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Produto para visão é vendido como se tivesse sido testado por pesquisadores da USP; vídeo é falso

Conteúdo manipulado utiliza inteligência artificial para simular falas e promover um medicamento que não tem autorização para ser comercializado

29 nov 2024 - 13h43
(atualizado às 18h03)
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Circula na web um vídeo falso que simula uma reportagem, atribuindo a pesquisadores do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto a testagem e recomendação de um produto chamado Lutramin. Criado com o uso de inteligência artificial, o vídeo manipula as vozes dos especialistas para promover o medicamento. A substância é anunciada como uma solução para diversos problemas oculares.

A manipulação digital inclui imagens de uma ex-aluna da USP e do oftalmologista e professor Rodrigo Jorge, fundador do setor de Retina e Vítreo do HC da USP Ribeirão Preto. Os discursos dos pesquisadores foram alterados usando tecnologia de deep fake.

Nas imagens, eles parecem atestar a segurança do produto, além de indicar que promove resultados em apenas 15 dias e foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Mas o produto não aparece cadastrado no Sistema de Consultas do órgão.

Segundo Jorge, o material foi baseado em uma reportagem verdadeira divulgada no Jornal da Band sobre um dos trabalhos desenvolvidos por sua equipe. No entanto, o vídeo falso substituiu os conteúdos originais por declarações fabricadas.

Um boletim de ocorrência foi feito e já foram levantados dados sobre o possível detentor do site. As autoridades estão investigando a fraude e a USP de Ribeirão Preto reforça a importância de checar informações em canais oficiais.

Promessas do produto

No site de vendas, o Lutramin é descrito como "a primeira fórmula ozonizada de curativo visual do mundo" e é informado que o produto seria capaz de prevenir ou tratar diversas condições oculares, como catarata, glaucoma, degeneração macular relacionada à idade (DMRI), embaçamento da visão e outros problemas. No vídeo manipulado, ainda se alega que o medicamento "absorve os problemas de visão como uma esponja".

A indicação no site é de que ele seja consumido de forma oral, com aplicação de gotas abaixo da língua. Segundo o portal, o produto usa uma combinação de ativos como ozônio, luteína, zeaxantina, zinco, retinol e astaxantina.

Segundo Jorge, a falta de informações claras torna difícil avaliar o risco do uso do produto, contudo, como é desconhecido e não foi avaliado pela Anvisa, de antemão o seu consumo não é recomendado.

"Além do produto não ser recomendado, há também o problema de tirar dinheiro da população de uma forma que caracteriza estelionato", alerta o especialista.

Vale dizer que o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) ressalta que a ozonioterapia, em geral, não deve ser usada no tratamento de doenças oculares. O órgão informa que não há evidências científicas sólidas que comprovem sua eficácia e segurança para esse fim.

As demais substâncias, segundo Raissa Moreira, presidente da Associação Maranhense de Oftalmologia (AMO), aparecem em abundância na retina, especialmente a luteína e zeaxantina. De fato, elas evitam que algumas doenças oculares progridam com rapidez, mas é preciso seguir a dosagem correta. "Além disso, não temos como certificar que essa 'medicação' contém essas substâncias, de fato", alerta a médica.

Orientações para o público

O CBO alerta para os perigos de promessas de cura, pois nem todos os problemas de visão são passíveis de reversão, embora a progressão possa ser controlada.

"Na nossa especialidade, são frequentes casos de doenças crônicas que não têm tratamento, como a degeneração macular relacionada à idade, a retinose pigmentar e o glaucoma. E os pacientes ficam aflitos em busca de uma cura que, infelizmente, não existe", diz Wilma Lelis, diretora do CBO, em alerta sobre a comercialização de produtos à base de ozônio.

Além disso, Rodrigo Jorge reforça a importância de desconfiar de produtos que alegam tratar diversas condições médicas ao mesmo tempo.

Ele também orienta que qualquer tratamento oftalmológico deve ser realizado por um oftalmologista, e que é importante pesquisar se o médico é registrado no Conselho Regional de Medicina de sua região.

"Cada condição ocular exige um tratamento específico. Antes de utilizar qualquer produto, especialmente os que prometem resultados milagrosos, procure um profissional médico qualificado e desconfie de informações que não sejam provenientes de fontes confiáveis", destaca o oftalmologista.

Outra recomendação é confirmar se um produto é aprovado pela Anvisa. Para descobrir, basta acessar o Sistema de Consultas do órgão. Na opção "Consulta Genérica" é possível inserir o nome do produto e fazer a verificação.

Estadão
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