Setembro Amarelo: quando a dor se esconde atrás de sorrisos
Depressão ainda carrega estigmas, mas o Setembro Amarelo reforça que falar, acolher e buscar tratamento pode salvar vidas; saiba o que pode servir de apoio ao cuidado emocional
Setembro Amarelo - A vida, muitas vezes, se apresenta como uma paisagem calma, ensolarada, repleta de cores. Mas por trás dessa imagem, pode existir uma noite escura, silenciosa, que quase ninguém enxerga. A depressão é assim: um sofrimento que se oculta, que se disfarça nos gestos cotidianos, nos risos aparentemente sinceros, nas frases automáticas de quem responde "está tudo bem" sem estar.
É inquietante perceber que tantas pessoas, aparentemente fortes, estão quebradas por dentro. E que nós, como sociedade, ainda temos dificuldade em enxergar além da superfície. Talvez porque seja doloroso demais encarar que a fragilidade não é exceção, mas parte da condição humana.
Importância do Setembro Amarelo
Infelizmente, o suicídio não é um tema distante para mim. Dois casos na minha própria família marcaram a minha história e me fizeram compreender ainda mais a importância de falar abertamente sobre esse assunto. É por isso que, neste Setembro Amarelo, reforço o quanto precisamos enxergar o sofrimento invisível e cuidar uns dos outros.
No Brasil, milhares de famílias passam pela mesma realidade todos os anos. Os números são duros, mas precisam ser ditos: diariamente, dezenas de brasileiros tiram a própria vida. Muitos deles, jovens que mal tiveram tempo de descobrir quem eram. Entre adolescentes, o risco vem crescendo de forma alarmante e isso nos faz repensar o quanto estamos, de fato, cuidando de nossas crianças e jovens.
Tratamento é fundamental
E, ainda assim, mesmo diante da gravidade dos dados, o maior perigo não está nos números, mas no olhar que se desvia, na escuta que não acontece, no abraço que não é oferecido. Uma pessoa em sofrimento não precisa de julgamentos, nem de frases prontas como "isso passa" ou "tenha fé". Ela precisa de presença, de alguém que se importe de verdade, que esteja disposto a ouvir, a acolher e, sobretudo, a ajudar a buscar tratamento.
É essencial compreendermos que a depressão não é falta de força de vontade, nem fraqueza de caráter. É uma condição de saúde, séria, complexa, que precisa de cuidado, assim como qualquer outra doença. Ninguém se envergonha de tratar a pressão alta ou a diabetes - então por que ainda existe tanto preconceito em procurar um psiquiatra ou psicólogo?
Os caminhos para o tratamento são múltiplos. A psicoterapia, o acompanhamento médico e o suporte de familiares e amigos são fundamentais. Mas há também o apoio da natureza, que há séculos nos oferece recursos valiosos. A fitoterapia pode ser uma aliada no tratamento da depressão e da ansiedade, quando bem indicada por profissionais habilitados.
A fitoterapia como aliada do cuidado emocional
1. Cava-cava (Piper methysticum)
Contém kavalactonas, compostos que modulam a ação do GABA (ácido gama-aminobutírico), neurotransmissor ligado à calma e ao relaxamento. Por isso, ajuda a reduzir ansiedade, tensão muscular e melhorar o sono. Contraindicações: em uso prolongado ou altas doses, pode sobrecarregar o fígado; deve ser evitada por pessoas com doenças hepáticas ou que consumam álcool e medicamentos hepatotóxicos.
2. Rhodiola rosea
Considerada uma planta adaptógena, ajuda o corpo a equilibrar os níveis de cortisol (hormônio do estresse) e atua também sobre neurotransmissores como serotonina e dopamina, melhorando energia, disposição e estabilidade emocional. Contraindicações: não indicada para pessoas com transtorno bipolar (pode precipitar episódios de mania) ou para quem usa antidepressivos sem acompanhamento médico.
3. Hipérico perfurato (Hypericum perforatum, erva de São João)
É um dos fitoterápicos mais estudados para casos de depressão leve a moderada. Seus princípios ativos, como a hipericina e a hiperforina, aumentam a disponibilidade de serotonina, dopamina e noradrenalina nas sinapses- mecanismo semelhante ao de alguns antidepressivos. Contraindicações: apresenta várias interações medicamentosas importantes - pode reduzir a eficácia de anticoncepcionais, anticoagulantes, antivirais e até de outros antidepressivos. Nunca deve ser usado sem orientação médica.
4. Mulungu (Erythrina mulungu)
Tradicionalmente usado no Brasil, contém alcaloides que agem em receptores de GABA, promovendo efeito calmante, auxiliando em quadros de insônia, ansiedade e agitação nervosa. Contraindicações: deve ser evitado em pessoas com pressão baixa, pois pode potencializar a hipotensão. Também pode causar sonolência, devendo ser usado com cuidado junto a outros medicamentos sedativos.
5. Valeriana (Valeriana officinalis)
Contém ácidos valerenicos que atuam sobre os receptores de GABA, favorecendo o relaxamento, a indução do sono e a redução da ansiedade. Muito utilizada em casos de insônia leve. Contraindicações: não deve ser associada a álcool, remédios para dormir ou ansiolíticos sem acompanhamento profissional, pois pode potencializar o efeito sedativo.
A natureza, quando respeitada e bem utilizada, pode ser um bálsamo. Mas nunca deve substituir o acompanhamento médico. É preciso lembrar que cada pessoa é única, e que a combinação entre ciência, cuidado humano e recursos naturais pode abrir caminhos de cura.
Cura e autocuidado
Falar sobre suicídio é duro, escrever ainda mais difícil, mas não falar, é muito mais perigoso. O Setembro Amarelo nos lembra que silêncio não salva, mas a palavra, o gesto, o olhar atento podem salvar. Que oferecer um ouvido amigo pode ser tão importante quanto um remédio. Que demonstrar interesse genuíno pela dor do outro pode ser a diferença entre a vida e a morte.
E aqui, ao final desta reflexão, quero deixar um convite. Se você está sofrendo, não se cale. Se você percebe alguém sofrendo, não se afaste. Lembre-se de que a vida não é feita apenas das noites escuras. Há sempre um amanhecer escondido atrás da tempestade.
Talvez seja essa a essência do Setembro Amarelo: recordar que, mesmo em meio à dor, sempre há um fio de luz. E que basta um gesto - um olhar, uma palavra, um abraço - para que esse fio se transforme em caminho. Que possamos ser faróis uns para os outros, lembrando sempre que, apesar das sombras, a vida é feita para ser vivida em plenitude. E ela é sempre maior que a dor.