto: Arquivo pessoal

Com duas décadas de trabalho e dois carrinhos de tacacá, em Pedreira e Marambaia, a tacacazeira Diva reinventa o tacacá. Ela criou o “tacaranguejo”, com unhas de caranguejo acrescentadas, e o “vataçoba”, que junta três pratos típicos: vatapá, maniçoba e arroz paraense.

“Tenho um amigo que vendia unha de caranguejo e ele dizia para gente inventar pratos diferentes. Eu testei e deu certo. Agora todo mundo tem”, comenta, orgulhosa.

Onde comer tacacá nas periferias de SP? Onde comer tacacá nas periferias de SP?

ANF
Compartilhar
Publicidade
Publicidade