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Conheça destinos turísticos de alto risco

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Sara Gómez Armas

Águas cor safira nos lagos de Band-e-Amir, imponentes penhascos de arenisca, estátuas gigantes de Buda de mais de 1.500 anos de idade ou a impressionante mesquita azul de Mazar-i-Sharif. Soa como um lugar idílico para passar umas férias, embora a coisa mude quando se descobre que falamos do Afeganistão.

Afeganistão é um dos destinos turísticos perigosos do mundo
Afeganistão é um dos destinos turísticos perigosos do mundo
Foto: EFE

Embora não seja um destino turístico de primeira linha, a agência de viagens Babel, com base na cidade suíça de Zoug, oferece viagens ao Afeganistão e a outras áreas em conflito a valentes viajantes, ávidos por experiências radicais, que buscam a adrenalina que se esconde por trás do perigo e do risco.

Apesar de ter sido um importante destino turístico durante os anos 60 quando os hippies veraneavam ali atraídos por sua beleza natural e pelas drogas baratas - o que foi denominado como "hippie trail" -, o Afeganistão está agora na lista de países mais perigosos do mundo e nenhum Estado recomenda viajar a ele.

Destinos tão surpreendentes como pouco seguros

Deixando de lado estas recomendações, o diretor da Babel, o australiano Kevin Pollard, oferece desde o começo deste ano um catálogo de destinos tão surpreendentes como pouco seguros, entre os quais se destacam zonas conflituosas, ou inclusive em guerra, como Iraque, Irã, Somália, Sudão e Coreia do Norte.

No entanto, Pollard assegurou à agência EFE que suas viagens acontecem sob escrupulosas medidas de segurança e que todos seus clientes se sentem "cem por cento seguros", porque durante as excursões não se assumem riscos de maneira irresponsável.

"De todos os destinos oferecidos pela Babel, o lugar que mais atenção monopoliza é sem dúvida o Afeganistão", segundo confessou Pollard, e para lá está sendo preparada a próxima viagem da agência em setembro, por 9.500 euros (US$ 13.500) por 15 dias, uma quantidade não ao alcance de qualquer um e que não inclui as passagens de avião.

Segundo explicou Pollard, o que mais encarece o preço é o seguro de viagem, que chega a cerca de 700 euros (perto de US$ 1.000) por duas semanas - dez vezes mais que um seguro de viagem convencional - e cobre todo tipo de perigos, incluindo as negociações em caso de rapto, embora não o pagamento do resgate.

"Viajamos acompanhados de um agente de segurança, um motorista e um guia. Todos eles andam armados e conhecem muito bem as regiões pelas quais podemos nos movimentar", assegurou Pollard.

Este australiano tem contatos também com agentes da Otan no país para que seus clientes possam, por exemplo, almoçar com um mujahedin ou acompanhar um soldado de patrulha.

"Trata-se de viver experiências novas que outros lugares não oferecem, misturar-se com as pessoas e averiguar o que significa estar em uma zona de guerra", assinalou Pollard.

Sem dúvida, a grande experiência que Kevin Pollard foi vivida na última viagem que a Babel organizou ao Afeganistão, em maio passado, na mesma noite em que morreu o líder de Al Qaeda, Osama Bin Laden, pois dormiram, alheios ao que estava acontecendo, na base militar americana de Bagram, de onde grande parte da operação foi comandada.

"A duras penas pudemos dormir naquela noite porque cerca de 50 aviões decolaram ou aterrissaram na base em apenas cinco horas. O barulho era ensurdecedor, mas não sabíamos se tal afluência de aviões era normal ou não", contou.

Sem acesso à internet ou a qualquer outro meio de informação, na manhã seguinte não tinha se inteirado do que tinha acontecido até que recebeu uma ligação de Sydney de sua namorada preocupada com ele.

A noite que Bin Laden morreu

Pollard relatou que nos momentos imediatamente posteriores à notícia, toda sua equipe ficou muito preocupada se os talibãs poderiam fazer represálias pelo sucedido contra as tropas americanas ou civis afegãos, por isso que fizeram, mais nervosos do que o habitual, a viagem de volta a Cabul.

"Agora vejo aquilo como uma lembrança que poderei contar a meus netos porque dos 300 turistas que visitam a cada ano o país, poucos podem dizer que estiveram ali na mesma noite que Bin Laden morreu", resumiu Pollard.

O Afeganistão não é o único lugar que oferece experiências insólitas, já que, por exemplo, na Somália os viajantes podem tomar um café com os piratas que vagam pelas águas do Índico na busca de pesqueiros ocidentais para sequestrar e que transformaram este país do Chifre da África, agora assolado também pela terrível crise de fome, em um dos mais perigosos do mundo.

Pollard defendeu que não se trata de países tão perigosos como se pensa no Ocidente e afirma que a situação no norte da Somália ou no Iraque melhorou muito no que se refere a segurança e não acontecem casos de turistas assassinados.

"Ali as pessoas são encantadoras, simpáticas e hospitaleiras, não são todos terroristas", ressaltou o australiano.

Pollard reconheceu que a situação no Afeganistão é um pouco mais perigosa, por causa do risco de possíveis atentados, mas insistiu em que sua agência trabalha sob escrupulosas medidas de segurança e que todos seus guias estão em permanente contato com as autoridades locais para identificar os perigos com antecedência.

O perfil do turista intrépido

O perfil de gente que escolhe estes destinos é do mais variado, desde professores de 26 anos até aposentados com mais de 68. No entanto, todos eles têm um traço em comum: "são gente interessada em conhecer a história e as formas de vida do país que visitam e cerca da metade dos clientes têm um interesse específico por ver zonas em guerra", asseverou Pollard.

De acordo com seu promotor, o principal atrativo destas viagens é que oferecem uma oportunidade única de se misturar com o povo local, conversar com eles e poder visitar povoados e cidades quase recônditas às quais os turistas não chegam normalmente.

Pollard denominou estas viagens como "de compromisso cultural", promovidas para proporcionar aos interessados os conhecimentos e o entendimento necessário para compreender as raízes de um conflito e ajudar os locais a criar relações duradouras e soluções pragmáticas e sustentáveis para seus problemas.

No entanto, a polêmica não deixa este tipo de iniciativa, já que em caso de sequestro ou assassinato, são os países dos turistas que têm que cobrir as despesas, com o dinheiro de todos os contribuintes.

Assim aconteceu em 2009, quando dois turistas suíços foram sequestrados no Mali, cuja libertação custou ao Governo da Confederação Helvética mais de US$ 7 milhões. Por isso, há quem veja isso como um preço alto demais que paga por todos pelo capricho de alguns poucos privilegiados.

EFE   
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