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Veneza, a sereníssima: uma cidade como nenhuma outra

Veneza é uma daquelas raras cidades únicas no mundo

4 abr 2024 - 06h10
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Foto: Arquivo Pessoal

Salve, salve!!! Salve-se quem puder.

Veneza é uma daquelas raras cidades únicas no mundo, assim como o Rio de Janeiro, Istambul e talvez Paris. Quanta coisa já aconteceu ali! Na Piazza San Marco, na Basílica, nas decisões dos doges dentro do Palazzo Ducale. A grana preta que circulava nos áureos tempos do comércio de sedas e especiarias geraram pujança e importância pra cidade.

A playlist tem músicas italianas e os hits que fizeram sucesso fora da Bota. Umberto Tozzi, Eros Ramazzotti, Andrea Bocelli, Zucchero. Laura Pausini e vários outros.

Veneza, a jóia do Vêneto

Em vêneto, o idioma e não a região na Itália, a cidade se chama Venezia.

Caminhar por suas ruelas frias e vazias à noite é uma experiência única.

Saímos pra caminhar às 10:30 da noite rumo à famosa Ponte Rialto. Sugeri apenas ver a famosa construção e voltar ao hotel. Sem usar o Google Maps e apenas seguindo as plaquinhas no alto dos prédios, ora com setinhas indicando “per Rialto” ora “per San Marco”, chegamos facilmente ao local.

Uma errada básica nos fez desaguar num acesso ao Canal Grande. Os casarões da época dos doges no século 15 foram testemunhas da aliviada que demos na água do joelho.

Da Rialto animamos a caminhar até a San Marco e ver a praça vazia. Antes, uma parada estratégica pra comer algo, tomar uma cerveja e acabar de ver o jogo da Inter de Milão contra o Liverpool que venceu fora de casa, mas não se classificou. O dono do bar, um chinês/italiano Mário, nos tratou bem trazendo petiscos sem pedirmos e deixando o boteco aberto até a hora de partir.

No frio da noite fiquei me lembrando de Goethe. O poeta alemão que esteve por ali durante duas semanas de sua famosa “Viagem italiana”. Entre 1786 e 1788 usando um nome falso o famoso escritor realizou seu sonho antigo de viajar pela Itália.

Passando pelo Passo do Brennero, Lago di Garda, Malcesine, Verona, Venezia, Roma, Napoli, o Vesúvio e Taormina na Sicília, seu diário de viagem virou um bestseller e até hoje inspira alemães a seguir sua rota.

Veneza é uma Disneylândia para adultos, segundo definição dos próprios moradores dessa cidade única. Na alta temporada, a cidade de 272 mil habitantes é invadida por 130 mil turistas. Dizem que uma lei está para ser aprovada limitando o número de turistas diários e cobrando uma alta taxa servindo para financiar a manutenção e conservação dessa jóia única.

Sereníssima

A cidade foi a capital da histórica República de Veneza e também é conhecida como o "La Dominante", "Sereníssima", "Rainha do Adriático", "Cidade da Água", "Cidade Flutuante" e "Cidade dos Canais".

A República foi uma grande potência marítima durante a Idade Média e o Renascimento, e era um ponto de parada para as Cruzadas, além de um centro comercial muito importante para seda e especiarias. O reinado de “La Dominante” fez a riqueza circular pela cidade em quase toda a sua história.

Um capuccino na Piazza San Marco custa € 11, mas vem com biscoitinhos e um chocolate, além do copinho de água tradicional. Paga-se pela vista do Campanário, da Basílica de San Marco, do Palazzo Ducale ao lado e da própria praça. À noite os dois famosos cafés, o Caffè Florian, reduto de Gustav Mahler e tantos outros famosos, e o Gran Caffè Quadri, fazem um duelo musical inspirado.

A Ponte dos Suspiros fica atrás do Palazzo Ducale, onde nunca entrei, ligando-o à prisão. O Ducale era a antiga sede do Doge de Veneza, a autoridade máxima da República.

Os chineses compraram muita coisa por ali. Desde famosos palazzos e hotéis até restaurantes que por fora e por dentro parecem ser locais, mas cujos donos na verdade falam mandarim. A qualidade dos mesmos caiu bastante e achar um raiz é das coisas mais difíceis hoje em dia.

Felizmente achamos um de onde dois gondoleiros saíram após o almoço. Tinha cara de ser bom e estava cheio. Na mosca!

O passeio só é completo se você pegar um Vaporetto, o ônibus barco, ou uma lancha táxi para apreciar do Grande Canal toda a beleza e esplendor dessa jóia da arquitetura barroca e renascentista.

