Taxa de AVC cresce entre jovens adultos no Brasil; entenda os motivos
Doença antes associada à terceira idade tem atingido cada vez mais adultos jovens, e especialistas alertam: a pressão alta é o principal fator de risco
O acidente vascular cerebral (AVC), popularmente chamado de derrame, é uma das doenças cardiovasculares mais graves que existem. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), está entre as três principais causas de morte no planeta - e pode deixar sequelas permanentes, como paralisia e prejuízos cognitivos. Tradicionalmente relacionado à terceira idade, o AVC vem preocupando cada vez mais especialistas por atingir um novo grupo: os jovens.
O que é o AVC?
O derrame acontece quando o fluxo de sangue para o cérebro é interrompido, privando as células cerebrais de oxigênio e nutrientes. Essa interrupção pode causar a morte das células e comprometer funções vitais do corpo. Em 2021, o AVC esteve entre as principais causas de morte global, junto das doenças cardíacas e da COVID-19.
Atualmente, cerca de uma em cada dez pessoas no mundo morre em decorrência da doença, e as projeções indicam que esse número pode chegar a 10 milhões de mortes anuais até 2050, impulsionado pelo envelhecimento populacional.
A nova face da doença
Um relatório do Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos revelou um dado alarmante: entre 2013 e 2019, as mortes por AVC em pessoas de 45 a 64 anos aumentaram 19%. Outro estudo, publicado na revista Lancet Neurology, apontou que, enquanto as taxas caíram entre idosos, cresceram entre adultos com menos de 55 anos. Nos últimos anos, os casos entre pessoas de 18 a 44 anos cresceram 15%, indicando uma tendência preocupante.
Por que os jovens estão tendo mais AVC?
Diversos fatores explicam o aumento dos casos entre adultos jovens. A seguir, os principais:
1. Obesidade e maus hábitos alimentares
Desde 1990, a obesidade aumentou em 88% o risco global de AVC. O excesso de peso sobrecarrega o coração, favorece hipertensão e diabetes tipo 2, e contribui para o acúmulo de placas nas artérias. Além disso, o consumo elevado de bebidas açucaradas e ultraprocessados está associado ao aumento da inflamação e à formação de coágulos sanguíneos.
2. Poluição e mudanças climáticas
A poluição do ar é responsável por cerca de 30% dos casos de AVC no mundo, segundo estudos recentes. Temperaturas extremas (tanto frias quanto quentes) também influenciam o risco, com o impacto do calor subindo 72% nos últimos anos, conforme dados da Lancet.
3. Epidemia de opioides
Nos Estados Unidos, estados afetados pela crise dos opioides, como Ohio e Tennessee, registraram crescimento expressivo de AVCs, indicando uma relação entre o abuso dessas substâncias e o aumento do risco.
4. Doenças crônicas e desigualdades
Condições como diabetes tipo 2 e hipertensão arterial não controlada estão entre os principais gatilhos. Além disso, fatores socioeconômicos influenciam diretamente as taxas da doença, com comunidades indígenas, negras e de baixa renda mais afetadas por dificuldades de acesso à saúde.
O papel da pressão alta
Entre todos os fatores de risco, a hipertensão é o mais determinante. De acordo com a Lancet, ela está ligada a mais da metade dos casos de AVC no mundo. Um estudo da JAMA Network Open mostrou que mais da metade dos norte-americanos com pressão alta não sabem que têm o problema - e o desconhecimento é ainda maior entre jovens: 93% das pessoas entre 18 e 44 anos.
A solução começa com prevenção
A boa notícia é que a maioria dos casos de AVC pode ser prevenida. Manter a pressão arterial abaixo de 120/80 mmHg é o primeiro passo, e isso pode ser alcançado com ajustes simples no estilo de vida:
- Reduzir o consumo de sódio: evite ultraprocessados, embutidos e molhos prontos, grandes fontes de sal escondido;
- Evitar bebidas açucaradas e excesso de álcool: ambos elevam a pressão e o risco de diabetes;
- Controlar o peso: adote uma alimentação rica em vegetais, fibras e proteínas magras;
- Praticar atividade física regularmente: o exercício melhora a circulação, o colesterol e reduz o estresse;
- Abandonar o cigarro: o tabaco danifica os vasos e dobra o risco de AVC.
A realidade brasileira
No Brasil, o cenário segue a mesma tendência global. Segundo a Rede Brasil AVC, 18% dos casos nacionais atingem pessoas entre 18 e 45 anos - um dado que acende o alerta para hábitos cotidianos e autocuidado. Consultar o médico regularmente, medir a pressão e observar sinais como fraqueza súbita, dificuldade para falar ou perda de visão são atitudes que salvam vidas.