Como escreveu Friedrich Nietzsche: Se tivesse de procurar uma palavra que substituísse "música" poderia pensar em "Veneza".

Pra ver e ler

FILME: Inverno de Sangue em Veneza – Nicolas Roeg (1973). Suspense noturno na Cidade dos Canais.

Faz tempo que vi esse filme. É classificado como Cinema Fantástico, um subgênero da Sétima Arte que fez muito barulho na década de 1970 com “O Exorcista”, “Massacre da Serra Elétrica”, “Suspiria”, recém refilmado, entre outros.

No filme o casal Laura (Julie Christie) e John Baxter (Donald Sutherland) resolve iniciar uma nova vida em Veneza após a trágica morte acidental de sua filha que se afogou num lago. John iria trabalhar na restauração de pinturas sacras numa igreja, onde o casal conhece duas irmãs esquisitas, ambas já senhoras. Uma delas diz ter tido contato com o espírito da falecida filha e alerta o casal sobre os riscos que correm em Veneza. No início John tem dúvidas sobre aquilo, mas começa a ter visões misteriosas.

O clima de suspense vai crescendo à medida que Laura e John se embrenham pela “Rainha do Adriático”. Filmado no inverno e com várias sequências noturnas pelos labirintos das ruelas sombrias, situações estranhas começam a acontecer após uma das irmãs, que é médium e cega, afirmar que viu o espírito da menina morta.

O filme tem uma cena de sexo polêmica entre o casal que supostamente teria realmente transado no set de filmagens, fato jamais confirmado.

LIVRO: Morte em Veneza - Thomas Mann (1912). Em busca da beleza e da perfeição.

O filme homônimo de Luchino Visconti feito em 1971 tem Dirk Bogarde no papel de Gustav von Aschenbach. É um clássico pra lá de monótono e cansativo, por isso não o recomendei.

Já o livro escrito por Thomas Mann é um clássico atemporal, publicado pela primeira vez em alemão em 1912. No início do século XX, o compositor austríaco Gustav von Aschenbach vai para Veneza em busca de repouso após um período de estresse artístico e pessoal.

Sem encontrar a almejada Paz, ele se apaixona de forma platônica pelo jovem polonês Tadzio, o Belo, passando férias com sua família. O rapaz incorpora o ideal de beleza imaginado por Gustav que decide ir embora antes de fazer besteira, mas é obrigado a permanecer em Veneza já que sua bagagem tinha sido extraviada.

A metáfora do belo rapaz representando a beleza da cidade é evidente. Thomas Mann era leitor de Goethe e se inspirou nos diários da “Viagem Italiana” para escrever o livro. É uma escrita complexa com várias interpretações a cada parágrafo.

Apesar da simplicidade de história, temas como a homossexualidade, a perfeicao do jovem, a paixao narcisista do compositor e a busca na Arte pela forma física e sonho da beleza eterna permeiam esse clássico.

A perseguição e obsessão de Gustav por Tadzio é a eterna busca pelo belo, pelo perfeito.

SHOW: Pink Floyd em Veneza (1989). Um show impossível de acontecer hoje em dia.

Eu era adolescente quando assisti pela TV. Não tinha ideia da cidade nem da importância da banda. Muito menos da logística e parafernália necessária pra botar de pé um show desses.

Ainda me pergunto como é que enfiaram um palco com toda aquela iluminação e efeitos especiais típicos do Pink Floyd numa cidade apertada, repleta de edifícios e monumentos históricos.

Dizem que o show abalou as estruturas da cidade. Não sei se é lenda ou se realmente mediram os “estragos” que David Gilmour, Richard Wright e Nick Mason fizeram por ali.

Nessa reportagem com várias fotos temos noção do que foi o mega concerto. Um palco flutuante foi montado em frente à Piazza San Marco para a apresentação gratuita no dia do Redentor, o padroeiro da cidade, 15 de Julho de 1989. Foi patrocinado pela italiana RAI e televisionado ao vivo para mais de 100 milhões de pessoas em 20 países

Sem banheiros suficientes pra dar conta da horda de fãs, a cidade ficou imunda e monumentos foram seriamente danificados. Bastava um bilhete de trem ou ônibus pra chegar na cidade e assistir ao show. Sem grana pra hospedagem, a maioria dormiu por ali mesmo, transformando a San Marco num imenso dormitório ao ar livre.

Nada que o som do Floyd não tenha compensado durante os 90 minutos de show. Um clássico que você pode assistir na íntegra aqui.

(*) Pedro Silva é engenheiro mecânico, PhD em Materiais, vive em Viena na Áustria, volta e meia dá umas bandas em Veneza, e escreve semanalmente a newsletter Alea Iacta Est.

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